
Filho leitor
Marcantonio, por esses dias, estaria a completar quarenta e sete anos. Nesta saudade que queima os pais em espécie de fogo lento, que dói sem cessar nas labaredas erguidas como soldados impiedosos, do que me lembrei?
Marcantonio, por esses dias, estaria a completar quarenta e sete anos. Nesta saudade que queima os pais em espécie de fogo lento, que dói sem cessar nas labaredas erguidas como soldados impiedosos, do que me lembrei?
RIO DE JANEIRO – As sucessivas crises que a classe política atravessa, seja no Legislativo, no Executivo e até mesmo no Judiciário, colocam uma velha questão em debate: o poder, qualquer tipo de poder, é corrupto por natureza? Ou com outras palavras: o poder corrompe?
ESTOU DIANTE do notebook e procuro assunto para esta crônica. Quis o bom Deus que, ao contrário de outras semanas, assunto não me faltasse. Brigas no Senado, gripe suína, a candidatura de Marina Silva para bagunçar os planos de Lula, as dívidas de Romário, enfim, o cardápio é variado e sustancioso.
De vez em quando eu olho aqui, olho acolá, leio o jornal do dia, vejo alguns noticiários de televisão e concluo que se, por exemplo, o governo decretasse que, de agora em diante, os cidadãos e cidadãs iam ter de ficar de quatro, enquanto estivessem em agências bancárias e repartições públicas, poderíamos esperar ver todo mundo engatinhando no dia seguinte, sem reclamar.
É madrugada, ainda está escuro, mas, entre os muitos erros de fábrica com que nasci, está o do despertador interno, que, mesmo que eu tenha ido para a cama duas horas antes, começa a disparar por volta das cinco e enche a paciência até que eu me levante. Desde pequeno, sempre achei bonito o sujeito se levantar lá pelas onze ou meio-dia, coisa de artista de cinema, que acorda lindo, barbeado, penteado, de roupão monogramado e tomando um drinque longo de vodca com suco de laranja, no jardim de inverno envidraçado, esperando a chegada esvoaçante da artista. Mas suponho que para isso devo aguardar mais algumas encarnações, porque, se insisto em ficar na cama, o despertador recorre a meu departamento de culpa, que é o mais fornido que conheço e já foi objeto de estudos psicanalíticos e psiquiátricos. No mínimo, ouço a voz tonitroante do padre Brito, flamívomo (dicionário – hoje é domingo, dia de exercício e, além do mais, estamos celebrando cem anos da morte de Euclides da Cunha, façam sua parte) pregador de minha infância, explicando como seriam atiçados às barricas de óleo fervente do inferno os pervertidos que acordam depois das oito da manhã. Portanto, saio da cama.
1) Políticos de todos os partidos pretendem aprimorar o regime, o que é salutar para os políticos e para o regime. Com o regime aprimorado, teremos horizontes menos sombrios e é possível que até o Senado deixe de ser tão trágico.
A dor fantasma, aquela dor sentida pela pessoa numa parte do corpo que não mais existe (por exemplo, uma perna amputada) é um intrigante e penoso fenômeno conhecido desde a antiguidade. Por razões óbvias era sempre mais notado depois de guerras, quando o número de amputados crescia muito. Foi assim que, após a guerra civil americana, o famoso neurologista Silas Weir Mitchell observando que “milhares de membros fantasmas estavam perseguindo e atormentando muitos bons soldados” cunhou a expressão. Mas Mitchell ficou tão perturbado pela estranha situação que publicou seu relato não numa publicação científica, mas num pequeno jornal, e mesmo assim sob pseudônimo.
A Associação Nacional de Jornais está comemorando 30 anos de existência e denunciou 31 casos de violação à liberdade de imprensa no Brasil. Devem ser casos na maioria recentes, uma vez que, no período da ditadura, mesmo nos últimos anos do regime totalitário, simplesmente não havia liberdade de imprensa e não havia o que violentar.
Provocado por um repórter do muito bem elaborado “Jornal da ABI”, sinto-me no dever, como jornalista militante há quase 60 anos, de escrever alguma coisa sobre a decisão do Supremo Tribunal Federal que cassou a exigência do diploma de nível superior para o exercício da profissão de jornalista. Há duas preliminares: a primeira é a de que isso nada tem a ver com a proclamada e necessária liberdade de expressão; a segunda é a de que o tema não é grave, nem relevante, a ponto de merecer a atenção da Corte Suprema.
Paramentado de arminho e mitra, o bispo subiu no búfalo e gritou, brandindo o báculo: “Cobri-vos de cinza e fazei penitência, que o Grande Pecador cumpriu seus dias de ignomínia sobre a Face da Terra e o Justo descerá dos céus para chover terror e castigo!”
Vem de Minas Gerais, terra de ficcionistas famosos, uma notícia tão curiosa quanto reveladora, uma notícia sobre a qual vale a pena pensar.
BUSH , sem outra justificativa para o atoleiro em que se meteu no Iraque e no Afeganistão, levantou a tese de que era em nome da democracia que ele fazia a guerra. A tese das armas de destruição em massa não pegou.
Não é nada, não é nada, é quase um tudo. Tivemos no ano passado o centenário de Machado de Assis, que foi comemorado 'ad nauseam'. Mesmo assim muita coisa ficou sem ser dita a respeito de um homem que foi e continua sendo um caso no panorama cultural brasileiro.
Cada um de nós, quando escreve, tem naturalmente o seu próprio estilo. O estilo é o homem, dizia o escritor francês Buffon (1707-1788). Para o crítico literário Wilson Martins, dos mais respeitados em nosso país, “Euclides da Cunha é um nome sagrado, mestre dos mestres.”
Olhem só a notícia que apareceu, dias atrás, aqui em ZH. Na Nova Zelândia, o ambientalista Aleki Taumoepeau (o pessoal lá tem nomes complicados, mas, provavelmente, devem dizer a mesma coisa de nós) trabalhava no porto de Wellington quando sua aliança de casado caiu no mar, que ali tem três metros de profundidade. Aleki marcou o lugar com uma âncora e prometeu à mulher que encontraria a aliança, o que de fato aconteceu três meses depois, e valeu-lhe, entre os amigos, o apelido de Senhor do Anel, uma referência ao livro e ao filme O Senhor dos Anéis.