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Artigos

 
  • Golpes estatísticos

    O governo deu mais um passo no sentido de melhorar as suas estatísticas econômicas sem necessariamente melhorar a vida dos brasileiros miseráveis de maneira efetiva. Todas as famílias cadastradas no programa Bolsa Família passam a ter a garantia de que cada um de seus membros terá no mínimo R$ 70,00 por mês, faixa que marca o necessário para uma pessoa não ser considerada miserável estatisticamente. O fim da pobreza extrema é o principal mote da campanha de reeleição da presidente Dilma. Ninguém pode ser contra dar dinheiro a miseráveis, como anunciou ontem a presidente Dilma.mas dar a um mero ajuste estatístico no Bolsa Família o tom épico que ela deu chega a ser cruel uso da propaganda política.

  • Delfim Netto e o acordo

    Tenho pelo ex-ministro Delfim Neto um misto de admiração e simpatia.  Os seus feitos nos três ministérios ocupados (Fazenda, Planejamento e Agricultura) são históricos.  Ele foi também muito amigo de Oscar Bloch Sigelmann,  ex-vice-presidente das Empresas Bloch, razão pela qual era comum estarmos  juntos em solenidades e almoços na sede da revista Manchete.  Isto sem contar os seus tempos de embaixador do Brasil na França.  Lembro de uma visita que lhe fiz, em Paris, quando conversamos longamente sobre a situação do país e, naquele momento, as repercussões do chamado voto antissionista na ONU.                                          Sou leitor fanático dos artigos do professor Delfim Neto, que honra o corpo docente da Universidade de São Paulo.  Ele escreve em dois jornais que são minha leitura diária: a Folha de São Paulo e o Jornal do Commercio do Rio de Janeiro.  Pois na Folha, no dia 6 de fevereiro, levei um susto com a apreciação que fez sobre as incidências do Acordo Ortográfico de Unificação da Língua Portuguesa.                                         Levemente desinformado, Delfim criticou os objetivos da iniciativa nascida, segundo ele, de “genitores duvidosos e colocados na “roda” em Lisboa, nos idos de 1990.”  Não é bem assim.  O assunto, muito antigo, foi retomado em 90 por dois competentes “genitores”, os filólogos Antonio Houaiss e Malaca Casteleiro, este último em nome da Academia das Ciências de Lisboa.                                          Aí vem uma contradição do articulista: ele afirma peremptoriamente que não tem competência para avaliar se o Acordo é uma necessidade e sugere que “a tarefa deveria ser deixada às respectivas academias de letras.” Pois foi o que aconteceu, em sucessivas reuniões.  O Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, com os seus 360 mil verbetes, é produto desses encontros e foi editado pela Academia Brasileira de Letras, no caso, com a minha estreita colaboração gráfica.                                         Não havia “encenação, nem conversa”, como insinuou o meu estimado amigo.  O então presidente José Sarney aprovou o Acordo, que foi referendado pelo presidente Lula, em agosto de 2008, numa histórica reunião na ABL.  A ideia é de que passasse a funcionar obrigatoriamente a partir de 1º de janeiro de 2013.  Houve uma completa adesão aos seus postulados, em território brasileiro, mas infelizmente o mesmo não ocorreu em Portugal e num  ou  noutro país lusófono.                                          Alguns linguistas brasileiros venderam ao nosso Governo a ideia de que seria melhor adiar o início para 2016, sob o pretexto de “alinhar tudo à comunidade lusófona”.  Não existe a menor garantia de que isso vá ocorrer, apesar da convicção de que se tivéssemos uma só ortografia (e simplificada, como propõe o Acordo) o fato levaria a ONU a reconhecer o português como língua oficial de trabalho, velha reivindicação dos nossos diplomatas.  Portanto, não há “desacordo” que deve ser celebrado, com fez o nosso prezado professor Delfim Netto.  Pela sua reconhecida cultura, estimava-se que ele estivesse de acordo com a decisão das academias concernentes, aliás, como ele próprio propôs no seu artigo.

