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Artigos

 
  • A dor das coisas

    Camoneanamente, ou não, lembramos a "dor das coisas que passaram". Em Virgilio Maro, o poeta de Mauá, já lemos essa expressão de mémória do sofrimento passado.

  • Homem: esse desconhecido

    Sentou-se ao meu lado, quase nos fundos do Airbus que me levaria a São Paulo. Tinha seus 50 anos. Levava uma sacola. O que me impressionou foi o bolso de sua camisa. O paletó aberto deixava ver tudo o que ali havia.

  • O sangue das meninas

    0 Brasil inteiro está tomado de grande comoção e também de grande revolta. Não fomos feitos para viver tragédias desse tipo. Em Realengo, no Rio de Janeiro, um fronteiriço, possesso —esta é a palavra— entre a loucura e a maldade, invade uma escola e atira nos alunos que estavam em classe, faz tombar mortos dez meninas e dois meninos, além de ferir mais 13 estudantes, alguns gravemente.

  • Cabo Verde, a nação atlântica

    A responsabilidade da Otan pela paz mundial é hoje superada pela nova ascendência, no limiar da União Africana, de par com a Liga Árabe. A crise em todo Oriente Médio entremostra toda a riqueza de um mundo global, a partir das articulações internacionais que superam hoje o velho fixismo " geopolítico. E entre eles  avulta, sobremodo, no universo atlântico, a emergência de Cabo Verde como símbolo e ponta desses enlaces, em que a nação africana é a promessa, talvez, dos vínculos mais amplos e complexos de uma nova urdidura do espaço mundial do século XXI. Cabo Verde, para além da antiga CPLP, é o eixo das relações despontantes da CDEAO e, sobretudo, da Macaronésia, no liame continental com a Mauritânia e Marrocos. Estado arquipélago padrão, como o Japão, pode, desde logo, intitular-se como nação global, como vem de relembrar o primeiro-ministro José Maria Neves, no que a integração entre as ilhas envolve também o empenho antidiáspora e o enlace desta fortíssima comunidade cultural. Difícil encontrar elemento aglutinador como a língua crioula no seu transbordo oceânico, nas raízes plantadas, inclusive, nas próprias bordas norte-americanas, na força da busca do ensinouniversitário. E na torna à pátria destas levas de novas gerações, a compor a crescente classe média do país. Mid Atlantic, diriam alguns, este Cabo Verde, já no pressentimento do salto para um futuro, vindo da formação específica desta inteligência, e nas novas e universais tecnologias da informação.

  • O homem que sabia demais

    Lobianco terminava a crônica internacional do dia. No mundo, tudo marchava bem, ou seja, tudo estava mal. Nos Estados Unidos e União Soviética evitavam o acordo sobre o uso de armas nucleares, o presidente Carter rompera a política de distensão e mandava brasa em cima do Kremlim, Brejnev não tomava conhecimento, continuava apelando para o Tratado de Helsinque e considerava uma intromissão indébita qualquer alusão aos direitos humanos, que estariam sendo violados nos países da Cortina de Ferro.

  • Se reformarem, é para piorar

    Desde que me entendo, ouço falar em reformas e as únicas que lembro ter visto efetivamente realizadas são as ortográficas. Já devo ter pegado umas quatro ou cinco e ainda encontrei muitos livros em orthographias extranhas, na bibliotheca de meu pae. Aprendi a ler no tempo em que a palavra "toda" se escrevia "tôda", para não ser confundida com o nome de uma tal ave, jamais vista por quem quer que seja. Jorge Amado perdeu a paciência, depois de fazer força para se adaptar a diversas ortografias. Uma vez, quando ele estava acabando de redigir um artigo ou prefácio, como sempre incentivando algum escritor novato, eu cheguei e ele me disse, datilografando as últimas palavras do texto, arrancando o papel da máquina e o entregando a mim:

  • "Sendo que" e uma crítica infundada

    A sequencia "sendo que", em construção do tipo "Eram três os vizinhos, sendo que um deles acaba de mudar-se para Minas", é tão natural ao nosso saber idiomático, que dificilmente imagínaríamos vê-la apontada como errada ou, no mínimo, como construção que deve ser evitada por desnecessária.

