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Artigos

 
  • Democracia, democracia

    Nesta minha tão curta passagem por Londres, acho que, voltando do centro para o hotel, não houve dia em que o motorista do táxi deixasse de parar num tráfego de repente lento, para comunicar que nos atrasaríamos um pouco, porque estava havendo uma manifestação de rua. Da primeira vez, era um animado cortejo dos Soldados de Jesus, composto de uma multidão de peles e roupas de todas as cores, marchando, pulando e dançando atrás de alguns carros de som, dentro dos limites de cordas que lembram as que, no Brasil, isolam blocos de carnaval. O som às vezes parecia também de carnaval, com um batuque animado, interrompido de quando em quando por pregadores que, das plataformas dos carros, arengavam para os seguidores e a plateia da rua.

  • Mediocridade nacional

    Duas casas, uma em Brasília, outra em Goiás, dois partidos que pretendem se revezar no poder, um bicheiro com a esquisita alcunha de "Cachoeira" -e temos aí a agenda da vida pública nacional, que se ramifica no Judiciário, na Polícia Federal e, logicamente, na mídia que dedica espaço e tempo às gravações, aos depoimentos agora chamados de "oitivas", às suposições e chantagens mútuas dos principais interessados.

  • Mercado e democracia

    Em um debate sobre o futuro do capitalismo, promovido pelo Ibmec e pelo Instituto Millenium, de que participei como moderador, os economistas André Lara Resende e Gustavo Franco, dois dos criadores do Plano Real, concordaram em que o mercado é essencialmente um instrumento da democracia, como transmissor de informações e expressão da opinião pública.

  • A sustentabilidade do carioca

    Não herdei de ninguém: foi a vida que me fez cultivar um espírito de porco que os anos aperfeiçoaram. Para usar uma palavra que está em moda: é um espírito de porco que adquiriu "sustentabilidade". Ao menos nesse departamento, eu estou atualizado.

  • Requintes de crueldade

    Fazer com que Lula fosse visitá-lo em sua casa para selar publicamente o acordo político de apoio à candidatura de Fernando Haddad à prefeitura de São Paulo é o ponto de destaque, com requintes de crueldade, dessa aliança, que de inusitada não tem nada, a não ser a marcha batida do PT para escancarar seu pragmatismo à medida que Lula se sente acima do bem e do mal, podendo fazer qualquer coisa para vencer eleições.

  • Rio-92/Rio+20: contrastes e confrontos

    A Rio-92 realizou-se num contexto internacional favorável à cooperação proveniente da redução de tensões com o fim da Guerra Fria. Beneficiou-se da abrangência do conceito de desenvolvimento sustentável proposto pelo Relatório Brundtland, que favoreceu o entendimento Norte-Sul amainando as tensões da Conferência de Estocolmo, de 1972. Teve o lastro do conhecimento produzido pelo IPCC nas negociações que levaram à Convenção do Clima. Contou, no seu processo, com a competência do secretariado da ONU liderado por Maurice Strong e com os méritos do embaixador Tommy Koh, de Singapura, que presidiu o Comitê Preparatório da Conferência e, no Rio, o Comitê Principal.

  • Farsa histórica

    A foto que incomodou Luiza Erundina e chocou o país, do ex-presidente Lula ao lado de Paulo Maluf para fechar um acordo político de apoio ao candidato petista à Prefeitura paulistana (o nome dele pouco importa a essa altura) é simbólica de um momento muito especial da infalibilidade política de Lula.

  • O passado assombra

    A coincidência não deve agradar a Lula, mas dificilmente será possível dizer que se trata de mais um golpe dos reacionários contra o governo popular do PT. Aliás, o noticiário criminal envolvendo o PT indica que o partido há muito vem se metendo em enrascadas.