  • A França à frente contra o terrorismo

    As declarações da presidente Dilma sobre a eventualidade de um neocolonialismo francês na intervenção militar no Mali levaram à reflexão da opinião pública europeia, quanto ao contraste do lance de Hollande com o acervo habitual de expectativas, da recorrência de presenças militares do Ocidente na África contemporânea. A intervenção nasceu de um evento, literalmente fundador, de uma reação do Estado organizado contra o terrorismo, até agora beneficiado na esteira de Bin Laden, de apoio frontal, como no Iêmen, ou disfarçado, como no Paquistão. O que disparava, a olhos vistos, era a sequencia da Al-Qaeda com lideranças, reconhecidas e proclamadas, em nova onda, a demonstrar largo preparo técnico para a guerra de guerrilhas, e o grande aporte de armas e munições, transferidas após a queda de Kadafi, na Líbia. A região dos novos rebeldes ganhava, por sua vez, um expressivo impacto territorial em áreas vazias, mas geograficamente importantes, no norte do Mali, antevendo uma ocupação duradoura, à falta de fronteiras vivas, neste oeste do Saara. As novas chefias querem um salto estratégico no confronto, superando as ações típicas dos homens-bomba, ou da explosão de edifícios, para o corpo a corpo das ações terroristas, continuadas nos desgastes das estabilidades governamentais, e do alerta permanente contra o abate militar. Sobretudo, buscam a integração de populações nômades, dispersas nos vazios desérticos e incentivadas ao botim dos oásis.

  • Guerra retórica

    No pronunciamento do senador petista Lindbergh Faria para rebater o discurso do senador Aécio Neves na quarta-feira encontra-se uma pista muito nítida do que será a disputa retórica nas próximas campanhas eleitorais, nas estaduais, mas, sobretudo, na de presidente da República. O petista chegou ao plenário em meio ao discurso do tucano, mas tinha assessores designados para contar quantas vezes Aécio pronunciara palavras-símbolo como “povo”, “gente”, “miséria”.

  • Mais três anos, para nada

    No total das palavras em uso, na língua portuguesa, menos de 3% foram afetadas pela simplificação proposta pelo Acordo Ortográfico.  Um número na verdade insignificante, se considerarmos a globalidade do mundo lusófono.  Escrevendo de uma só forma, mas pronunciando cada um a seu modo, poderemos manter a organicidade do nosso rico idioma, hoje submetido a convulsões.                              A história do Marechal Charles De Gaulle tornou-se clássica.  Num dado momento, lançou a dúvida: “O Brasil é um país sério?” Muitos de nós ficamos chocados.  Isso feriu o orgulho nacional.  Agora, a frase voltou à tona, a propósito da decisão do  Governo  de adiar para 2016 a entrada em vigor do decreto assinado em agosto de 2008, pelo presidente Lula, a propósito do Acordo Ortográfico de Unificação da Língua Portuguesa.  Mais três anos, para nada.                               Houve uma adesão quase unânime do lado brasileiro.  Os nossos irmãos portugueses e algumas nações luso-africanas, como Angola e Moçambique, por interesses variados, resistiram à adoção, que tem por finalidade essencial a simplificação da escrita do nosso idioma.  Nada mais do que isso.  E com um claro objetivo estratégico: postular assim a oficialização do português como língua de trabalho  da ONU, o que eleva o nosso status internacional.                               Também aqui há os recalcitrantes, que só agora se manifestam.  Silenciaram em 1990, quando o Acordo foi assinado, e em 2008, quando se estabeleceu o prazo fatal para a unificação pretendida.  Somos obrigados a ler até alguns absurdos, como o comentário de que isso se fez de forma burocrática, sem audiências públicas, ou por “reformadores de plantão”.  Aqui uma clara agressão à memória de um dos grandes brasileiros que se debruçaram sobre o assunto, como é o caso do acadêmico Antonio Houaiss.  Antes de ser cassado, por motivos políticos, dedicou parte ponderável da sua vida, como filólogo consagrado, à discussão interna e externa dessa problemática.  Só colheu aplausos.                                O Brasil aderiu com entusiasmo ao Acordo.  Livros, jornais e revistas passaram a ser escritos com as novas normas.  Centenas de concursos públicos, como é o caso do Enem (4 milhões de jovens), foram realizados com essa marca, aparentemente irreversível.  São  quase 200 milhões de brasileiros que hoje escrevem de forma simplificada.  Mudar  esse quadro não foi desrespeitoso?                                          Numa prova eloquente da sua modernidade, o nosso País aceitou as recomendações da Academia Brasileira de Letras, no que tange às suas 200 mil escolas.  Mesmo as do interior, como se atesta na Olimpíada de Língua Portuguesa, deixaram para trás os tempos de voo e enjoo com acento circunflexo.  De mais a mais, o que muitos desconhecem, há um decreto presidencial em pleno vigor, datado de 1972, que dá à ABL as prerrogativas de ser a  última palavra em matéria de grafia.  Os  mal informados ou mesmo os ignorantes desconhecem isso e aí só nos resta lamentar esse retrocesso.

