O pessoal mais antigo da ilha tem muita saudade das eleições nos velhos tempos. Uns se queixam da avacalhação, porque outrora era uma coisa solene e séria, os homens de bem envergavam paletó e gravata, faziam a barba, botavam água de cheiro atrás das orelhas, no sovaco e no lenço, metiam no bolso a caneta Parker usada somente nas grandes assinaturas e se apresentavam decentemente para o cumprimento do sagrado dever. Outros reclamam da falta de graça de não ter mais de ficar escondido por trás de uma cortina, escolhendo cédulas e enchendo envelopes, ou marcando cruzinhas na chapa. E, além disso, eram tempos fartos, o eleitor se dava melhor. Há quem se recorde saudoso da ocasião em que um certo coronel, além dos benefícios que fazia a todos os correligionários, deu um queijo de cuia a cada eleitor - isto mesmo, um queijo de cuia inteiro, ainda dentro da cuia - era acabar de votar e retirar o queijo. Hoje não há mais disso, já se perdeu essa grandeza, eles só querem continuar mamando e não dão nada a ninguém.