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Artigos

 
  • A invenção de São Paulo

    Escritores criam países e abrem períodos da história de seu tempo, passando a representar o tipo de mudança que esse tempo exige. Diga-se que da obra de Proust surgiu uma nova França. Criada por ele? Por ele inventada? Quando nasceu, os sinais da mudança indicavam o nascimento de uma sociedade em tudo diferente da que tivera Napoleão III como chefe. Quando Jeanne-Clémente Weil se casou com Adrian Proust em setembro de 1870, a França perdia uma guerra e crescia a revolta do povo que em breve ergueria barricadas nas ruas para apressar o aparecimento de uma nova etapa na vida nacional francesa.

  • Porcos iluminados

    Uma equipe da Universidade Nacional de Taiwan criou pela primeira vez porcos transgênicos fosforescentes a partir da injeção de material genético de águas-vivas. Wu Shinn-chih, do Departamento de Ciência e Tecnologia daquela universidade, explicou que os porcos iluminados vão permitir o monitoramento nos tecidos dos animais durante o desenvolvimento físico, inclusive no homem.

  • Pré-candidatos semelhantes

    Um jogador de bilhar diria que o PSDB, de que é líder o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, encontra-se perplexo diante de uma sinuca, a de escolher para lançar candidato à próxima eleição presidencial Geraldo Alckmin ou José Serra. É curioso ter dois pré-candidatos muito semelhantes, pois têm como nota principal na postura que adotaram em política a simplicidade, a honestidade e a discrição.

  • Memórias póstumas de um cadáver em Ipanema

    m cadáver vindo do mar ficou ontem por cerca de seis horas na praia de Ipanema, a principal da zona sul do Rio. O cabo Renatti, do Corpo de Bombeiros, que trabalhou na retirada do homem do mar, diz que o cadáver deve ter sido lançado da favela do Vidigal, próxima de Ipanema. "A cabeça dele estava com marcas de violência. Pelo visto, ele pode ser sido morto e lançado ao mar por traficantes do Vidigal", disse Renatti. Apesar da cena inusitada e do mau cheiro causado pelo cadáver em decomposição, a rotina da praia praticamente não mudou. O trecho é freqüentado por jovens da zona sul.

  • O bufão triste

    Cena de "Rei Lear", logo após dividir o reino entre as filhas e chamar o bufão da corte para se distrair ou para saber como iam ou iriam as coisas após a decisão que tomara. Na linguagem própria dos bufões, cifrada, cheia de alusões e de subentendidos, o bufão diz o que mais ou menos está pensando. O rei o encara e comenta: "És um bufão triste!".(Alguns tradutores preferem o "bufão amargo" - bitter fool -, eu prefiro o "triste", tradução de Louis Aragon para o mesmo trecho, num poema dedicado a Carlitos).

  • O governo em campanha

    Quem encerra nas mãos o poder usa-o numa campanha eleitoral, e tem usado e usará sempre enquanto não houver uma sanção eficaz, de lei dura, contra quem assim procede, com vantagens sobre o concorrente.

  • Apocalipse pedagógico

    O atual estágio da educação brasileira, com 60 milhões de alunos, analisado no 7º Fórum Nacional das Entidades Mantenedoras de Estabelecimentos de Ensino Superior no Estado de São Paulo (Semesp), mostrou que estamos ainda com graves deficiências.

  • A ciência do falso testemunho

    A história da ciência nem sempre é feita de episódios edificantes. Fraudes e falsificações aparecem com alguma freqüência, e o caso do cientista sul-coreano Hwang Woo-suk, que "fabricou" pelo menos parte de suas pesquisas sobre células-tronco, está longe de ser único. O médico alemão Phillippus Theophrastus Bombastus von Hohenheim, conhecido como Paracelso (1493-1541), revolucionou a medicina em seu tempo, mas também se dizia capaz de fabricar um ser humano em miniatura, um homúnculo, a partir de esperma.