  • O outro lado

    E, se em vez de insistirmos na comparação entre os governos petistas e os do PSDB dos últimos 20 anos, fizéssemos uma análise mais abrangente, com as comparações da performance brasileira nos últimos dez anos com a própria performance dos governos ao longo da nossa História e, além disso, com as demais economias do mundo, inclusive dos países emergentes? O professor titular de Economia Internacional da UFRJ Reinaldo Gonçalves se propôs a se distanciar da polarização PT-PSDB para analisar a economia brasileira e os avanços sociais nos dez anos de governos petistas, e encontrou quadro bastante desolador, distante da propaganda oficial, a que deu o título “Brasil negativado, Brasil invertebrado: legado de dois governos do PT”.

  • História e tempo real

    O novo livro de Merval Pereira, “Mensalão” (Editora Record) — que será lançado na Livraria da Travessa do Shopping Leblon na terça, dia 26, às 19h —, é um manual de cidadania, destinado a todos os que, embora diante de uma democracia moralmente agonizante, resistem e apostam no amanhã. Porque, em meio aos destroços de um cotidiano politicamente enfermo, ainda é possível identificar saídas recuperadoras. Não por intermédio da mera reciclagem do lixo, mas pela restauração, pela reoxigenação de verdades nas quais continuam a acreditar o homem, o indivíduo social, os verdadeiros cidadãos, a insubstituível Justiça, o Estado de Direito. Aqui se escreve a história transparente do espantoso delito praticado contra os bons costumes democráticos. Aqui aparecem, à luz do dia, “tenebrosas transações” que se escondiam na escuridão da noite dos negócios partidários.

  • Avanços ilusórios

    Durante os governos petistas, a estrutura econômica brasileira iniciou ou aprofundou tendências que comprometem a capacidade de desenvolvimento do país no longo prazo, afirma o professor titular de Economia Internacional da UFRJ Reinaldo Gonçalves em análise da economia brasileira nos 10 anos de governos petistas em trabalho intitulado “Brasil Negativado, Brasil Invertebrado: Legado de 2 governos do PT”.

  • Tudo dentro da normalidade

    O comecinho de tarde anunciava mais calor, no famoso boteco leblonino Tio Sam. Ainda mais agora que uma porta do meio, dessas corrediças de ferro, quebrou e resolveu ficar permanentemente fechada, bloqueando a ventilação. Segundo a opinião geral, a situação deverá perdurar mais alguns meses, enquanto Chico, o filosófico português da Beira Alta que é dono do estabelecimento, resolve se vai consertá-la. Chico pauta sua conduta pelo que chama de Filosofia da Normalidade, segundo a qual ele é normal e tudo o que é diferente dele não é normal. Ele não me falou, mas tenho certeza de que está ponderando sobre se é normal querer a reabertura da porta. Além disso, os calorentos contam com os ventiladores da casa, embora se avolumem as queixas de que a aragem deles esquenta o chope nos copos.

  • Receita para matar a fome

    E assim se passaram dez anos com o PT no poder. Logo no início, quando tomou posse no primeiro mandato, Lula lançou o Fome Zero. Não sei se acabou com a fome, o fato é que dona Dilma quer acabar com a miséria. Faço votos.

  • Guerra interna

    A antecipação da campanha presidencial trouxe consigo questões políticas regionais fundamentais para a consolidação das alianças que sustentarão as candidaturas em 2014. O intuito do governo ao antecipar tanto o início da campanha é justamente pressionar os aliados a assumir o apoio à reeleição da presidente Dilma sem que tenham mais informações do que acontecerá no governo em 2013. Estrategistas do governo estão convencidos de que a reeleição de Dilma só está ameaçada por uma divisão interna dos aliados.

  • Olhar o futuro

    O debate recente sobre a existência ou não de um cadastro único para os programas sociais na transição do governo tucano para o petista é velho de quase dez anos. Os gestores do Fome Zero, que seria um guarda-chuva para os programas sociais da era Lula, criticaram o cadastro herdado do Comunidade Solidária, o que fez a antropóloga Ruth Cardoso vir a público defender os critérios adotados.

  • Os holofotes

    Parece que estávamos adivinhando. No lançamento do meu livro em São Paulo na segunda-feira, conversava com o Carlos Alberto Sardenberg sobre o sucesso que o presidente do Supremo, Joaquim Barbosa havia feito em Trancoso, no fim de semana anterior, aplaudido de pé durante vários minutos pela plateia do festival internacional de música.

  • Tudo acaba no STF

    A derrubada dos vetos da legislação dos royalties do petróleo, da maneira como foi encaminhada pela maioria dos estados, todos consumidores, vai oferecer aos estados produtores — Rio, Espírito Santo e São Paulo — dois caminhos de atuação no Supremo Tribunal Federal. Um, de contestação do próprio processo de votação, pois a matéria teria que retornar à Comissão de Constituição e Justiça para ser novamente avaliada, diante da republicação dos vetos pela Presidência da República para retificar erros da primeira mensagem enviada ao Congresso.