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Artigos

 
  • Paralimpíadas é a mãe

    Certamente eu descobriria no Google, mas me deu preguiça de pesquisar e, além disso, não tem importância saber quem inventou essa palavra grotesca, que agora a gente ouve nos noticiários de televisão e lê nos jornais. O surpreendente não é a invenção, pois sempre houve besteiras desse tipo, bastando lembrar os que se empenharam em não jogarmos futebol, mas ludopédio ou podobálio. O impressionante é a quase universalidade da adoção dessa palavra (ainda não vi se ela colou em Portugal, mas tenho dúvidas; os portugueses são bem mais ciosos de nossa língua do que nós), cujo uso parece ter sido objeto de um decreto imperial e faz pensar em por que não classificamos isso imediatamente como uma aberração deseducadora, desnecessária e inaceitável, além de subserviente a ditames saídos não se sabe de que cabeça desmiolada ou que interesse obscuro. Imagino que temos autonomia para isso e, se não temos, deveríamos ter, pois jornal, telejornal e radiojornal implicam deveres sérios em relação à língua. Sua escrita e sua fala são imitadas e tidas como padrão e essa responsabilidade não pode ser encarada de forma leviana.

  • Eleições e cansaço político

    Russomano volta aos 35% das opções de voto, em São Paulo, apesar das limitações de seu tempo em televisão, frente aos demais competidores. Depara-se, aí, um alarmante cansaço eleitoral na cidade-ponta do país. Nem projeto especial, nem impacto concreto de um programa, por parte do candidato do PRB. E Russomano desponta, inclusive, para além da militância eleitoral de todos os pentecostalismo reunidos. Haveria de falar numa esperança bruta do novo, atentando-se ao pequeno percentual dos que não pretendem ir às urnas.

  • O voto e o fato

    O ministro revisor do processo do mensalão no Supremo Tribunal Federal, Ricardo Lewandowski, já condenou vários políticos, de diferentes legendas partidárias, por crime de corrupção passiva, o que pressupõe que ele tenha um culpado, ou culpados, do crime de corrupção ativa que será julgado em seguida, pegando o núcleo político do caso, composto pelo ex-ministro José Dirceu, o ex-presidente do PT José Genoino e o ex-tesoureiro petista Delúbio Soares.

  • Dilma e a ética pública

    A manobra da presidente Dilma para esvaziar a Comissão de Ética Pública, que acabou gerando a demissão de seu presidente, o ex-ministro do Supremo Tribunal Federal Sepúlveda Pertence, mostra bem sua maneira de agir quando desagradada.

