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Artigos

 
  • Preservando as espécies

    Em Itaparica, não existe muita preocupação com esse negócio de privacidade, visto que, desde o tempo em que a luz era desligada pela prefeitura às dez horas da noite, o sabido saía com a moça, se esgueirando entre os escurinhos do Jardim do Forte e, no dia seguinte, na quitanda de Bambano, o fato já tinha alcançado ampla repercussão, com fartura de pormenores. O mesmo acontecia em todas as outras áreas e diz o povo que, quando meu tio-avô Zé Paulo, tido como mais rico que dezoito marajás, soltava um pum, sozinho numa sala de seu casarão, os puxa-sacos já ficavam de plantão no Largo da Quitanda e, no instante em que ele passava, se manifestavam efusivamente.

  • Dias de ira

    O prefeito do Rio foi insultado por um cidadão e revidou a ofensa com um soco na cara do cara. Em São Paulo, outro cidadão mal-humorado reclamou do barulho do sapato que os vizinhos faziam. Pegou uma arma, subiu um andar, matou o casal que estava numa boa, voltou ao elevador e nele se matou.

  • A hora dos microcontos

    Não se tem uma conceituação precisa do que seja um conto, na nossa literatura.  Na dúvida, em certa ocasião, perguntamos ao romancista Josué Montello o que seria um conto.  A sua resposta foi instantânea: “Conto é tudo aquilo que chamamos de conto.”  E nada mais disse.                                         Dentro desta concepção, o escritor Marcos Vilaça, quando exerceu pela segunda vez a presidência da Academia Brasileira de Letras, instituiu um original concurso.  Pediu aos usuários do site da ABL (muito concorrido) que enviassem para a Casa de Machado de Assis o que se entendia por microcontos, textos com no máximo 140 caracteres, como se faz no twiter.  Foi um sucesso.                                        Para que se sinta o alcance da iniciativa, publicamos a seguir os três primeiros  colocados:                                         1º) “Toda terça ia ao dentista  e voltava ensolarada.  Contaram ao marido sem a menor anestesia.  Foi achada numa quarta, sumariamente anoitecida.” – Bibiana Silveira  Da Pieve (Rio de Janeiro).                                       2º) “Joguei.  Perdi outra vez! Joguei e perdi por meses, mas posso apostar: os dados é que estavam viciados.  Somente eles, não eu.” – Carla Ceres Oliveira Capeleti (Piracicaba, SP).                                       3º) “Não sabia ao certo onde tecer sua teia.  Escolheu um cantinho de parede da cozinha.  Acertou na mosca.” – Eryck  Gustavo Silva de Magalhães (Guaratinguetá, SP).                                        Deve-se assinalar, nos trabalhos premiados, a inteligência na concisão das frases, a sua elaboração literária e a precisão vernacular, o que para nós é fundamental.                                         Esses predicados, aliás, foram encontrados igualmente em outros microcontos selecionados pelo júri de imortais.  Podemos  exemplificar, com o que foi enviado por João Carlos Pedroso (Rio de Janeiro): “Ele passou a  vida esperando por ela.  Esperou que a vida passasse por ela.  E achou que com ela passaria a vida.  Ela viveu a vida.  Ele passou.”                                          Em seguida, vem o criativo trabalho de Luiz Felipe Marques, de Curitiba: “Na peça de estreia, o velho ator de nunca sucesso bebe com gosto o copo errado.  Grita, cai morto e pela primeira vez é aplaudido.”                                        Vejam  a inspiração de Luís David Venturino, de Bauru (São Paulo): “Apagão.  Alguém bate à porta.  Será um ladrão? O que ele diz: Quero vê-la! Vai embora, maníaco.  “Sou eu, vizinha, quero uma vela! Risos.”                                         É a vez de Cynara Navarro Amorim, de Campo Belo (São Paulo): “Após horas ali parado, contemplando o quadro, já não distinguia o que era  arte e o  que era vida.  Nem sabia mais se ele era mesmo o original.”                                         Outra contribuição de Curitiba (Paraná): “Tadeu tremia todo tempo.  Teresa tornou Tadeu triste: terminou, traiu Tadeu.  Teresa tem Tiago.  Tadeu tinha tudo, também tudo temeu.”  A autora é Karla Tavares Dudas, naturalmente com “t” no sobrenome.  Trabalho e talento.

