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Artigos

 
  • O retrato na galeria

    No dia de N. S. do Carmo, a padroeira do Recife, a Academia Brasileira de Letras, por gesto do presidente Sandroni pôs meu retrato na Galeria dos Presidentes. Também era um dia de saudades para a nossa família. Transcorrida mais um aniversário da perda da minha sogra, minha grande amiga. Admirável figura humana, tipo perfeito de Mater Familias nordestina. Engravidou vinte e duas vezes, distribuiu amor às pessoas vinte e dois milhões de vezes, pelo menos. Rezou o tempo todo.

  • Comemorando

    Não, chega de baixo astral. Hoje não vou reclamar de nada, nem criticar o que quer que seja. Cansa um pouco, esse negócio de falar sempre em ladroagem, safadagem, malandragem e pilantragem, para não mencionar outros membros da numerosa e expressiva família Agem. Correndo o risco de desagradar algumas das minhas coroas da Ataulfo de Paiva – as meninas que sempre me exortam a descer o malho “neles” e me brandem sombrinhas quando eu não o faço – vou mudar de foco, nem que seja uma vezinha só. Antigamente até que dava e por que não dará agora? É só pegar os jornais, ligar a televisão ou o rádio e aguardar. Com boa vontade, aparece alguma coisa que não se enquadre nessas categorias.

  • Scliar e Bush

    Nada melhor do que um dia depois de outro com uma noite no meio. Sendo como sou, habituado a embarcar em canoas furadas e sempre contra a maré, inverto a frase anterior: nada pior do que uma noite depois de outra com um dia no meio.

  • Gripe & Sonho

    Esta gripe está tendo desdobramentos inesperados, proporcionando até oportunidade para que os assaltantes usem máscaras, o que pode fazer bem para a saúde deles, mas é um desastre para o bolso dos assaltados. E, falando em desdobramentos inesperados, olhem só o que escreveu na Folha de S. Paulo o Carlos Heitor Cony, grande escritor, grande jornalista e grande amigo. O título é “Scliar e Bush”: “O Moacyr Scliar, como excelente médico sanitarista, me ensinou que devia lavar as mãos cuidadosamente, várias vezes ao dia, para evitar entre outros males a gripe suína. Não bastava lavar a palma, é preciso lavar as costas da mão, os pulsos, o espaço entre os dedos. Na noite daquele dia, sonhei que estava no banheiro do restaurante Alcaparra, no Flamengo, e lavava as mãos rotineiramente quando entrou, nada mais, nada menos, do que o presidente George Bush, pai. Ele começou a lavar as mãos, na pia dele não havia sabonete, pediu-me o que estava comigo. Passei-lhe o sabonete e ele lavou as mãos com esmero, seguindo os conselhos do Moacyr Scliar e silenciosamente me reprovando o fato de não ter feito o mesmo. O sonho terminou aí, mas passei o dia meditando sobre o insuportável destino humano, que faz um cidadão misturar o Scliar e o Bush pai na sequência de um mesmo sonho. Tenho certeza de que o Scliar não mantém qualquer tipo de relação com o ex-presidente. Penso no meu querido amigo Scliar, preocupado com a minha saúde e com a saúde da plebe em geral. Nunca pensei em Bush, nem no pai, nem no filho nem no espírito deles”. E termina o Cony: “Como fui misturar tudo isso num sonho que me obrigou não somente a lavar as mãos novamente, mas a alma, o coração e o gesto?”.

  • "Cosa mentale"

    Criaram a lenda de que ele escrevia com rapidez capaz de fazer um romance em 11 dias e crônicas em cinco minutos. Era em parte verdade, mas bastava uma olhada superficial na sua produção para avaliar o grau de sua incontinência literária. Uns pelos outros, tudo o que vinha dele tinha o sinal da pressa, até mesmo da afobação em ficar livre do compromisso com uma editora ou com um jornal.

  • Lembrança de Darcy

    Psicólogos de diversos tamanhos e feitios garantem que cada um tende a admirar pessoas e coisas diferentes de nós e das nossas. Acho que não é verdade, mas sempre admirei o finado senador e acadêmico Darcy Ribeiro na sua capacidade de perceber o cheiro das mulheres da Namíbia, lá do outro lado do Atlântico, que o meu amigo Alberto da Costa e Silva chama de rio a separar dois continentes.

  • O mundo de ontem

    Stefan Zweig, um grande escritor austríaco que teve muito prestígio na primeira metade do século passado e morreu tragicamente com sua mulher em Petrópolis, onde se refugiara durante a Segunda Guerra, cunhou a frase-título do seu livro Brasil, um País do Futuro, que deu lugar a um ufanismo igual ao verde-amarelismo de Oswald de Andrade, carro-chefe da Semana de Arte Moderna de 22.

  • "Sim, eu posso!"

    Parece uma tarefa quase impossível vender a ideia de que devemos nos empenhar seriamente na melhoria da qualidade do ensino superior. Colocar de lado velhos vícios trazidos pela cultura do magister dixit, que predominou (ou predomina) no Brasil durante tantos anos, fruto possivelmente da influência bacharelesca que recebemos dos nossos irmãos portugueses.

  • Enfim, uma fórmula salvadora

    HOJE ESTOU disposto a torrar todos vós com algumas considerações sombrias e insossas sobre a nossa estranha realidade social. Tudo começa, obviamente, com a crise do Senado, pasto de cenas que a mídia considera próprias de políticos desalmados, mas, na realidade, pertence à sociedade como um todo, onde se homizia a condição humana.

  • Mito e evidência

    Para muitas pessoas, e sobretudo para aquelas pessoas que estão doentes, o corpo humano é como a caixa de Pandora aquela que, segundo a lenda, continha todos os males do mundo. A alusão à mitologia grega, aliás, é mais que apropriada. O mito é uma narrativa fantasiosa que, no entanto, cumpre uma função: serve para proporcionar uma explicação para coisas que nos parecem obscuras, deste modo acalmando nossa ansiedade. Ora, doença é uma dessas coisas. A gente sabe que alguma coisa funciona mal em nosso organismo, mas que coisa é essa? Será grave ou banal? Como fazer para resolver o problema?

  • Eu tive um pesadelo

    Os entendidos garantem que, em política, tudo é possível. Os não entendidos, como eu, por estranha coincidência, garantem a mesmíssima coisa e nada os espanta na política, tanto na amadora como na profissional: tudo é possível.

  • Ainda há muito terreno pela frente

    Hesitei antes de falar sobre as proibições de fumar que se avolumam a cada dia, mobilizando, como no caso de São Paulo, esquadrões de funcionários públicos, em operações cinematográficas de repressão aos infratores. O sujeito que faz algum reparo às leis antifumo é imediatamente qualificado de vendido à facinorosa indústria do tabaco. Como, pelo menos no meu caso, nunca recebi um tostão de nenhum fabricante de cigarros ou plantador de tabaco, devo ser ainda pior, ou seja, inocente útil, análogo aos do tempo do comunismo, que nem ao menos botavam a mão no celebrado ouro de Moscou.

  • Aprendendo com a professora

    "MEU FILHO : escrevo-te esta carta -carta, não e-mail: sou uma pessoa antiga- no meu duplo papel de mãe e professora. Sua mãe, sempre fui; sua professora, apenas por um ano, na pequena escola em que você cursou o que se chamava, na época, de curso primário. Faz muito tempo que isso aconteceu, quase 40 anos, mas devo lhe dizer que lembro de tudo, de cada aula que lhe dei.