  • À flor da pele

    À medida que vai chegando o momento de julgar o núcleo político petista do mensalão ex-ministro José Dirceu; ex-presidente do PT José Genoino e ex-tesoureiro Delúbio Soares os ânimos vão ficando exaltados no plenário do Supremo Tribunal Federal, como vimos ontem em mais um, e talvez o mais acalorado, bate-boca entre os ministros Joaquim Barbosa e Ricardo Lewandowski, respectivamente relator e revisor do processo em julgamento. Os dois encarnam maneiras diferentes de encarar os fatos narrados nos autos e Barbosa se considera o responsável maior pelo encaminhamento do julgamento, legando a Lewandowski um lugar secundário. Ontem por exemplo, Joaquim Barbosa deixou escapar esse sentimento ao afirmar que é “absolutamente heterodoxo que um ministro meça o voto de um relator para fazer o voto do mesmo tamanho”. De gênio irascível, Joaquim Barbosa considera ataque pessoal as discordâncias do revisor, como no caso de Emerson Palmieri, dirigente do PTB, que ele condenara por corrupção passiva e lavagem de dinheiro e Lewandowski absolveu: “Mas os autos dizem taxativamente que ele recebia o dinheiro. Está na lista feita por Marcos Valério e confirmada por Delúbio Soares e isso vai de encontro ao que eu disse no meu voto”, revoltou-se Joaquim Barbosa diante das incertezas do revisor. E acrescentou, passando do razoável: “Não podemos fazer vista grossa ao que está nos autos”. O ministro Marco Aurélio de Mello, chamou a atenção de Barbosa em vários momentos da sessão de ontem, pedindo que ele medisse as palavras. O fato é que o ministro relator Joaquim Barbosa, por mais que pressinta nas intervenções de Lewandowski intenções ocultas, não deveria perder o controle, pois somente ajuda a quem quer prolongar o julgamento, e cria um ambiente de hostilidade contra si. Mesmo que esteja convencido de que os crimes aconteceram, tem que aprender a conviver com as posições contrárias, por mais sem sentido que lhe pareçam, ou mesmo mal-intencionadas. Houve um momento em que ele deixou bastante clara essa sua desconfiança quando disse: “Não podemos admitir hipocrisia”. Quando Ricardo Lewandowski diz, com a voz mais serena do mundo, que sua “análise vertical” dos autos lhe dá razão, ou “já demonstrei o cuidado que tive na leitura desses autos”, o ministro Joaquim Barbosa vai à loucura, sentindo-se objeto de críticas do colega, que sempre nega essa intenção, com a expressão de quem está consternado com a situação criada pelo colega. Ontem mesmo disse que não sabia se conseguiria continuar lendo seu voto, tal o constrangimento que sentia. Por mais que tenha razão em discordar do ministro revisor, Barbosa não tem o direito de se irritar com posições divergentes, nem do revisor nem de outros ministros. Se não conseguir convencer seus pares, seja por que motivo for, não há nada a fazer a não ser aceitar a decisão da maioria do Supremo. No caso da viagem a Portugal de Marcos Valério, Rogério Tolentino e Emerson Palmieri, para uma reunião com o presidente da Portugal Telecom, o relator Joaquim Barbosa tem toda razão em chamar a atenção para a estranha excursão, a mando do ex-ministro José Dirceu. O ministro Ricardo Lewandowski procurou desqualificar a importância de Palmieri no PTB e da própria viagem, o que, mais adiante, terá consequências em seu voto sobre a atuação do próprio Dirceu. As informações que constam dos autos são no sentido de que a viagem tinha como objetivo levantar dinheiro para o PTB a partir de negócios de Marcos Valério com a Portugal Telecom e a Telemig, mas Lewandowski tratou-a como sendo do interesse particular de Marcos Valério, para manter os contratos de publicidade que tinha com a Telemig. Se fosse assim, por que um político do PTB faria parte do grupo e os três viajaram para Portugal “um juntinho do outro” como lembrou o presidente Ayres Britto, numa demonstração de que as passagens foram compradas juntas, pela mesma pessoa?

  • Pontos divergentes

    Lavagem de dinheiro e formação de quadrilha são os dois pontos que dominaram a atenção dos juízes do Supremo Tribunal Federal neste 29 dia de julgamento do processo do mensalão, pontos que podem ser decisivos na definição final sobre o núcleo político petista, acusado de comandar o esquema criminoso, especialmente o ex-ministro José Dirceu, definido como o “chefe da quadrilha” pelo Ministério Público.

  • O Supremo e a veemência acusatória

    A dimensão pública do julgamento do mensalão levou à emergência de desempenhos inéditos de seus atores na Corte Suprema, como, por exemplo, a da possessão dos roles pelos seus protagonistas. Não é outro, a cada dia, o do perfil espetacular, assumido pelo ministro Joaquim Barbosa, na grande e melhor veemência acusatória, assentada na forra nacional contra a nossa sempiterna corrupção. Há que reconhecer a amplitude do desafogo, no reconhecimento, de vez, para valer, da lei. Vira-se a página do velho conformismo, e da visão quase cínica da inviabilidade dos processos contra os poderosos. Mas talvez seja por esse sentimento de purga nacional que o inquisitorialismo pode transbordar na sua mobilização crescente.  E o limite se rompe, exatamente, quando a acusação passa das certezas das provas à presunção das suas sequências. Transpõe-se aí toda a discussão dos entendimentos do que seja a concretude dos fatos para a avaliação dos seus indícios, como tem ilustrado o enorme debate do Supremo. Deparamos o alargamento de convicções. De par com a procura de seu freio, no que devemos ao ministro Lewandowski. O perigo está na passagem à suposição, já, absolutamente abstrata, movida pelo impulso acusatório. Não é outra a alegação, pelo ministro-relator, da permanência da prática do mensalão, em sua inércia presumida pela rapidez da aprovação das medidas do Congresso, em 2009, de disciplina emergencial do setor da eletricidade, então sob o ministério Dilma, de Minas e Energia.