  • Uma nova educação

    É sabido que durante os primeiros séculos de vida, o nosso país tinha características coloniais, impostas pelo domínio de Portugal. A partir de 1 606, com a vinda de D. João VI e sua corte, vivemos o princípio da evolução cultural, com abras como a Biblioteca Nacional, o Observatório N"acionai, a Academia de Guardas-Marinhas e tantas outras instituições que foram fundamentais para o deslanche do nosso desenvolvimento.

  • Sexo, dinheiro e exploradores do evangelismo

    Avulta, nestes dias, a exploração do evangelismo, a aproveitar-se cada vez mais da nossa subcultura. Do campo político ao da dominação dos crentes, na esbórnia sexual do pastor Marcos Pereira. As fiéis de sua igreja aí estão às portas do presídio, nas fotos da vigília da fidelidade, em batas coloridas e esperas pelo ídolo. Foram salvas pelo sexo, na retribuição exigida pelo abraço do pastor. Inclusive, na organização sistemática de orgias em prédio da Avenida Atlântica. Mas a gravidade maior desta infestação pseudo-religiosa reside na mídia, no anúncio dos milagres de auditório, com a repetida e proclamada cessação de dores, no minuto certo, e o subsequente “agradecimento ao Senhor”, acompanhado da esmola farta. A liberdade religiosa nada tem a ver com a impunidade das trampas destes programas e a passagem à impostura, com a garantia da presença do demônio, nas sextas-feiras, às 5h da tarde. A exploração vai ao exponencial, nas multi-igrejas dos “últimos dias”, e na formação instantânea dos ditos pastores, nascidos das conveniências da hora.

  • Cangaço no Leblon

    Começo de tarde ameno, atmosfera quase modorrenta no boteco. Até o pessoal que se posta nas mesas de fora, para melhormente apreciar a graça e o encanto da aplaudida e famosa mulher leblonina — a qual, no dizer inspirado de Dick Primavera, é o sorriso de Deus e o único consolo neste vale de lágrimas — está meio devagar. O desfile parece um pouco fraco, tudo indicando que as moças e senhoras, em vez de ir à praia, preferiram dormir até tarde, para consternação geral. E, no setor de debates sobre a complexa realidade nacional, o ambiente carecia da presença sempre estimulante do comandante Borges, que não apareceu no último domingo, reunido alhures com sua turma da velha guarda, para juntos rememorarem os tempos gloriosos em que desbravavam os ares daqui e d’além-mar, em aviões de todos os tipos e tamanhos. Recordar é viver, devia estar tirando o atrasado e ia faltar novamente.

  • Medindo o vento

    Essa confusão na base aliada, que só fez recrudescer nas últimas duas semanas, vai continuar até que se tenha definição do quadro econômico. O que está agitando muito a base é a formação de palanques e acordos estaduais para a eleição de 2014. Como a presidente Dilma antecipou muito a campanha eleitoral, problemas que só apareceriam ano que vem começaram a aparecer agora, com a companhia desagradável de problemas econômicos: PIB que não cresce, inflação precisando de controle e déficit recorde da balança comercial.

  • Mea-culpa

    Muitos ficaram chocados com a declaração do papa Francisco, que confessou a sua condição de pecador. Informadores de opinião, cronistas e co- lunistas de vários tamanhos e feitios lembraram os problemas e crises que a igreja está atravessando, e se o próprio papa admite ter cometido pecados, citam os escândalos das finanças do Vaticano e os numerosos casos de pedofilia de bispos e padres.

  • Cérebro e computador

    O cérebro normal de uma criança cresce até os cinco anos de idade e alcança um total de cerca de 90 bilhões de neurônios. Essa verdade não nasceu hoje, quando há um extraordinário avanço em tudo o que se refere à neurociência.

  • Aproximações

    A sensação no Congresso é a de que a presidente Dilma está compreendendo melhor a dinâmica de relacionamento com os parlamentares depois de o governo ter tido que suar a camisa para aprovar a MP dos Portos e visto caducar outras com medidas importantes para seu projeto, como a redução das tarifas de energia elétrica e diversas isenções fiscais.

  • Uma boa escolha

    A atuação do advogado Luis Roberto Barroso na sabatina do Senado que precede sua posse no Supremo Tribunal Federal não me deu motivos para rever o juízo positivo que tenho sobre ele, acatando na coluna, sempre que necessário, suas opiniões, considerado o maior constitucionalista em atividade no país. Já havia expressado esse ponto de vista há dois dias em conversa com o Carlos Alberto Sardenberg na CBN.

