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Artigos

 
  • A triste geração do nem-nem

    A notícia dos jornais é bastante auspiciosa: o Rio de Janeiro revitalizará a sua histórica indústria da construção naval.  Precisará de imediato de 25 mil novos profissionais para trabalhar na área, que tem enormes  encomendas inclusive da Petrobras.  A questão que se coloca é a formação desses recursos humanos em tempo hábil.                                      A crise econômica mundial, que criou problemas inclusive para os Estados Unidos, às voltas hoje com mais de 8 milhões de desempregados, atingiu em cheio a zona do euro.  São conhecidos os óbices vividos por países como a Grécia, Portugal, Espanha, Irlanda e Itália, com a dramática verificação de que os maiores prejudicados são os jovens em início de carreira. Os postos de trabalho rarefeitos provocam, como consequência, menor procura pela escola média, fenômeno que infelizmente se aproxima também do Brasil.                                       Na Europa fala-se na “geração ni-ni”, ou seja, “ni trabajo, ni estudio”. É uma situação que as autoridades consideram extremamente desconfortável. Aqui no Brasil surgiu a “geração nem-nem” (nem trabalho, nem estudo). De um total de 27 milhões de jovens de 18 a 25 anos de idade, temos 5,3 milhões (a maioria é de mulheres) que não estudam, não trabalham e desistiram de procurar emprego, condenados ao ócio extremamente perigoso, nessa faixa etária. É o vestibular para a delinquência ou a entrega ao uso de drogas, de presença nitidamente ampliada, na realidade brasileira, pressionada pelas facilidades fronteiriças (em especial com Bolívia e Peru), fornecedores de maconha, cocaína e crack em escala surpreendente.  Os dados são do Censo do IBGE de 2010, portanto bastante atualizados e sem que providências oficiais sejam tomadas para reverter o problema.                                   Este assunto tem sido debatido em reuniões sucessivas do Conselho Técnico da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC).  Sabe-se que a solução passa por uma educação profissional qualificada, como as escolas técnicas federais e o Sistema S são perfeitamente capazes de ministrar. A presidente Dilma Rousseff demonstra publicamente o desejo de que se dê adequada assistência técnica a esses jovens e relata experiências animadoras.                                       Mas nem sempre o cenário é positivo.  Quando se anuncia que vamos importar 30 técnicos de Portugal, para ajudar no desenvolvimento brasileiro, quem pode saudar a medida oficial? Ela é coerente com a importação de 300 especialistas chineses para trabalhar em siderurgia, como se não fôssemos capazes de prover o setor com os nossos jovens.  É preciso que haja um esforço de coerência nessas medidas, o que nos tem faltado de um modo geral.  Quando a Coréia, por exemplo, espantou o mundo com o seu crescimento, não foi graças à importação de jovens talentos estrangeiros.  Ao contrário, ainda mandou muitos dos seus rapazes e moças para estudar no exterior, com a garantia de, na volta,  ter  o emprego assegurado.

  • Manchete na história

    Adolpho Bloch era uma otimista noto. Vivia repetindo uma frase que se tornou célebre: “Nossa riqueza é o otimismo”. Foi um defensor entusiasmado da mudança da Capital para Brasília e foi esse fato que o ligou, como irmão, ao então presidente JK. Sofreu muito com a sua cassação e jamais abandonou essa amizade, como sou testemunha privilegiado. Sabendo das dificuldades financeiras do ex-presidente, incumbiu-me por duas vezes de  levar-lhe suprimentos financeiros (7 mil dólares por vez), para que pudesse ter vida tranquila em Nova Iorque e Paris. Essa demonstração de solidariedade sempre me emocionou. Relembro esses fatos em meio a tantos outros, no livro que será agora lançado.

  • Imprensa, poder e força

    "Nos meios jornalísticos é costume apontar a imprensa como um 'grande poder' dentro do Estado. É verdade que é imensa a sua importância atual. Dificilmente se pode avaliar todo o seu prestígio. Na realidade, a sua missão é de continuar a educação do povo até uma idade avançada.

  • Fantasias perigosas

    Se a nota dos partidos aliados do governo petista fosse para repudiar as acusações feitas ao ex-presidente Lula atribuídas pela revista Veja ao lobista Marcos Valério, estaria tudo certo, agiriam dentro do limite de suas responsabilidades e direitos.

  • Dilma e sua lealdade

    A presidente Dilma mais uma vez deixou de lado a liturgia do cargo para responder diretamente ao relator do mensalão, ministro do Supremo Tribunal Federal Joaquim Barbosa, que citou um depoimento seu ao tempo em que era ministra de Minas e Energia para confirmar sua tese de que houve compra de votos no mensalão.