  • Catástrofes ao cronômetro na América Latina

    É absolutamente inédita a declaração do presidente do Banco Mundial, Robert Zoellick, acreditando no próximo desaparecimento do presidente venezuelano. A reação imediata, de acusação de necrofilia, pelo governo de Chávez, mostra, de qualquer forma, a amplitude do risco, às vésperas das novas eleições, de impacto fundamental no norte da América Latina. O surpreendente da declaração de Zoellick é, já, o da sua antevisão do efeito sobre a economia cubana e, sobretudo, nicaraguense; esta, maciçamente dependente do subsídio venezuelano. E aí está a decomposição dos países bolivarianos nas novas contradições enfrentadas pelas dissidências em La Paz, levando ao exílio em massa dos seus opositores, e à acolhida do senador Pinto, no Brasil. O que pode passar, às vezes, despercebida é a inesperada reaparição das Farc, com assassinatos na própria Bogotá. E, tal, no momento em que a Colômbia chega a níveis inesperados de crescimento sob a presidência Santos, num cotejo a longo prazo com Caracas, não fosse, já, o mau presságio sobre a sobrevivência de Chávez.

  • Novo contrato social

    Diante do documento final da Rio+20, que parece sem ambições maiores que a de alcançar um consenso entre os participantes, sem importar a profundidade dos compromissos assumidos, já começam vários movimentos para tentar avançar além dele, em acordos paralelos que possam suprir sua falta de perspectiva histórica.

  • Dentro da lei

    Embora dentro das normas constitucionais, a deposição do presidente do Paraguai Fernando Lugo pelo Congresso tem claros indícios de que foi o desfecho de uma disputa política que se desenrola praticamente desde que ele chegou ao poder, cerca de 4 anos atrás. Já houvera antes uma tentativa de impeachment quando surgiram as denúncias de vários filhos do ex-padre católico, dois dos quais ele já reconheceu. Há outros na fila.

  • Diferenças

    A diferença entre o que aconteceu no Paraguai e um golpe parlamentar está em que a Constituição do país não foi alterada em uma vírgula para que o processo de impeachment fosse votado.O fato é que o agora ex-presidente Fernando Lugo já não contava com apoio político, pois o pedido de impeachment, liderado pelo oposicionista Partido Colorado, foi aprovado por 76 votos a favor e um contra, com três abstenções.

  • Crônica macabra

    Crônica publicada na "Ilustrada" da última sexta-feira, "Mata! Mas não esquarteja" provocou protesto de leitor, que considerou o conselho mais selvagem do que aquele que foi dado por Paulo Maluf há tempos, "Estupra, mas não mata!", conselho que, aliás, está citado explicitamente no meu texto.

  • O sonho da blindagem própria

    Antigamente, desde os bons tempos do Banco Nacional da Habitação, no século passado, falava-se muito no sonho da casa própria, todo mundo tinha o sonho da casa própria. Hoje, quase não se escuta mais a expressão. Imagino que é porque, como verificamos todos os dias em comerciais de televisão e pronunciamentos oficiais, o governo já resolveu o problema da moradia. Os brasileiros (e brasileiras, vivo esquecendo a nova regra; atualmente, falou no macho, tem que falar na fêmea e, portanto, acostumemo-nos: alunos e alunas das escolas públicas, passageiros e passageiras do voo tal, cavalos e éguas do Jockey Club, cachorros e cadelas do Kennel Club, motoristos e motoristas, fisioterapeutos e fisioterapeutas, governantes e governantas, delinquentes e delinquentas, etc.), os brasileiros e brasileiras, dizia eu, agora são mostrados em filmetes radiosos, cheios de dentes, envergando trajes impecáveis e estampando nos rostos a felicidade. Como os demais compatriotas e compatriotos seus, já moram em espaçosas casas próprias, com área de lazer, esgoto tratado, água encanada, transporte acessível, assistência médica e tudo mais que os governos fazem pelo bem público, com os quatro ou cinco meses de nossos salários que na marra afanam. Abate-se o porcentual normal de ladroagem, de desperdício e de propaganda e o que sobra, embora por vezes não muito, é rigorosamente aplicado em investimentos e serviços públicos.