  • O suicídio do general

    Cada vez entendo menos das coisas e dos homens. Em criança, entendia quase tudo, tudo era como era, encontrei um mundo pronto, chuva quando havia chuva, sol quando havia sol, as pessoas, as casas, tudo estava ali porque devia estar. Não precisavam de explicações nem justificativas. Até que era uma posição meio filosófica, herdada sem querer de Sócrates. Eu era um pré-socrático sem saber.

  • Até breve, em grande forma

    Sim, chega desse negócio de falar mal do governo. Por exemplo, eu ia voltar a relembrar que governo não é somente o Executivo, mas o Legislativo e o Judiciário - e estamos bastante mal servidos em todos eles. A Câmara de Deputados mesmo, abusando do fato de que ruim com ela mas pior sem ela, já entrou na fase do descaramento. Leva-se dinheiro público a rodo, trabalha quem quer, ganham-se benefícios que chegam a ser esdrúxulos de tão indecentes e otário será aquele que achar que o povo é mesmo representado pelos congressistas.

  • No recesso do coração

    HÁ ALGUNS MESES PUBLIQUEI NESTE espaço uma coluna chamada “Os segredos do porão”, descrevendo um retiro que terminou em um mágico jantar nos subterrâneos da Abadia de Melk, na Áustria. No artigo, eu comentava que, ao olhar os porões de minha alma, tudo que podia encontrar ali eram meus erros, e que procuraria organizá-los de modo que eles não me assustassem e me ajudassem a compreender melhor as coisas que não devia repetir. Estava em companhia, entre outras pessoas, do abade Burkhard Ellegast, OSB, que eu considero um mestre espiritual, embora não consigamos falar uma língua em comum (não consigo sequer pedir um copo d'água em alemão). Para minha surpresa, o abade Burkhard escreveu um texto a respeito de “Os segredos do porão”, e aqui adapto parte de suas reflexões.

  • Ênio Silveira

    São dez anos da morte de Ênio Silveira, o editor que deu ao livro o formato que hoje conhecemos, com os naturais acréscimos de um mercado ao mesmo tempo exigente e complicado.

  • Política externa: o trunfo a caminho

    Diante das eleições de outubro próximo, a polêmica brasileira fixa-se, de mais em mais, sobre a permanência, ou não, da atual política econômico-financeira como premissa para o próprio futuro da chapa presidencial. O ministro Palocci terminou por vencer todas as escaramuças de derrubada, e sua sustentação assimila-se à de como o País é visto nos rumos da globalização. Com que outras cartas conta o Governo em 2006? Por entre a poeira das disputas do mensalão, do desapontamento com o pior Congresso da nossa história política, ou do acórdão do descrédito final, deixamos, às vezes, de lado, os trunfos da política exterior.

  • A Bolívia e seus demônios

    Quando, em 1985, encontrei-me com o presidente Reagan, durante visita oficial a Washington, depois de discutirmos problemas bilaterais, disse-lhe que não desejaria encerrar nosso encontro sem falar um pouco sobre a Bolívia. Era um país sofrido, cujas riquezas se exauriam e, no seu balanço de recursos naturais e estabilidade, poderia tornar-se problemático. A Bolívia necessita de uma atenção sem retórica, rigorosamente especial por parte da comunidade internacional. Suas cicatrizes históricas e algumas revoltantes injustiças criaram um caldo de cultura e justificados ressentimentos. Acrescentei -naquela época em que as guerrilhas estavam em moda- que a desestabilização da Bolívia teria repercussões em toda a América do Sul. Certamente pensando na geopolítica foi que Che Guevara escolhera aquele país para testar seu heróico misticismo revolucionário.

  • A tecnologia e o grito de eureca

    Bons tempos os que vivemos, em que tudo tem prazo de validade e tudo pode ser descartável. Meu pai herdara uma máquina fotográfica do meu avô, foi com ela que registrou os primeiros passos de seus filhos, o batizado, a primeira comunhão, chegou mesmo a fotografar o casamento do irmão mais velho com o mesmo equipamento, que era chamado de "caixote". Ainda tenho fotos tiradas por aquela ancestral das atuais câmaras digitais, que duram o espaço daquelas rosas de Malherbe.