Numa época, era costume, entre alguns grupos de jovens, andar com um livro sob o braço. Era o que se chamava ironicamente de cultura de sovaco, e tinha uma dupla finalidade: ter sempre algo disponível para ler na fila do banco, ou na parada do ônibus, ou na lanchonete. Servia também para identificar o portador do livro como membro de uma irmandade: a irmandade da leitura, formada por aquelas pessoas que veem no texto uma privilegiada porta de acesso ao mundo em que vivemos. E que são ajudadas por esta peculiaridade da anatomia humana, que é a conformação da axila. O sovaco não é bem algo do qual possamos nos orgulhar; jamais alguém dirá de um homem algo como: Que belo sovaco ele tem!. Ao contrário, a axila é a principal fonte do CC, o Cheiro de Corpo, que faz a alegria da poderosa indústria do desodorante. Mas, humilde como é, o sovaco revelou-se, para a literatura, um abrigo ideal. A tarefa de levar o livro fica consideravelmente simplificada, porque as mãos ficam livres. Além disso, o sovaco fica perto da intimidade do corpo, do coração que bate mais forte com as emoções da leitura, dos pulmões, que nos lembram a inspiração, literária, inclusive.