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Artigos

 
  • Dom Eugenio

    Se fosse muçulmano, umbandista, técnico de futebol, comunista ou lixeiro, dom Eugenio Sales seria o que sempre foi: um homem reto, sincero, fiel a seus princípios e, sobretudo, humano. Acontece que foi sacerdote, bispo e cardeal. Sua trajetória tinha um ponto de referência lá em cima -no caso dele, o Deus no qual acreditava e a igreja à qual servia em tempo integral e em modo total.

  • Kassab e suas lealdades

    O prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, mesmo insistindo em dizer que seu PSD não é um partido linha auxiliar do governo federal, fez questão de dar, desde já, uma demonstração de lealdade ao projeto de reeleição da presidente Dilma com a intervenção no diretório municipal de Belo Horizonte.

  • Esfola! Mata!

    Aprendi, não sei com quem, que não se deve dar dois tipos de chute: em despacho de macumba e em cachorro atropelado. Na realidade, nunca tive vontade nem oportunidade para chutar despachos com farofa e velas acesas, e muito menos chutar cachorros. Daí a maneira como fiquei sabendo de mais uma coisa inútil, entre outras tantas.

  • Demóstenes e a página virada, de vez

    O mais importante do caso Demóstenes é de ser essa a segunda cassação em 188 anos do Senado na República. É o que mostra a solidez de dois componentes da cultura política brasileira, quais o uso das clientelas políticas na representação e, ao mesmo tempo, o sentido profundamente corporativo de seu exercício. A intangibilidade dos mandatários tomou-se regra interna, contornada pelos escassíssimos casos, também, de renúncia, muitas vezes com o cálculo de pronto regresso ao mandato.

  • Livro impresso X livro digital

    Com mais de 700 inscrições, o Congresso Rio de Educação, realizado no Hotel Sofitel, foi um sucesso completo, para alegria do seu inspirador, o professor Victor Notrica, presidente do Sindicato das Escolas Particulares (Sinepe).  Tive o ensejo de coordenar a primeira das suas mesas, que tratou de um tema atualíssimo: “Do livro de papel ao livro digital: uma reflexão sobre o exercício da leitura”.

  • Luz, câmera, esculhambação

    Meu avô de Itaparica, o inderrotável Coronel Ubaldo Osório, não era muito dado a novas tecnologias e à modernidade em geral. Jamais tocou em nada elétrico, inclusive interruptores e pilhas. Quando queria acender a luz, chamava alguém e mantinha uma distância prudente do procedimento. Tampouco conheceu televisão, recusava-se. A gente explicava a ele o que era, com pormenores tão fartos quanto o que julgávamos necessário para convencê-lo, mas não adiantava. Ele ouvia tudo por trás de um sorriso indecifrável, assentia com a cabeça e periodicamente repetia "creio, creio", mas, assim que alguém ligava o aparelho, desviava o rosto e se retirava. "Mais tarde eu vejo", despedia-se com um aceno de costas.

  • Memórias do exílio

    Com o movimento militar de 1964, exilara-se inicialmente na Argélia, depois em Paris. Quando a situação política se normalizou, ele voltou para São Paulo, mas não gostou da vida que levaria no Brasil. Achou tudo muito chato. Tentou o Uruguai, onde ainda tinha parentes, desanimou e decidiu viver e morrer em Paris. Pelo menos, valeria uma missa.

  • Astrologia política

    Atendi a uma repórter que fazia uma reportagem sobre horóscopo e ela, de saída, foi me dizendo: "O senhor, conhecido consultador de horóscopos...". Interrompi: "Minha filha, você está com a informação errada, eu não consulto horóscopos...". "Mas o senhor não usa marrom nem gosta de jacaré empalhado..." "Isso é outra coisa", retruquei, "meu jacaré nada tem a ver com astrologia." E ela, simpaticamente, terminou a conversa: "Vai ver que tem".

  • Admirável mundo antigo

    A faixa etária à qual pertenço tem poucas vantagens. Uma delas seria a de não me admirar de nada do que acontece neste mundo, mais do Diabo do que de Deus. Em criança, acho que eu entendia tudo sem pedir explicações. Chovia porque chovia, meu avô morreu porque tinha de morrer e assim eram as coisas e as pessoas.

  • Vácuo político

    A surpresa radical das opções de voto em São Paulo é a desse empate entre Serra e Russomano para a disputa da prefeitura. E vêm logo as interrogações: o sucesso do evangélico é de um prestígio em queda de suas aparições constantes na TV e, agora, a só viver da nostalgia da sua presença? Ou vamos a um novo vácuo político ideológico preenchido pelos evangélicos, passados, agora, determinadamente, a um protagonismo eleitoral?

  • O estilo peculiar de Jorge Amado

    Numa das sessões da Academia Brasileira de Letras, na hora do chá, tive uma boa conversa com o escritor Jorge Amado, que conhecia desde os meus tempos de Manchete.  Ele costumava ceder à revista parte dos originais dos seus próximos livros, o que sempre se constituía em furos de reportagem.  Na ABL, o tema  era a televisão – e  se adaptações feitas de obras literárias desfiguravam ou não o seu sentido.  Ele simplificou o seu pensamento: “Cedo os direitos, mediante remuneração, e depois não quero nem ver o que fazem dele.”  É curioso que Rachel  de Queiroz, presente no papo, tinha esse mesmo pensamento.  Hoje, quando a Gabriela volta a fazer sucesso, na TV Globo, com uma inspirada adaptação de Walcyr Carrasco, ele mesmo um grande escritor, o assunto volta à baila, na recordação do convívio  acadêmico.

  • Bandidos na vida e no cinema

    O "gangsterismo" foi uma época na vida americana e, em certo sentido, uma época na vida de cada um de nós. Acredito que cada geração teve uma fase de crimes e violências. Foi por meio dos filmes, alguns deles considerados antológicos, que tomamos conhecimento do que havia por lá.

  • A democracia mexicana, para ficar

    A eleição presidencial mexicana da-nos o recado do que seja a maturidade democrática na América Latina, dentro, pode-se já dizer, de um processo irreversível, como pede o mundo da cidadania em que avança o século XXI. Marca, aí, um contraste com os vaivens das repúblicas bolivarianas e a regressão paraguaia a um pré-Estado de Direito. Marque-se, de saída, esta volta do PRI — partido já quase secular —, que assegurou a consciência política do país, o seu laicismo, inclusive a partir da contradição dialética do seu propósito de mudança: o avanço da revolução e, ao mesmo tempo, das instituições.

  • Não sirvo, sirvo-me

    Acho que todo mundo já se intrigou, ou se intriga a cada dia, com a constatação de que a vida pública, segundo os que exercem o poder político, é duríssima e exige todo tipo de sacrifício e, não obstante, ninguém que está no poder quer deixá-lo. É um paradoxo curioso e não duvido que, entre parlamentares, por exemplo, exista quem tenha a cara de pau de afirmar que com isso se demonstra o espírito cívico do brasileiro, disposto a doar a própria vida à nação, pois, conforme está no Hino Nacional, quem adora a pátria não teme a própria morte, quanto mais algumas inconveniências perfeitamente suportáveis para um espírito forte, determinado e norteado por ideais.