
Sermão aos peixes da Urca
Não vou pregar, de início, como Pe Antônio Vieira aos peixes, simplesmente vou deixar que os peixes preguem a nós, humanos. Podem ter lá seu sermão com versículos da maré. E de minha parte, serei atentíssimo ouvinte.
Não vou pregar, de início, como Pe Antônio Vieira aos peixes, simplesmente vou deixar que os peixes preguem a nós, humanos. Podem ter lá seu sermão com versículos da maré. E de minha parte, serei atentíssimo ouvinte.
O papel da Academia Brasileira de Letras, em seus 114 anos de existência, sempre foi o de preservar e valorizar a memória nacional: a língua como instrumento do conhecimento e da convivência; as letras como reveladoras e formadoras da identidade do país, sem deixar de fora nada do que é humano — a ciência que reside no espírito, que observa e explica; e a poesia que habita a alma, que sente e compreende.
Um nome que apareceu na mídia de forma inesperada e dramática. Contudo não li uma única linha na imprensa escrita, nem ouvi, no rádio ou na TV, o mínimo comentário sobre Tasso da Silveira (1895-1968), cujo nome inocente e ilustre foi dado a uma escola em Realengo.
A ideia é nobre e merece aplausos: ministrar ensino técnico a 3,5 milhões de trabalhadores brasileiros até o ano de 2014. A presidente Dilma Rousseff, com o seu Pronatec, pretende oferecer 500 mil vagas para jovens só em 2011, com ênfase nos setores considerados os mais frágeis do ponto de vista da apropriação de recursos humanos: construção civil (com a ampliação do PAC), serviços (especialmente hotelaria e gastronomia, com as grandes competições internacionais que o país receberá nos próximos anos) e Tecnologia da informação.
Foi uma festa para inglês ver: muita pompa e circunstânría ao som de marcha homônima. Trinta anos atrás, lá estava eu, espremido num palanque reservado a imprensa em Ludgate Hill, vendo os 179 cavalos de Sua Majestade que puxavam as carruagens que pareciam ter saído de um filme da Romy Schneider.
Com júbilo, como brasileiro, já vislumbramos a personalidade independente da presidenta Dilma Rousseff, o que pressentimos, ao conhecê-la pessoalmente, antes de sua candidatura. A autoridade para governar, a segurança nos objetivos que separa - e ainda bem - a gestora comprometida na responsabilidade da administração pública e o astucioso e mirabolante ser político, esse que cede aqui e ali, para dominar adiante, sem prever o prejuízo presente ou futuro.
A palavra "navegar" é a mais perfeita comparação que se possa aplicar ao universo da informática, em especial, ao oceano sem fim da internet. Nem fica bem citar o Pompeu ("navegar é preciso"), que muita gente nem sabe quem foi, achando que a frase é de Fernando Pessoa ou de Caetano Veloso.
Depois da notícia de que, ao fim de prolongado debate jurídico, foi negado por um tribunal o habeas corpus impetrado em favor de um chimpanzé enjaulado em solidão no Zoológico de Niterói, vieram ao conhecimento público outras providências judiciais em nome de animais, pelo Brasil afora. Isso está ficando interessante. Antigamente, era fácil dizer que os animais não tinham direito nenhum, pois não são sujeitos de direito, não são pessoas, não podem acionar o poder judiciário, da mesma forma que não têm deveres, nem podem ser interpelados pela justiça. Direitos e deveres são província exclusiva do ser humano e, embora isso não soe bem, um cachorro, por exemplo, não tem o direito de não ser maltratado. O homem é que tem o direito de estabelecer em lei que maltratar um animal é criminoso e de protestar e intervir, quando a lei for descumprida.
Várias foram as questões de língua que deixaram em dúvida leitores deste jornal. A primeira delas nos foi encaminhada por Marcelo Viana, que deseja saber se a nossa língua possui uma palavra para designar o ‘amante do livro’, como cinéfilo para ‘pessoa que é louca por cinema’.
