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Artigos

 
  • O tigre e a jaula

    Dois anos depois da eclosão da Primavera Árabe, o caminho para a democracia na região continua difícil e imprevisível e está longe de estar garantido, concluiu o âncora da BBC Nik Gowing depois de uma mesa redonda em Davos sobre o atual estágio do desenvolvimento da democracia nos países árabes afetados pelos processos revolucionários que derrubaram ditadores na Libia, na Tunisia, no Egito, no Iemem, países hoje governados por líderes escolhidos em eleições democráticas impensáveis anos atrás.

  • Os riscos do relaxamento

    As vantagens de curto prazo da política de flexibilização monetária (quantitative easing) adotada em praticamente todo o mundo para enfrentar a crise econômica de 2009 superam os riscos de longo prazo? Num painel do Fórum Econômico Mundial em Davos de que participaram economistas como Nouriel Roubini, professor de economia e negócios internacionais; Stanley Fischer, presidente do Banco Central de Israel; Victor Halberstadt, Professor da Leiden University da Holanda, Leonard N. Stern da Business School da Universidade de Nova York, e Davide Serra, fundador e sócio-gerente da Algebris Investments do Reino Unido e Adam S. Posen, presidente do Peterson Institute para Economia Internacional, dos Estados Unidos, discutiu-se o tema, muito importante para o mundo e, especificamente, para o Brasil.

  • A perda de um irmão

    O domingo cinzento era um dia triste.  O cenário do cemitério israelita de Butantan, em São Paulo, mesmo que muito bem tratado, era mais triste ainda.  Quem pode se conformar com a perda de um irmão, mesmo que seja o mais velho, e que tenha tido uma longa e proveitosa existência de 88 anos?                                         Era o enterro do Sylvio, que se notabilizou  em São Paulo por duas atividades essenciais: engenheiro de méritos indiscutíveis e professor brilhante com destaque para os 25 anos de atividades  na Universidade Mackenzie, onde se formou  em engenharia na década de 40.                                   Na cerimônia  religiosa, ao lado  esposa Judith (quase 60 anos de bodas felizes), das filhas  Eliane e Sheila, além de netos e amigos, Sylvio foi homenageado por um dos rabinos presentes. Ao falar das suas virtudes, fez questão de ressaltar especialmente a retidão de caráter.  Nada mais importante para quem amou a sua condição de mestre, que foi também no Instituto Mauá de Tecnologia, na FAAP e na Politécnica. Era um sábio.                                Com uma particularidade sobre a qual ouvi elogios intensos, em outros tempos, da professora Esther Figueiredo Ferraz, sua amiga, e que foi reitora do Mackenzie e primeira mulher a ser ministra da educação do Brasil: “É incrível a paixão do Sylvio pela geometria descritiva.  Há uma corrente achando que os futuros arquitetos e engenheiros não precisam mais dessa matéria, mas ele defende com unhas e dentes a sua utilização – e eu fico impressionada com os seus argumentos.”                                Sylvio foi muito querido e respeitado pelos seus milhares de alunos.  Suas filha  Eliane e Sheila têm uma explicação: “Além de conhecer profundamente a matéria, foi dono de um bom-humor permanente.  As aulas eram muito agradáveis.”                            Quando ainda no Rio, com toda a família, foi aluno do Colégio Independência, na rua Barão do Bom Retiro, sempre primeiro da turma.  Uma das características marcantes da sua personalidade foi o profundo amor pelos livros.  Era um leitor apaixonado, com  especial predileção pela filosofia da matemática.  A família, que viveu em São Paulo entre 1944 e 1946, voltou para o Rio, mas ele não conseguiu transferência para a Escola Nacional de Engenharia.  Vindo de uma faculdade particular (Mackenzie) era praticamente impossível obter uma vaga na ENE, embora tivesse notas excepcionais.  Éramos desprovidos de pistolões.                             Sylvio nunca perdeu o espírito carioca.  Vinha passar as férias no Rio e escolhia especialmente a época de Carnaval, que adorava.  Morávamos na Tijuca.  Uma das suas grandes alegrias era vestir-se de “sujo”, solitariamente, sair de casa todo disfarçado, pegar o bonde Tijuca (66) e dar uma volta  pela cidade, muitas vezes no estribo, se deliciando com a reação das pessoas.  Depois de casado com a sua amada Judith, procurou novamente a praia e fez de Peruíbe o seu paraíso, para onde  ia nos finais de semana, pouco se importando  com as horas perdidas na  estrada sempre cheia.  Os dias e as horas vividos na cidade paulista  de Peruíbe (onde fez algumas construções) valiam a pena.  Este é o  bom Sylvio que perdemos.  Jamais será esquecido.