  • Salto sem rede

    Irritado com os meus comentários sobre a linguagem infantojuvenil que ainda predomina na mídia eletrônica, um sujeito me desancou num e-mail em que me aconselha a jogar dominó e buraco, deixando o universo virtual para o povo eleito no qual ele se inclui.

  • Dificuldades em Paris

    Há um clima extremamente favorável ao restabelecimento, em grande estilo, das relações culturais entre o Brasil e a França. Até a II Guerra Mundial vivíamos em permanente lua de mel, embalados pelos efeitos concretos da latinidade prestigiada e reconhecida. Depois, a nossa segunda língua estrangeira moderna tornou-se monotemática, com o avassalador predomínio da língua inglesa. O crescimento em nuvem da informática deu curso a essa troca, que se consolidou sem plebiscito.

  • O tempo do tempo

    O herói da batalha de Maratona precisou correr 42 quilômetros para transmitir a notícia da vitória numa guerra. Morreu logo após ter cumprido a tarefa. A descoberta (ou o achamento) do Brasil levou mais de dois meses para chegar ao conhecimento do rei Manuel, dito o Venturoso. Hoje, com a internet em funcionamento, Manuel seria venturoso antes do tempo, ficaria sabendo da façanha de Cabral na hora.

  • O engraxate de Nabuco

    Entre os presentes à inauguração da estátua de Joaquim Nabuco na Praça Manuel  Bandeira, ao lado do Palácio Austregésilo de Athayde, justíssima homenagem ao grande abolicionista pernambucano sugerida pelo presidente da ABL, Marcos Vilaça, e concretizada pelo prefeito Eduardo Paes, circulava um menino magrinho, bem moreno, com a aparência de 10, no máximo 11 anos, com sua caixa de engraxate. Na forte ventania daquela tarde, a desmanchar os cabelos de damas e cavalheiros, o menino se esgueirava entre os presentes, ágil, mas sem esconder o temor de ser repreendido por incomodar gente importante. Na insistência em sobreviver, ele repetia, a frase típica dos profissionais do seu ofício: "Vai uma graxa, doutor?"

  • Ronaldinho Gaúcho imortal

    Foi um gol de letra do presidente da Academia Brasileira de Letras, Marcos Vilaça. Convidou a diretoria do Flamengo para um almoço na Casa de Machado de Assis, com pelo menos três grandes atrações: o craque Ronaldinho Gaticho, o técnico Wanderley Luxemburgo e a presidente Patrícia Amorim. Para valorizar o evento, Vilaça comemorou os 110 anos de José Lins do Rego, escritor paraibano que era torcedor fanático do "Mengão", como pude observar nos tempos iniciais de jornalista esportivo. Era um consagrado romancista, com o seu clássico "O menino de engenho", mas escrevia com toda paixão a respeito do Flamengo e seus craques da época, entre os quais o inesquecível Zizinho. Aliás, não perdoou o grande atacante quando este se transferiu estranhamente para o Bangu. Zé Lins escreveu contra ele, desdizendo tudo o que, antes, era uma profunda e aparentemente definitiva admiração.  Voltemos ao almoço na Casa de Machado de Assis.Ronaldinho foi perguntado por um repórter se agora era "carioca". Agradeceu delicadamente a gentileza e disse que seria "gaúcho" até morrer, mas estava amando o Rio e a receptividade do seu povo. Depois, outro repórter quis saber qual o último livro lido por ele. Ronaldinho ficou sem jeito, disse que não lembrava, mas que iria pedir conselhos aos imortais presentes. Aí, Vilaça mandou descolar um livro de Zé Lins sobre o Flamengo e deu de presente ao craque. "Assim você pode iniciar a sua vida de leitor, porque terá a necessária motivação." 

  • A determinada democracia africana

    Ao visitar a África pela primeira vez, Obama foi só a Gana, enquanto nação de indiscutível credencial democrática no Continente. Mas Dilma, em futura viagem à região, não tem como iniciá-la senão pelo Cabo Verde, o país que, desde a sua fundação, mantém governos popularmente eleitos em amplo respeito à expressão política de suas minorias.

  • O que fazer com a revolução

    Quatro de novembro de 1930 - O Brasil ganhara um novo governo, fruto de um movimento revolucionário não definido, mas atuante. As diferentes facções que chegaram ao poder ameaçavam engolfar o país numa anarquia institucionalizada, apesar de existir um chefe ostensivo, dono até de um poder que, no papel, era soberano.