  • Poluição visual

    É com respeito e admiração que ouso discordar, em parte, do texto de Paula Cesarino Costa publicado neste mesmo canto da página A2. Com bom estilo e excelente argumentação, ela aprova o projeto carioca do museu a céu aberto, bolação de nossas autoridades municipais para integrar obras de arte no dia a dia da cidade.

  • Paralimpíadas é a mãe

    Certamente eu descobriria no Google, mas me deu preguiça de pesquisar e, além disso, não tem importância saber quem inventou essa palavra grotesca, que agora a gente ouve nos noticiários de televisão e lê nos jornais. O surpreendente não é a invenção, pois sempre houve besteiras desse tipo, bastando lembrar os que se empenharam em não jogarmos futebol, mas ludopédio ou podobálio. O impressionante é a quase universalidade da adoção dessa palavra (ainda não vi se ela colou em Portugal, mas tenho dúvidas; os portugueses são bem mais ciosos de nossa língua do que nós), cujo uso parece ter sido objeto de um decreto imperial e faz pensar em por que não classificamos isso imediatamente como uma aberração deseducadora, desnecessária e inaceitável, além de subserviente a ditames saídos não se sabe de que cabeça desmiolada ou que interesse obscuro. Imagino que temos autonomia para isso e, se não temos, deveríamos ter, pois jornal, telejornal e radiojornal implicam deveres sérios em relação à língua. Sua escrita e sua fala são imitadas e tidas como padrão e essa responsabilidade não pode ser encarada de forma leviana.

  • Eleições e cansaço político

    Russomano volta aos 35% das opções de voto, em São Paulo, apesar das limitações de seu tempo em televisão, frente aos demais competidores. Depara-se, aí, um alarmante cansaço eleitoral na cidade-ponta do país. Nem projeto especial, nem impacto concreto de um programa, por parte do candidato do PRB. E Russomano desponta, inclusive, para além da militância eleitoral de todos os pentecostalismo reunidos. Haveria de falar numa esperança bruta do novo, atentando-se ao pequeno percentual dos que não pretendem ir às urnas.

  • O voto e o fato

    O ministro revisor do processo do mensalão no Supremo Tribunal Federal, Ricardo Lewandowski, já condenou vários políticos, de diferentes legendas partidárias, por crime de corrupção passiva, o que pressupõe que ele tenha um culpado, ou culpados, do crime de corrupção ativa que será julgado em seguida, pegando o núcleo político do caso, composto pelo ex-ministro José Dirceu, o ex-presidente do PT José Genoino e o ex-tesoureiro petista Delúbio Soares.

  • Dilma e a ética pública

    A manobra da presidente Dilma para esvaziar a Comissão de Ética Pública, que acabou gerando a demissão de seu presidente, o ex-ministro do Supremo Tribunal Federal Sepúlveda Pertence, mostra bem sua maneira de agir quando desagradada.