  • Jorge Amado volta a Ilhéus

    Ao jantar no bar Vesúvio, em Ilhéus, é possível encontrar a escultura de Jorge Amado, como se fosse ele próprio, sentado numa das mesas daquele lugar consagrado na obra do escritor baiano. De sandálias e tudo. Ninguém resiste a cumprimentar o autor de Gabriela, como se ele pudesse responder ao agrado. É muito forte a sua presença na capital do cacau, onde residiu, depois de nascido em Itabuna.

  • Oportunidade perdida

    A “maldição do petróleo”, fenômeno registrado nas principais economias produtoras do mundo, já está presente nas cidades brasileiras mais beneficiadas pelos royalties e pelas participações especiais. A Macroplan, empresa de consultoria especializada em estratégia e cenários de longo prazo, concluiu uma pesquisa focada na qualidade da gestão das 25 cidades que recebem 70% daqueles recursos.

  • Astros e ostras

    Retorno a um assunto que abordei recentemente: a necessidade de um aprimoramento da democracia representativa. Agora mesmo, uma pesquisa feita no Ceará e publicada num jornal de Fortaleza revela que mais de 70% dos eleitores já foram abordados por candidatos e seus cabos eleitorais que ofereceram dinheiro em troca de votos. Desse total, uma porcentagem significativa topou a oferta.

  • A hora da saidera

    Na semana passada, li um artigo do professor Marco Antonio Villa, que não conheço pessoalmente, mostrando, em última análise, como a era Lula está passando, ou até já passou quase inteiramente, o que talvez venha a ser sublinhado pelos resultados das eleições. Achei-o muito oportuno e necessário, porque mostra algo que muita gente, inclusive os políticos não comprometidos diretamente com o ex-presidente, já está observando há algum tempo, mas ainda não juntou todos os indícios, nem traçou o panorama completo.

  • O pós-mensalão

    Os ministros do Supremo estão imbuídos do compromisso de aperfeiçoar os costumes eleitorais brasileiros, e tem que ser entendido nesse contexto a dureza com que estão analisando o processo do mensalão. Já o Procurador-Geral da República, Roberto Gurgel, ao definir o caso como um atentado à democracia brasileira, havia tratado do tema nessa perspectiva institucional, e por isso ele classificou de “quadrilha” a associação de políticos e empresários para a compra de apoio no Congresso. Ao decidir por tal ação, o comando político do PT optou por desqualificar as negociações partidárias, retirando-as do plano programático para o meramente fisiológico.

  • Linguagem popular, sim ou não

    No debate em torno de uma conferência, na “Semana de Arte” promovida pela Secretaria de Estado de Educação do Rio de Janeiro, no píer Mauá, um aluno do interior perguntou se deveríamos condenar a linguagem popular, “pois esse pessoal fala de forma inadequada”.                                Primeiro, tivemos que esclarecer a diferença entre linguagem popular e regionalismos.  Os termos utilizados por escritores como Guimarães Rosa, Rachel de Queiroz, José Cândido de Carvalho, João Ubaldo Ribeiro, Jorge Amado e Dias Gomes, para só ficar nesses exemplos, são típicos da cultura local, que deve sempre ser respeitada.  As expressões, apesar de inovadoras, podem vir a figurar em dicionários e vocabulários de transmissão da norma culta ou padrão, sem nenhuma dificuldade.  Os regionalismos são sempre aceitos.                                 Em segundo lugar, temos a questão controvertida da chamada linguagem popular.  O filólogo Antonio Houaiss chegou a popularizar o verbete “mengo”, diminutivo do clube mais popular do Brasil.  Mas ele jamais aceitaria adotar a palavra “pobrema” ou “areoporto” e dar-lhes o status de uma expressão legítima do português contemporâneo.

  • Visão republicana

    O 30º dia do julgamento do mensalão pelo Supremo Tribunal Federal trouxe duas definições fundamentais para o aperfeiçoamento da democracia brasileira: a maioria do plenário formalizou o entendimento de que houve compra de apoio político no Congresso por parte do Executivo, e o ministro Celso de Mello denunciou que essa prática, inaceitável, coloca em risco o equilíbrio entre os Poderes da República.