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Artigos

 
  • PT e continuísmo na contramão

    Não nos basta a derrota da lei antibingos, o disparo do dólar, o desnecessário quiproquó internacional com o New York Times. Essa chegada aos meados de 2004 levanta incidente mais inquietante à imagem política que o PT trouxe ao primeiro plano do poder. Difícil emergência mais nítida, puxada pelo roldão da vitória, que a de João Paulo Cunha no comando da Câmara. A sua expertise devemos a votação das reformas da previdência e fiscal. O deputado paulista tornou-se peça chave na administração desta inédita supermaioria do Governo, transpondo, sem perda, da massa, o peso dos partidos aliados, aos votos no Congresso para o desemperro do statu quo brasileiro. João Paulo, a partir do trabalho conjunto com a Casa Civil, costurou o fio do adesismo mais atilado, com a visão clara dos prêmios e rações efetivas a que poderiam fazer jus, pondo em marcha o aparelho legislativo nacional.

  • Empregabilidade 2

    A palavra empregabilidade chegou a ser contestada por Jô Soares. Ela hoje faz parte da linguagem popular e ninguém duvida que logo estará pelo menos no Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, da Academia Brasileira de Letras.

  • Lembranças de José Veríssimo

    A primeira lembrança de José Veríssimo vem à minha memória a partir de uma visita feita à Oficina Literária Afrânio Coutinho (Olac), no Leblon. Discutimos o futuro da educação brasileira e o grande crítico literário me aconselhou a ler o que pensava o autor paraense, nascido em Óbidos, em 1857. Havia idéias que, já naquela época, se adotadas continham uma nítida característica de modernidade. O nosso grande Afrânio subiu as escadas da sua biblioteca e trouxe lá do alto um volume fininho, mas denso, que me deu carinhosamente de presente. Jamais me afastei dele. Era sobre a educação brasileira.

  • O eterno feminino num boteco do Leblon

    O cara que aparecer na minha frente pra me dizer que compreende as mulheres, eu primeiro falo que ele é um mentiroso sem-vergonha e, se ele não gostar, eu meto a mão na cara dele, podes crer. Ninguém jamais entendeu, ninguém entende, ninguém jamais entenderá.

  • Das Torres ao polegar da infâmia

    A foto da dupla de beleguins-soldados, polegar ao alto, frente à pirâmide da nudez retorcida dos detentos de Bagdá vale a da menina de My Lai do desamparo total, fugindo do napalm, no Vietnam, há 30 anos. Empatam no horror que vira, por insuportável, uma página da crueldade dos homens. Esse toque de repulsa definitivo é o de uma saturação que chega ao inconsciente social generalizado de nosso tempo. O riso da soldado England, vinda de Fort Ashby, cidadezinha da América profunda, voluntária da cruzada de Bush, é, de saída, o do prazer perverso, de posar frente à pilha dos corpos nus e roliços, superpostos à sua frente, carne cega e submissa. Mas a gargalhada que se segue é de um desfrute do poder ou da impunidade sem limites, nascido das star wars, de suas máquinas apocalípticas de devastação, impelidas ainda pela forra das torres de Manhattan pelo povo eleito - como salienta o presidente Bush -, que não tem mais contendor para as guerras que fizer e pelo tempo que exigir o senhorio da Casa Branca.

  • Saudades da velha dominação

    Reuniu-se em Alexandria, por iniciativa estrita de uma entidade da intelligentsia, a Academia da Latinidade, um conjunto de pensadores ocidentais e islâmicos para a crítica do diálogo internacional transformado em retórica política, senão em impostura assumida diante da brutalidade do conflito pós-queda das torres em Manhattam. Não se trata mais de invocar-se o lugar comum do choque e seus vaticínios acadêmicos, mas do entendimento do que seja, de fato, a partir de uma “civilização do medo”, o começo de um universo hegemônico, mal raiado o novo milênio. Não se cogita mais também de discutir o cenário do mundo unipolar, como mera exasperação dos colonialismos, ou das dominações conhecidas, ou repetir os paralelos entre impérios, ao fio todo da história, como a conhecemos até hoje. É escapar a realidade do que agora começa, recorrer-se a comparação entre Roma e Washington ou acreditar que o poder universal como o que constrói o Salão Oval tende a se afrouxar, necessariamente, a largo prazo, e exaurir-se pela própria inércia.

  • A convergência das ideologias

    A “Queda do Muro de Berlim”, com a dissolução da União Soviética, foi um marco decisivo da história contemporânea, assinalando o ponto culminante de um processo político-econômico que vinha se desenvolvendo de maneira irreversível.