  • À flor da pele

    À medida que vai chegando o momento de julgar o núcleo político petista do mensalão ex-ministro José Dirceu; ex-presidente do PT José Genoino e ex-tesoureiro Delúbio Soares os ânimos vão ficando exaltados no plenário do Supremo Tribunal Federal, como vimos ontem em mais um, e talvez o mais acalorado, bate-boca entre os ministros Joaquim Barbosa e Ricardo Lewandowski, respectivamente relator e revisor do processo em julgamento. Os dois encarnam maneiras diferentes de encarar os fatos narrados nos autos e Barbosa se considera o responsável maior pelo encaminhamento do julgamento, legando a Lewandowski um lugar secundário. Ontem por exemplo, Joaquim Barbosa deixou escapar esse sentimento ao afirmar que é “absolutamente heterodoxo que um ministro meça o voto de um relator para fazer o voto do mesmo tamanho”. De gênio irascível, Joaquim Barbosa considera ataque pessoal as discordâncias do revisor, como no caso de Emerson Palmieri, dirigente do PTB, que ele condenara por corrupção passiva e lavagem de dinheiro e Lewandowski absolveu: “Mas os autos dizem taxativamente que ele recebia o dinheiro. Está na lista feita por Marcos Valério e confirmada por Delúbio Soares e isso vai de encontro ao que eu disse no meu voto”, revoltou-se Joaquim Barbosa diante das incertezas do revisor. E acrescentou, passando do razoável: “Não podemos fazer vista grossa ao que está nos autos”. O ministro Marco Aurélio de Mello, chamou a atenção de Barbosa em vários momentos da sessão de ontem, pedindo que ele medisse as palavras. O fato é que o ministro relator Joaquim Barbosa, por mais que pressinta nas intervenções de Lewandowski intenções ocultas, não deveria perder o controle, pois somente ajuda a quem quer prolongar o julgamento, e cria um ambiente de hostilidade contra si. Mesmo que esteja convencido de que os crimes aconteceram, tem que aprender a conviver com as posições contrárias, por mais sem sentido que lhe pareçam, ou mesmo mal-intencionadas. Houve um momento em que ele deixou bastante clara essa sua desconfiança quando disse: “Não podemos admitir hipocrisia”. Quando Ricardo Lewandowski diz, com a voz mais serena do mundo, que sua “análise vertical” dos autos lhe dá razão, ou “já demonstrei o cuidado que tive na leitura desses autos”, o ministro Joaquim Barbosa vai à loucura, sentindo-se objeto de críticas do colega, que sempre nega essa intenção, com a expressão de quem está consternado com a situação criada pelo colega. Ontem mesmo disse que não sabia se conseguiria continuar lendo seu voto, tal o constrangimento que sentia. Por mais que tenha razão em discordar do ministro revisor, Barbosa não tem o direito de se irritar com posições divergentes, nem do revisor nem de outros ministros. Se não conseguir convencer seus pares, seja por que motivo for, não há nada a fazer a não ser aceitar a decisão da maioria do Supremo. No caso da viagem a Portugal de Marcos Valério, Rogério Tolentino e Emerson Palmieri, para uma reunião com o presidente da Portugal Telecom, o relator Joaquim Barbosa tem toda razão em chamar a atenção para a estranha excursão, a mando do ex-ministro José Dirceu. O ministro Ricardo Lewandowski procurou desqualificar a importância de Palmieri no PTB e da própria viagem, o que, mais adiante, terá consequências em seu voto sobre a atuação do próprio Dirceu. As informações que constam dos autos são no sentido de que a viagem tinha como objetivo levantar dinheiro para o PTB a partir de negócios de Marcos Valério com a Portugal Telecom e a Telemig, mas Lewandowski tratou-a como sendo do interesse particular de Marcos Valério, para manter os contratos de publicidade que tinha com a Telemig. Se fosse assim, por que um político do PTB faria parte do grupo e os três viajaram para Portugal “um juntinho do outro” como lembrou o presidente Ayres Britto, numa demonstração de que as passagens foram compradas juntas, pela mesma pessoa?

  • Pontos divergentes

    Lavagem de dinheiro e formação de quadrilha são os dois pontos que dominaram a atenção dos juízes do Supremo Tribunal Federal neste 29 dia de julgamento do processo do mensalão, pontos que podem ser decisivos na definição final sobre o núcleo político petista, acusado de comandar o esquema criminoso, especialmente o ex-ministro José Dirceu, definido como o “chefe da quadrilha” pelo Ministério Público.

  • O Supremo e a veemência acusatória

    A dimensão pública do julgamento do mensalão levou à emergência de desempenhos inéditos de seus atores na Corte Suprema, como, por exemplo, a da possessão dos roles pelos seus protagonistas. Não é outro, a cada dia, o do perfil espetacular, assumido pelo ministro Joaquim Barbosa, na grande e melhor veemência acusatória, assentada na forra nacional contra a nossa sempiterna corrupção. Há que reconhecer a amplitude do desafogo, no reconhecimento, de vez, para valer, da lei. Vira-se a página do velho conformismo, e da visão quase cínica da inviabilidade dos processos contra os poderosos. Mas talvez seja por esse sentimento de purga nacional que o inquisitorialismo pode transbordar na sua mobilização crescente.  E o limite se rompe, exatamente, quando a acusação passa das certezas das provas à presunção das suas sequências. Transpõe-se aí toda a discussão dos entendimentos do que seja a concretude dos fatos para a avaliação dos seus indícios, como tem ilustrado o enorme debate do Supremo. Deparamos o alargamento de convicções. De par com a procura de seu freio, no que devemos ao ministro Lewandowski. O perigo está na passagem à suposição, já, absolutamente abstrata, movida pelo impulso acusatório. Não é outra a alegação, pelo ministro-relator, da permanência da prática do mensalão, em sua inércia presumida pela rapidez da aprovação das medidas do Congresso, em 2009, de disciplina emergencial do setor da eletricidade, então sob o ministério Dilma, de Minas e Energia.