  • Sem argumentos

    O melhor argumento do senador Renan Calheiros para o retorno à presidência do Senado, sete anos depois do escândalo que o apeou do mesmo cargo, era que já havia sido absolvido pelo Conselho de Ética e que nenhuma denúncia da época havia prosperado, por falta de base. Era inocente, portanto, e tinha o caminho livre para reassumir o cargo que lhe fora tirado indevidamente.

  • Apesar de tudo

    Como a vitória do senador Renan Calheiros era tida como inevitável, o importante é entender por que uma candidatura tão polêmica, para dizer o mínimo, que pode levar o Congresso a um enfrentamento com o Supremo Tribunal Federal, teve passagem tão fácil entre seus pares. A primeira constatação é que a oposição ao que ele representa ficou abaixo do prometido aos organizadores da anticandidatura do senador Pedro Taques, do PDT.

  • O terrorismo vai à guerra

    A XXVI Conferência da Academia da Latinidade, em Paris, deu especial atenção à nova e inesperada revivescência do terrorismo islâmico. Não foi outra a surpresa dos acontecimentos do norte do Mali e da Argélia, tendo forçado a intervenção militar e peremptória do governo francês, agora seguida de vacilantes, ainda, concursos das Forças Armadas de vários países europeus. Tal como avançou na conferência o professor Al-Salimi, de Oman, o que está em causa não é a mera ocupação do vácuo de Bin Laden, mas a emergência de uma nova geração do confronto islâmico. É a liderança, já, de Mokhtar Belmokhtar, amadurecido em conflitos pontuais no Afeganistão, que vem ao comando do que parecia uma provocação terrorista, rapidamente erradicada. O que se vê é um choque frontal no terreno com forças armadas rebeldes, e treinadas, a assentar-se num território e não mais a buscar apenas o atentado pontual, típico dos homens-bomba.

  • Um doze avos

    Em números redondos, já atravessamos um doze avos do ano que será o laboratório para a próxima sucessão presidencial. A classe política, com seus anexos na economia e nas instituições que dependem do poder, já está mergulhada na composição de um quadro do qual emergirão os candidatos que potencialmente disputarão o topo da pirâmide nacional.

  • Política estéril

    A vitória consumada do senador Renan Calheiros no Senado, e a provável do deputado federal Henrique Alves na Câmara amanhã, parecem dar razão aos defensores do pragmatismo político que faz com que partidos tão heterogêneos    ( serão mesmo ?) formem juntos na mesma coalizão governamental, ou, mais ainda, que senadores do PSDB acabem votando em Renan Calheiros aproveitando-se do segredo do voto, para garantir ao partido um lugar na Mesa Diretora.

  • Fato consumado

    Os especialistas dizem que em política só existem dois fatos a levar em conta: o fato novo e o fato consumado. Consumada a eleição dos dois candidatos oficiais à presidência da Câmara e do Senado, resta agora acompanhar os fatos políticos que decorrerão dessa tomada do Poder Legislativo pelo PMDB. Nas duas vezes em que isso aconteceu, fatos importantes marcaram a História do país.

  • Joel Silveira

    Emocionante o documentário de Geneton Moraes Neto exibido pelo canal Globo News no último sábado, sobre Joel Silveira, apresentado como o "maior repórter brasileiro". Pessoalmente, duvido sempre de expressões como "o maior" isso ou aquilo. O próprio Joel considerava João do Rio como o maior repórter, e eu sempre discordei dessa escolha. Conheço uns cinco que foram melhores do que ele, o Joel inclusive.