  • Acervos museológicos

    Hás alguns anos, isso parecia impossível.  Os responsáveis pela aplicação da Lei Rouanet de Incentivo à Cultura não queriam nem ouvir falar de projetos que passavam pela Educação.  A argumentação era tola: “Educação não tem nada a ver com Cultura.”  Sabe-se exatamente que elas são siamesas, uma não pode viver sem a outra.                                            Ao tomar conhecimento, pela professora Maria Eugênia Stein, da existência do projeto “Acervos museológicos”, de responsabilidade da Secretaria Municipal de  Educação de Belo Horizonte, com apoio na Lei Rouanet, fizemos questão desse registro.  O Instituto Minaspelapaz, em boa hora, levou a termo a ideia  de  democratização do acesso e formação de agentes culturais”, com pleno sucesso.  Quando se quer, se faz.                                            Tomando como escopo a capacidade de inovar, para  alunos e professores, o projeto foi estruturado em quatro pilares.  O primeiro deles foi uma pesquisa de campo realizada em 2010 pelo Instituto Vox Populi, visando ao conhecimento do perfil dos professores da rede municipal de ensino de Belo Horizonte.  A pesquisa também se estendeu ao conhecimento do grau de interesse e disponibilidade dos professores, alunos e familiares, na frequência de visitas aos espaços culturais existentes na capital mineira.  Assim, seria possível ampliar os potenciais e as respectivas  programações.                                             A segunda etapa foi a realização de um curso de pós-graduação em Gestão de Projetos Culturais, na PUC/Minas, trabalhando com 240 educadores.  Num processo de círculos concêntricos, os primeiros beneficiados treinariam os demais integrantes do sistema, repassando conhecimentos.                                             O terceiro  pilar é o  Programa de Imersão Cultural, estimulando os estudantes, com a ajuda dos professores, a intensificar as visitas aos espaços culturais existentes e o quarto pilar é a Olimpíada Cultural, que não faria sentido se fosse uma iniciativa isolada, dissociada dos demais itens.  Na avaliação final, verifica-se como os alunos saem fortalecidos, na sua capacidade de traduzir, em diferentes formas de expressão, os estímulos recebidos.                                            O que é saudável, nisso tudo, é a presença da  Federação das Indústrias do  Estado de Minas Gerais e o patrocínio de empresas do porte da Fiat, Contax, Usiminas, Gerdau e Oi Futuro.  Assim se gerou a possibilidade de uma adequada sinergia, tornando possível a realização vitoriosa desse importante evento, que conta também, para ilustrar os seus módulos, com a elaboração de uma série de vídeos, muito em narrados pelo ator carioca Isio Ghelman.                                             Se a iniciativa merece, pois, os  nossos elogios, não se pode deixar de lamentar que ela seja um feito raro, circunscrito à capital mineira.  O ideal seria que, ainda com o estímulo da  Lei Rouanet, outras cidades fossem beneficiadas, sabendo-se como são raros ou espaçados os incentivos ao aproveitamento do que temos como acervos culturais.  O potencial  para isso é extraordinário.

  • O Brasil anticatastrófico

    A reação brasileira, diante do quadro geral da crise de 2008, já permite um distanciamento a assinalar esta característica de anticatastrofismo, a ser, talvez, um novo dado da nossa cultura cívica. Por força, a dinâmica da nossa economia, voltada, cada vez mais, para o mercado interno, e a queda acentuada da marginalidade social, serviram de para-choque para as ameaças externas. Mas o que sobreleva é esta como blindagem aos pessimismos contumazes, pelo que revela e vem de salientá-lo o ministro Marcelo Neri. É um nível crescente de satisfação, que marca o nosso sentimento de bem estar. Nos índices internacionais, ele vai aos 63% nas tabelas internacionais do nosso IDF – Índice de Desenvolvimento Familiar – e, especialmente, nos quesitos de risco de vulnerabilidade familiar, disponibilidade de recursos, desenvolvimento infantil e condições habitacionais. Mas cai na exigência de acesso ao conhecimento para 38% e, sobretudo, nas incertezas quanto o acesso ao trabalho, lindando os 29%.

  • A responsabilidade do voto

    A participação do ministro Luis Roberto Barroso no processo do mensalão no Supremo Tribunal Federal será muito maior do que ele imaginava. ou desejava, até ontem. Será ele, e não o ministro Teori Zavascki, o primeiro a votar depois do relator e do revisor, no caso dos embargos declaratórios. E também será o primeiro voto na definição do plenário sobre a existência ou não dos embargos infringentes nos tribunais superiores.Embargos infringentes são aqueles que podem reabrir o julgamento quando os condenados receberam pelo menos quatro votos a favor.