
Eu não morri
A frase do título foi do meu conterrâneo Gonçalves Dias, quando, naquele tempo da navegação à vela, em que as notícias iam pelo vento, os jornais do Rio de Janeiro noticiaram a sua morte.
A frase do título foi do meu conterrâneo Gonçalves Dias, quando, naquele tempo da navegação à vela, em que as notícias iam pelo vento, os jornais do Rio de Janeiro noticiaram a sua morte.
Diante da catástrofe bem temperada do Oriente Médio, Hillary Clinton declarou que a área enfrenta uma "tempestade perfeita". É a renúncia a toda predição de futuro, atingindo a ideia da esperada revolução, que se frustra nos desfechos da Praça Tahrir, no Cairo. Todo verdadeiro abate de regime precisa ser feito, sempre, por elites ou como, sem elas, prospera um movimento coletivo? O caso da Tunísia foi o da irradiação desse sentimento por classes médias, e pela população universitária mais desenvolvida da região. Não houve lideranças prévias mas captura imediata do levante pela cidadania urbana. Não foi o que se deu no Cairo, muito mais por um lance mimético e um efeito-dominó, que não integrou oposições, coesas e determinadas. Donde a hesitação, entre a luta, pelo restabelecimento democrático e o retrocesso à busca de um fundamentalismo identitário, e dos riscos do radicalismo, após um governo de firme implante do laicismo do Estado. Atente-se, ainda, à novidade do desempenho policial e militar, assegurando o dissenso nas ruas. As forças armadas evitaram toda provocação e permitiram à massa o confronto não-violento e terminaram com mais baixas que os opositores. Esta situação se manteve inflexível por mais, já, de uma quinzena, e o movimento só se alastrou, para além da Praça Tahrir, após um primeiro cansaço, frente às declarações de Mubarak no dia 11 de fevereiro. O afastamento, a seguir, do Presidente tornou crítica a responsabilidade do Exército, na continuação do trabalho do então Vice-Presidente Suleiman, que já trouxe à mesa de conversas a maioria das oposições, inseguras sobre as suas prioridades de mudança.
Homem sempre teve medo de mulher, mas eu acho que no meu tempo tinha mais. As relações entre os sexos eram bem mais complicadas e cheias de normas e preceitos nem sempre coerentes e isso, junto com o medo, contribuía para uma formidolosa coleção de mitos e histórias sobre o eterno feminino – pois, naquela época, não só se falava no sexo frágil, como no eterno feminino. A história que mais provocava calafrios e pesadelos era a da broxada. Um certo amigo, cujo nome a caridade mandava esquecer, conseguira, depois de meses de trabalho insano, seduzir uma certa senhora e levá-la a um encontro numa garçonnière, pois que na época não havia motéis, os hotéis exigiam certidão de casamento para casais e os bem de vida mantinham apartamentos para seus encontros galantes.
O último domingo, comentávamos nesta coluna que, além da preocupação com o certo e o errado no uso dalíngua portuguesa para a comunicação de nossas ideias, devemos, sempre que for possível, atender aos recursos de expressividade que podemos tirar do material linguístico que o idioma põe à nossa disposição. Assim, comentávamos que, do ponto de vista de correção idiomática, tanto podemos empregar 'Está na hora de a pessoa descansar', quanto 'Está na hora da pessoa descansar'. Mas as duas maneiras de construir as frases podem não ser indiferentes quanto aos efeitos de expressividade, isto é, efeitos estilísticos. A quem tem o sentimento de sua língua materna não passa despercebida a diferença entre 'Está na hora de a pessoa descansar' em que há intenção de pôr em relevo o sujeito da oração de infinitivo, e 'Está na hora da pessoa descansar', em que não ocorre motivação de ênfase.
Fernando Pamplona tinha razão ao pedir uma cota de negros, não para as universidades, mas para as escolas de samba do Rio de Janeiro. Nos últimos carnavais, mais da metade dos integrantes eram brancos, alguns deles bronzeados pelo sol deste verão acachapante, outros artificialmente, como a maioria dos destaques.
A discussão aconteceu no âmbito da Academia Brasileira de Letras, depois do recesso regulamentar. O tema era a memória. Um imortal lembrou que a murta, uma flor muito cheirosa, quando irradiava o seu perfume o levava a rememorar a sua infância, no interior fluminense. Dizia ele ter memória olfativa. Outro valorizou a memória auditiva. Músicas que, na sua adolescência, lembravam namoros depois rompidos. O seu gosto oscilava entre "Chão de Estrelas" e "New York, New York", prova do seu ecletismo.