Os músicos demitidos da Orquestra Sinfônica Brasileira apresentaram-se sábado em concerto que lotou a Escola de Música da UFRJ e que teve a participação de instrumentistas da Petrobras Sinfônica e da orquestra do Teatro Municipal. Tocou-se o Hino Nacional, e Cristina Ortiz, ao piano, conduziu uma emocionante interpretação do Concerto nº4 de Beethoven. O clima era de euforia e preocupação. Houve discursos indignados, que em nenhum momento escorregaram para as ofensas. E assim chegamos a esta situação esdrúxula, em que há uma OSB e uma "OSB do B". Mas a OSB original está agora montada nas bases mais frágeis do mundo, e o pedido dos músicos para que o maestro Minczuk se afaste me parece bem mais próximo da realidade do que os anúncios, de um prodigioso otimismo, publicados pela Fundação OSB. Também não ajuda nada a entrevista do maestro às Páginas Amarelas de "Veja", onde se diz que ele "vence a primeira batalha de uma guerra santa contra a mediocridade e o corporativismo". Fica parecendo uma briga de paulistas com cariocas. Nenhuma batalha foi vencida, e não vejo como se possa (re)construir uma orquestra de costas para a maioria maciça do meio musical brasileiro.
Não me dei ao respeito de assistir as bodas reais em Londres, tampouco me edifiquei com a subida aos céus de um papa em Roma, e muito menos fiquei pasmo com a volta do Delúbio Soares ao PT.
"Os ditadores estão caindo um a um como jacas" - escreveu o mestre cronista Luiz Fernando Veríssimo. Também é suspeitável a hipótese de que tais ditadores fossem jaqueiras que dessem espinheiros, certa mescla inabitual dentro da natureza, mas bem provável no dúbio mundo da política.
Aí está a força do sociólogo FHC para encontrar os possíveis caminhos do Brasil da maturídade política, em busca do; jogo das alternativas de poder. O ex-presídente, com razão, mostra a impossibilidade do tucanato em chegar ao âmago do povão e do que o Brasil emergente vê, desde os últimos mandatos, como o Lula-lá. FH busca o respaldo eleitoral a partir desta constatação:pelos 56% de brasileiros que podem ser definidos como de uma nova ampla classe média ascendente. E em que termos, nela, as expectativas mais rápidas na prosperidade podem criar vínculos novos, suscetíveis de diferenciação política? O contributo do presidente-sociólogo é o de superar a ingenuidade em que as oposições envelhecidas continuam a pensar numa chegada pendular ao poder, nascendo da fortuna eleitoral, dos meros cansaços politícos de maiorias eventuais e dos contrastes de opinião sobre o desenvolvimento e sua maturida de histórica. A contundência da mensagem não ecoou, entretanto, na profundidade que possa, mesmo com um jejum político imediato, alicerçar as oposíções para um jogo estável e de maior chance de chegar ao Planalto. O que se vê, ao contrário, de parte das hostes contrárias à situação, são os clássicos realinhamentos sôfregos, e de aproximação com a Presidência Dilma, buscando as aparas de cargos e de quinhões orçamentários, que deixem à tona do negocismo político de sempre essas facções exiladas pelas vitórias do lulismo. O movimento atinge o próprio cerne da reserva de votos tucana, guardada em São Paulo e que se vê agora esvair no governo Alckmin, predestinado a todo novo anticlímax eleitoral.
Os norte-americanos são como o Botafogo: há coisas que só acontecem com eles. E como a bandeira deles tem muitas estrelas (a do Botafogo só tem uma), o resultado é que são exagerados, no bem e no mal. A caçada a Bin Laden, que seria uma deconência natural e justificável na luta contra o terror organizado, teve um final polêmico, que dará assunto para muitos filmes de ação —alguns deles já devem estar sendo produzidos.