  • Alexandria e a esquerda global

    A recém-terminada Conferência de Alexandria, organizada pela Academia da Latinidade, começa já a ter as suas repercussões, tanto no debate de seu apelo no Parlamento Europeu entre nós, graças ao inédito acompanhamento pela imprensa, nos rumos da busca mais ampla do que seja uma esquerda no mundo global. Ou melhor, no limite mesmo em que se configura a hegemonia, e o confrontá-la, ainda, com uma alternativa, antes do fechamento do novo sistema. Não estamos mais no bom tempo da dominação, por sua vez herdeira do velho colonialismo, seus epítetos, suas denúncias, mas diante de um complexo inédito de condicionamentos coletivos, em que se afirma rapidamente no pós 11 de setembro a superpotência transformada em reitora das cruzadas do Ocidente.

  • Míssil marcado para Arafat

    A Conferência de Alexandria sobre a nova “civilização do medo”, juntando pensadores ocidentais e islâmicos, numa iniciativa inédita da Academia da Latinidade, terminou com a denúncia do terrorismo de Estado, a recrudescer no mundo hegemônico, exatamente no dia do assassinato do sucessor do xeique Yassim, responsável pela ação do grupo Hamas. E poucas horas depois, Sharon se encarregava de abrir caminho à caça livre a Arafat desertando de vez o diálogo, para armar os mísseis do poder público no extermínio seletivo dos antagonistas.

  • Desconstruindo o diálogo global

    A Conferência de Alexandria, recém-finda, reuniu na Biblioteca reconstruída, e de impacto simbólico incomparável, pensadores do Ocidente como do Islão, para discutir, após a guerra do Iraque, o novo repto à convivência internacional, fundada na construção da paz, e no diálogo como seu instrumento a toda prova. Até agora depararíamos idas e vindas, recuos táticos ou escaramuças maquiavélicas. Mas, de princípio, não se saía da crença na interlocução entre os povos - e na visão das guerras como acidente ou entorses ao progresso mundial.

  • A história é implacável com os estúpidos

    Foi muito oportuna a crise psicológica da Argentina com o Brasil, recentemente divulgada pelo “Clarín”, de Buenos Aires. Oportuna porque revelou, sem formalmente comprometer o presidente Kirchner, seu estado de espírito com relação à política externa brasileira e assim abriu para o governo brasileiro, antes de a crise psicológica se converter em política, a oportunidade de adotar as convenientes medidas corretivas.

  • Hegemonia e civilização do medo

    Realizou-se na semana passada em Alexandria conferência de pensadores e líderes voltados às presentes tensões do diálogo das civilizações, por iniciativa da Academia da Latinidade. Difícil encontrar-se lugar mais simbólico que o da reunião, na Biblioteca quase mitológica para o encontro entre cabeças do Ocidente e do mundo islâmico a enfrentar a ruptura de pontes do pós 11 de setembro. Todo o debate se desenvolveu sobre o tema da hegemonia e da civilização do medo, tônica que Alain Touraine pôde arrematar pela pergunta: o crescente pavor de agora não coloca em perigo de morte o próprio Ocidente?

  • Não higienizemos o futuro

    A Conferência de Alexandria ora em seu remate está gritando a fome de esclarecimento e de reciprocidade de perspectivas, a vencer a civilização do medo, e a depender do trabalho do intelectual à frente do seu tempo. Foram convidadas pela Academia da Latinidade personalidades ligadas ao nervo do pensamento contemporâneo, marcado pela reflexão do pós-moderno; pelo debate, no seio mesmo da hermenêutica islâmica, do que seja o seu horizonte de diálogo; pela paralisia do próprio centro do mundo ocidental, preso à ambigüidade, entre a arrogância e o receio, decorrente da vulneração, pela primeira vez, do próprio “santo dos santos” do território americano, pela catástrofe das torres gêmeas.

  • A elegância de Lula

    Na sua elegância habitual, mas suas boas maneiras pedagógicas, o presidente Luís Ignácio da Silva, por alcunha o Lula, declarou à imprensa que os juros sobem porque os brasileiros não levantam o traseiro da cadeira.

  • Vieira Coelho, um Diógenes Brasileiro

    No mesmo ano em que celebramos duas décadas da morte de Alceu Amoroso Lima - o nosso leigo canônico - perdemos, a 8 de dezembro último, José Vieira Coelho, seu sucessor imediato na presidência da Ação Católica Brasileira nos idos do meio século e do começo dessa interrogação pela Igreja no seio do seu tempo que levaria ao Vaticano II. Paraibano, sucedia ao carioca cosmopolita, ex-aluno de Bérgson, e aberto ao diálogo internacional, a partir da experiência francesa.