Durante anos, trabalhei como editor de uma revista de atualidades amenas. Minha "finest hour" eram os números dedicados ao Carnaval.
O discurso do ministro Patriota tem sido exemplar no delineio dos rumos da política externa brasileira no Oriente Médio. E tal a partir do possível questionamento de uma mudança frente ao Irã e à liderança assumida pelo Brasil e a Turquia, desde 2009, contra o isolamento do governo dos aiatolás na nova globalização. A nossa presença no cenário mediterrâneo nasce da multiplicidade de perspectivas que se pode permitir o país no quadro dos BRICs, no peso crescente de sua voz fora dos nichos clássicos da América Latina, ou das antigas periferias ocidentais.
Pinço um trecho da crônica que o Artur Xexéo publicou ontem no jornal "O Globo": "Se estivéssemos no tempo em que se conhecia o Carnaval pela cobertura da revista "Manchete", certamente o King Kong seria um dos maiores destaques".
É como a cidade de Roma, não permite meio termo: ou se ama ou se detesta. Ambas as hipóteses são explicáveis.
Descartes, o mais notório dos filósofos que defenderam a "dualidade substancial", isto é, que os homens possuem o corpo e a alma totalmente independentes, um e outra separados, certamente nunca viu nem podia ver um Carnaval brasileiro. É uma festa popular -e demonstrativa de que não há separação alguma.
Quem se der ao trabalho de levantar todos os termos da língua portuguesa, em sua versão culta, poderá chegar a cerca de 600 mil vocábulos. Só o Vocabulário ortográfico da língua portuguesa, editado pela Academia Brasileira de Letras, tem perto de 400 mil verbetes. É uma das 10 línguas mais faladas do mundo, abrangendo povos que, somados, chegam a 240 milhões de falantes. É por essas e outras que existem movimentos de valorização do nosso idioma, como recentemente ocorreu com a defesa da latinidade, em que os próprios franceses se encontram firmemente empenhados. É uma forma, na verdade, de tentar uma reação ao predomínio inglês, graças à parafernália eletrônica de que é pródiga a inclusão digital, como se verá a seguir.
-E aí, cara, pensei que você não vinha mais! E agora chega com essa cara de quem comeu e não gostou, é ressaca de carnaval?
Quando Joseph Campbell, o mais conhecido estudioso de mitologia de nosso tempo (e autor, entre outros livros, do excelente O poder do mito) criou a expressão ´siga sua benção` ele estava refletindo uma ideia cujo momento parece ter chegado. Em O alquimista, esta mesma ideia está sob o nome de lenda pessoal. Alan Cohen, um terapeuta que vive no Havaí, também trabalha sobre o tema. Ele conta que, nas suas conferências, pergunta quem está insatisfeito com o seu trabalho; 75% da audiência levanta a mão. Cohen criou um sistema de doze passos, para ajudar o reencontro com sua ´benção` (ele segue a escola de Campbell): 1) Diga a verdade para você mesmo: divida uma folha de papel em duas colunas, e escreva do lado esquerdo tudo que adoraria fazer. Depois, escreva do lado direito tudo que está fazendo sem entusiasmo. Escreva como se ninguém fosse ler o que está ali, não censure nem julgue suas respostas. 2) Comece devagar, mas comece: chame o agente de viagens, procure algo que se encaixe no seu orçamento; vá assistir ao filme que está adiando; compre o livro que desejava. Seja generoso com você mesmo, e verá que mesmo estes pequenos passos lhe farão sentir mais vivo. 3) Vá parando devagar, mas pare: há coisas que tiram por completo sua energia. Você precisa mesmo ir a tal reunião do comitê? Precisa ajudar quem não quer ser ajudado? Seu chefe tem o direito de exigir que, além do trabalho, você tenha que estar nas mesmas festas que ele? Ao parar de fazer o que não lhe interessa, vai notar que você estava se exigindo mais que os outros realmente pediam.
Deus é testemunha de que nada tenho contra os leitores. Pelo contrário, se não existissem esses seres abnegados, não haveria livros nem jornais, e eu teria morrido de fome há anos.