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Artigos

 
  • O que fazer com a revolução

    Quatro de novembro de 1930 - O Brasil ganhara um novo governo, fruto de um movimento revolucionário não definido, mas atuante. As diferentes facções que chegaram ao poder ameaçavam engolfar o país numa anarquia institucionalizada, apesar de existir um chefe ostensivo, dono até de um poder que, no papel, era soberano.

  • Respeitar as diferenças

    O sucesso no Brasil para alguns é motivo de raiva e cria desafetos. Alguém disse isso antes de mim, acho que foi o maestro Antônio Carlos Jobim. Não importa, é o que sucede.

  • Presença e ausências em dicionários da língua (I)

    Um idioma a serviço da comunicação de um grupo social está em perpétua criação e perda de palavras. As criações surgem pelo progresso cultural e tecnológico do grupo que as emprega, quer aproveitando as unidades linguísticas da prata da casa, isto é, do seu próprio estoque de palavras, ou vindas de outros países. Estas últimas chamam-se 'empréstimos'.

  • O culpado é ele mesmo

    Relutei em tocar nesse assunto, não só porque já se escreveu muito sobre ele, como porque, ao abordá-lo, passo a integrar a “glória” póstuma com que sempre contam criminosos como o autor da recente matança de escolares no Rio de Janeiro. Desprezados, ofendidos, marginalizados, humilhados, ignorados, esses assassinos sabem, porque se espelham em precedentes, que, depois de sua morte, serão finalmente vistos e comentados e sua foto será estampada por jornais, revistas e cadeias de televisão. Como vários deles, inclusive o do Rio, referem-se ou são ligados a alguma crença religiosa, é possível que acreditem na imortalidade da alma e tenham certeza de que, despidos do seu invólucro corporal, virão a assistir à sua transformação em celebridades.

  • Recordando Merquior

    Graças a amizade os ausentes são presentes" e "os mortos vivem: vivem na honra, na memória, na dor dos amigos". Foi o que apontou Cícero, escrevendo sobre a especificidade da grande experiência humana da amizade. E é o que me vem à mente ao recordar o percurso do meu querido amigo José Guilherme Merquior, neste ano do 20.° aniversário do seu prematuro falecimento. José Guilherme foi a mais completa personalidade intelectual da minha geração. Integrou com brio e enorme talento a República das Letras, nacional e internacional, tendo-se destacado por uma criativa e instigante mediação entre a critica literária e a crítica das ideias. Com finura analítica e imaginação crítica, sabia ler e interpretar, poesia e ficção. Tinha a clara percepção de que a autonomia da arte não se pode perder na autarquia do estético. O seu ensaio de 1964 sobre a Canção do Exílio, de Gonçalves Dias, deu, desde logo, a medida da larga bitola de sua vocação de crítico literário. Mostrou que esse famoso poema da saudade, escrito em Coimbra, foi bem-sucedido esteticamente por ser, sem adjetivos e graças à tonalidade do texto e das palavras, uma grande expressão do valor da terra natal.

  • A tardia e ambígua revolução árabe

    O seísmo continua no Oriente Médio, num abalo comparável, para muitos, à queda do Muro de Berlim. É o acordar de um inconsciente coletivo, disparado pela revolução tunisiana, mas a encontrar a multiplicidade de cenários, como acontece com aspirações históricas longamente reprimidas.

  • Quem tem medo das antologias escolares?

    Já foi tempo em que as antologias escolares faziam muito sucesso em nossas escolas de educação básica. Eram uma fonte segura de conhecimento dos principais autores da literatura brasileira, com resumos que, em muitos casos, estimulavam os alunos a se aprofundar na leitura de livros fundamentais.

  • Biografias

    Adélia Prado, poeta mineira, confessa que "biografias são desejos". Não sei se o são. Sei que elas se recobrem de camadas de alma. Como as folhas tampam, a ramagem da árvore.É verdade que entram fatores políticos, sentimentais e históricos numa biografia. Porque nada vem sozinho na escrita.

  • Os plebiscitos

    O trauma provocado pela tragédia de Realengo fez o senador José Sarney pensar em propor um plebiscito (na verdade, um referendum) sobre o uso e a venda de armas.

  • A língua dos vencidos e dos vencedores

    Escreveu um texto belíssimo sobre a palavra, Eduardo Galeano:"O Paraguai fala o idioma dos vencidos (o guarani). E a coisa mais estranha ainda: os vencidos acreditam, continuam acreditando, que a palavra é sagrada, porque ela revela a alma de cada coisa. Acreditam os vencidos que a alma vive nas palavras que a dizem. Se eu dou a minha palavra, me dou."Isso deve também suceder com a língua dos vencedores, porque sagrada persiste sendo a palavra. Sombra da grande Palavra que fez o céu, a terra e as estrelas. Sombra daquele que é a Palavra.

  • 'Migração boa' e o ocidente depurado

    O primeiro-ministro Cameron, da Inglaterra, frente a larga reticência do Parlamento, acaba de defender a política da "migração boa" para o futuro do Reino Unido. Dos seus 62 milhões de habitantes, quase 5% vêm de estrangeiros para se radicar nas ilhas britânicas. O que está em causa, pela primeira vez nesta virada do século, é a restrição ao fluxo internacional que choca, de imediato, com as garantias dos direitos humanos de nossos dias. Não estamos ainda diante das proibições de etnias, nem do horror da retomada do que foram, no nazismo, as políticas frontais de exclusão coletiva do seio da modernidade. Mas à proposta de Cameron - para nossa inquietude - ecoa " também a de Angela Merkel entre migrações bem-vindas, ou mal-vindas, a colocar nestas, e de logo, a de árabes na Alemanha.

  • A velha Europa

    Há alguns anos não voltava à Europa. Vejo-a deprimida, como numa sensação de crise insuperável, um pouco aquilo que viveu o Brasil durante muitos anos: o famoso abismo, "estamos à beira do abismo", que o nosso Jânio, no seu pernosticismo verbal, chamava de "dédalo". Desapareceu o brilho dos seus encantos. O contraste com o nosso ânimo é imediato. Saímos da euforia de um Brasil que cresce, em que há empregos e a autoestima voltou e que já fala grosso nos fóruns mundiais.

  • Merquior, embaixador da inteligência

    Conheci José Guilherme Merquior. Foi meu confrade e amigo, o que considero um privilégio. Viveu 50 anos e era como se tivesse vivido um século. No auge da intensidade e do fulgor. Foi um erudito sem perder a humanidade; foi inteligentíssimo, para não dizer cintilante, sem esquecer o toque, "a essência real que o tato exige", na expressão feliz de Lope de Vega.