  • Bravatas perigosas

    O novo comando do PMDB no Congresso joga muito mais para o público interno do que para a opinião pública, e é essa a sua força política. Nos próximos dois anos, terá papel fundamental na facilitação, ou não, do governo Dilma, sendo ator importante na corrida presidencial de 2014. Da relação com o Executivo nascerá um PMDB influente e capaz de se impor na aliança governamental ou uma dissidência política que pode definir o rumo das futuras candidaturas.

  • Bravatas perigosas

    O novo comando do PMDB no Congresso joga muito mais para o público interno do que para a opinião pública, e é essa a sua força política. Nos próximos dois anos, terá papel fundamental na facilitação, ou não, do governo Dilma, sendo ator importante na corrida presidencial de 2014. Da relação com o Executivo nascerá um PMDB influente e capaz de se impor na aliança governamental ou uma dissidência política que pode definir o rumo das futuras candidaturas.

  • A conta de cada um

    Cada um faz a conta que quer. O PMDB contabiliza como vitória a candidatura do deputado federal Júlio Delgado, do PSB, não ter levado a disputa pela presidência da Câmara para o segundo turno, embora Henrique Alves tenha, por causa dela, recebido menos votos do que esperava. Um bom número de votos ao candidato do PSB teria sido dado pelo PT, para enfraquecer o PMDB. A eleição de Alves teria sido, sobretudo, a demonstração de que o PT na Câmara não tem força para se contrapor ao PMDB.

  • Adeus, Frei Caneca 511

    Doze segundos.  Não demorou mais do que isso, no dia 10 de novembro de 2012, a implosão do edifício de sete andares em que funcionou o complexo Bloch de empresas gráficas e jornalísticas.  Triste fim de  um incrível império montado especialmente pela competência e intuição do brasileiro nascido na Ucrânia, Adolpho Bloch.                                             Naquele local exerci atividades durante cerca de 15  anos, antes de ir para o monumental prédio da rua do Russell (projeto de Oscar Niemeyer).  Tenho muitas lembranças desse período, a começar pela redação improvisada da Manchete Esportiva, quando trabalhei com a família Rodrigues (Augusto, Paulo e Nelson).  Depois, os dois anos de direção da revista Sétimo Céu, quando criei as primeiras fotonovelas brasileiras e elevei a circulação para perto de 200 mil exemplares.                                             O prédio, que agora virou sete toneladas de entulhos, traz gratas recordações.  Como a entrevista que fiz com o então jovem compositor Tom Jobim, numa sala apertada do segundo  andar.  Houve também as visitas recebidas no sétimo andar, onde os almoços ficaram famosos, a ponto de a empresa passar a ser conhecida como “um grande restaurante que editava revistas.”                                             Para se chegar ao andar das redações ou mesmo ao restaurante, era preciso passar por um amplo galpão em que ficavam as modernas máquinas de offset e a  rotativa Webendorf, que rodava as revistas coloridas, uma novidade para a época.  O primeiro impacto do visitante era com as offsets alemãs, que imprimiam de duas em duas cores, embalagens como as da gillette e as da cachaça praianinha.  Surgia sempre o comentário infalível:  “Como se bebe nessa terra”, pois as tiragens em geral eram de 20 milhões de unidades.                                            Quando chegamos para trabalhar naquelas instalações, no ano de 1955, havia uma inscrição no alto do prédio: “B.Bloch & Irmãos”.  Durou assim muito tempo.  Um dia, numa viagem feita a Buenos Aires, com Albert Sabin,  perguntei ao Adolpho o que isso significava.  Ele desfiou uma enorme mágoa que guardava dos irmãos mais velhos, Bóris e Arnaldo:  “Fizemos a firma, mas eles não confiavam em mim.  Diziam que eu era viciado em cassinos.  Não colocaram o meu nome.  Hoje, mandei trocar tudo porque só Deus sabe o duro que dei para transformar  aquilo numa grande empresa.”  Disse isso, num restaurante de Buenos Aires, com lágrimas que  teimavam em cair dos seus olhos azuis.                                             No Rio, havia o convencimento de que Adolpho era um mago.  Ele fazia o controle de qualidade dos seus produtos pessoalmente.  Puxava uma folha impressa, ao acaso, e descobria defeitos de impressão inadmissíveis.  Dava broncas colossais nos operários, que conheciam a frase do velho, sempre repetida: “Com a qualidade gráfica não se brinca.”                                              Foi lá que nasceu a revista Manchete, em 1952, sob a direção do cronista Henrique Pongetti, sucedido respectivamente por Hélio Fernandes, Otto Lara Rezende, Nahum Sirotsky e Justino Martins.  Até que veio a transferência para o Russell, em 1970, quando então a empresa conheceu os seus dias mais gloriosos.  Frei Caneca nº 511 foi um marco.

  • Os voos de Ari Vidal

    Foi um desses convívios inesquecíveis.  Éramos jovens, pouco mais de 10 anos de idade,  e nossas famílias tiveram a mesma ideia de nos matricular no ginásio do Colégio Vera Cruz, na rua Hadock Lobo, na Tijuca.  Frequentamos as mesmas turmas, a partir da primeira série, e a lembrança dos professores por vezes nos unia, em papos agradáveis.  Lembra do Afro? E do dr. Oswaldo?  (ríamos porque ele era médico e dava excelentes aulas de matemática).  E a d. Maria da Conceição, que lecionava desenho e chamávamos de dona Teteca? Bons tempos, bons tempos.                                               A escola tinha um enorme campo de futebol.  Nossas aulas de educação física eram animadíssimas peladas, apitadas pelo prof. Adair.  Eu jogava no meio do campo, com um fôlego elogiável, e o Ari Ventura Vidal agarrava no gol, alto que era, com uma competência extraordinária para a sua idade.  Tinha  muita elasticidade e seus voos em busca da bola se tornaram célebres.  Acabou ganhando o apelido de “Ari Borboleta”.                                              Anos depois, encontramo-nos novamente, no campeonato carioca de basquetebol (categoria juvenil).  Ele atuando pelo Tijuca T.C., eu defendendo as cores do América F.C.  Houve um fato histórico: o AFC, arrancando recursos não se sabe de onde, resolveu construir o seu ginásio, no espaço paralelo à rua Gonçalves Crespo.  Era o fim da quadra de saibro que dava para a famosa barreira de Campos Sales.  Jogo de estreia: América x Tijuca.  Lá estavam os dois colegas e amigos, um de cada lado.  Lembro que o primeiro arremesso da partia foi feito pelo Ari.  A bola bateu no aro e voltou para as minhas mãos.  Corri para o garrafão adversário e, pressentindo a brecha, entrei por ali e arremessei.  A  bola  bateu na tabela, quicou no  aro, e sobrou para o altão Arnolfo Pimenta de Melo (de uma família de atletas) e ele, com um leve toque, inaugurou o marcador do novo ginásio.  Eu e o Ari, depois comentando, revelamos a nossa frustração pelas chances perdidas.                                            A vida seguiu para cada um de nós e ele se tornou um belíssimo treinador de basquetebol.  Foi medalha de bronze no Mundial de Manila, em 1978, e conquistou o título do Pan, em 1987.  Numa decisão épica, o Brasil venceu os Estados Unidos, em seu território, por 120 a 115, com atuações espetaculares de Marcel e Oscar, que se tornaram, graças à inteligente estratégia de Ari, os reis do garrafão.                                            O meu amigo foi técnico do Tijuca, Flamengo, Vasco, Fluminense, Minas e Cortinthians de Santa Cruz do Sul(RS), pelo qual foi campeão brasileiro de 1994.  Comandou a seleção masculina brasileira em 16 competições, sempre com muita argúcia, duas delas nas olimpíadas de Seul-1988 (5º lugar) e Atlanta 1996 (6º. Lugar).  Também dirigiu a seleção brasileira feminina em 11 partidas, vitorioso em 8 delas.  Com ele, nossos times se tornaram mais agressivos, arriscando  mais as cestas de três pontos.  Teve  no treinador Kanela o seu modelo de técnico.  Tentou fazer um timaço no América, mas não lhe foi dada a devida cobertura.  Morreu aos 77 anos de idade, bem antes do tempo, mas com uma carreira brilhante de jogador e técnico.  Deixa saudade.