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Artigos

 
  • A democracia à busca da Federação

    Repercute, hoje, internacionalmente, o avanço democrático brasileiro, expresso na consolidação do Conselho Nacional de Justiça e no reforço dos direitos humanos, ou, agora, na Comissão da Verdade. Sobretudo, desponta uma nova articulação entre o nosso regime político e o sistema federativo, instalado com a República, mas deixado até nossos dias à margem das mecânicas de centralização do poder. Devemos a Rui Barbosa a implantação na República " do sistema, no estrito transplante do regime americano. Mas chegamos, praticamente, até o novo século sem qualquer regionalização funcional do poder, como evidenciou o regime do "café-com-leite", na Velha República, na troca entre Minas e São Paulo, da nascida instrumentação dos poderes da União.

  • Li Xing

    A crise política que se abateu sobre o Partido Comunista chinês em março, quando uma de suas principais estrelas, Bo Xilai, que comandava a megacidade Chongqing, foi afastado, tem origem em uma disputa em torno da relevância de uma característica subjetiva chinesa que faz parte hoje do ideário do Comitê Central, resgatada nos últimos anos depois de ter sido menosprezada pelo camarada Mao e sua Revolução Cultural, que Bo Xilai queria reviver como parte de um projeto politico oposto ao que está em vigor no país há 30 anos.

  • A CPI do Rabo Preso

    Acho que ninguém acredita que essa CPI vá dar em alguma coisa, talvez nem sequer pizza. Não sei se as normas aplicáveis permitem isso, mas a impressão que se tem é de que, se fosse possível, os responsáveis por sua criação a dissolveriam e sairiam disfarçadamente do Congresso, assobiando com a mão no bolso e olhando para o ar como quem não quer nada - CPI, que CPI é essa, não sei de CPI nenhuma, é tudo invenção da imprensa, tirem esse bicho daí.

  • "Res sacra reus"

    Mais por penitência do que por curiosidade, assisti até o fim à sessão da comissão de inquérito que convocou o Cachoeira para dar informações sobre o atual e vergonhoso escândalo que continua em cartaz.

  • O B e o C

    Como não podia deixar de ser, o papel dos BRICS no cenário mundial foi tema recorrente em várias palestras no encontro da Academia da Latinidade que terminou na sexta-feira aqui em Beijing. Entre Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, na visão do secretário-geral da Academia, o cientista político Cândido Mendes, os poderes emergentes se diferenciam, a começar pelo fato de que existem quatro nações em desenvolvimento e a Rússia “em franca regressão”. Dentre eles, há o protagonismo de Brasil e China, a situação brasileira reforçada pela política externa “de afirmação de independência” no Oriente Médio, de avanço nas ações africanas, mas, sobretudo, segundo ele, de “descontextualização da antiga moldura latino-americana”. Para Cândido Mendes, o Brasil entra nessa globalização não hegemônica que se desenha com parceiros que seriam impensáveis há 20 anos, e nesse quadro o protagonismo de Brasil e China pode ser constatado na expansão das atividades dos dois, e na consequente competição, na África.

  • ESEM + 20

    Vale muito a curiosidade pelo que irão operar as redes escolares brasileiras no acompanhamento crítico da "Rio + 20". Sem o envolvimento estudantil, sobretudo do alunado do ensino médio, perderão substância as campanhas necessárias por tornar o tema da sustentabilidade comum às preocupações das famílias. Sem o interesse dos moços não prospera a campanha. É a aposta no futuro. Por isso persigo o trabalho de avaliação, de participação da juventude seja no que for. É mais do que usar termômetro ou tensiômetro.

  • Fatos e versões

    Não são apenas as versões do encontro do ex-presidente Lula com o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Gilmar Mendes, no escritório do ex-ministro do Supremo e do governo Lula Nelson Jobim que estão desencontradas. O próprio encontro em si não poderia ter acontecido se vivêssemos em um país sério.

  • O túmulo e o sanduíche

    Uma semana em Nova York e paguei dois tributos de visitante classe média: um bom espetáculo na Broadway, com "Porgy and Bess", montado por um extraordinário elenco negro, a música de Gershwin sendo ainda a melhor trilha musical para a cidade; e uma comprida visita às obras do Marco Zero, onde está sendo finalizado o memorial das 2.983 vítimas do atentado de 11 de setembro que derrubou as duas torres do World Trade Center.

  • O papel da mídia

    Nos últimos dias tive a oportunidade de falar sobre o papel da imprensa em situações diversas: ontem, na Academia Brasileira de Letras, encerrei o ciclo de palestras coordenado pelo acadêmico Affonso Arinos de Mello Franco sob o tema geral de "Eleições e reflexões", falando sobre "os direitos e deveres" da mídia.

  • Usos e abusos na língua portuguesa

    Na imprensa portuguesa, vez por outra, publica-se crítica à existência do acordo ortográfico de unificação da nossa língua. Alguns jornais afirmam que os filólogos brasileiros encheram o documento de "bizarrices inúteis", enquanto outros reclamam que a Academia das Ciências de Lisboa, parceira do projeto, errou pelo excesso de "cedências" às hipotéticas pressões neocolonialistas do Brasil. É evidente que nada disso faz sentido. Devemos ter mesmo só uma forma de expressão escrita, para que o nosso idioma passe a ser, estrategicamente, adotado como uma das línguas oficiais da Organização das Nações Unidas. Falar é outra coisa. Cada um segue falando de acordo com a sua tradição. Da mesma forma, não se pode defender a existência interna de uma separação linguística, dividindo o falar do rico e do pobre. O Vocabulário Ortográfico, editado pela Academia Brasileira de Letras, tem 370 mil verbetes, o que é uma amostra da sua força e da disponibilidade das palavras para todos. Machado de Assis fez toda a sua extraordinária obra de romancista com o emprego de somente 16 mil vocábulos.   Temos uma realidade plurilinguística, considerando-se basicamente que a norma padrão (culta) deve ser respeitada nos códigos escritos, pois são esses que, mais tarde, os estudantes terão que utilizar nos seus diversos concursos. Veja-se o que aconteceu na seccional paulista da OAB. Dentre os 20.237 candidatos (bacharéis em direito), o índice de reprovação foi de 92,8°/o, o que levou o presidente Luiz Flávio Borges D'urso a afirmar que "há pessoas que chegam à prova e não sabem conjugar verbos ou colocar as palavras no plural".

  • Sobriedade

    Só não há uma crise institucional no país porque a presidente Dilma está tratando a disputa entre o ex-presidente Lula e o ministro do Supremo Gilmar Mendes de maneira equilibrada, sem envolver o governo. Da mesma maneira, o presidente do Supremo, Ayres Britto, está cuidando de não dar ao fato a dimensão que ele realmente tem, na tentativa de esvaziar suas consequências.

  • A mudança, mesmo, revide à austeridade

    A nítida aceleração histórica que vivemos nestes dias passa do confronto das crises experimentadas pelo Ocidente desde 2008 à confrontação, inclusive, do modelo capitalista, saída da trintena de ouro do último pós-guerra. E é sintomático, portanto, que a recusa ao enfrentamento vá ao exaspero das soluções fundamentalistas e malthusianas, como a despertada pelos 20% dos eleitores franceses de Marine Le Pen, armando-se para um terceiro round eleitoral nas legislativas e querendo uma mini-França, fora da Europa, com restrições à imigração e, no plano do auxílio internacional, rompendo com a economia europeia.

  • O futuro que queremos

    Há muitas reclamações de que a Rio 92 não trouxe resultados concretos e que a Rio+20 talvez acabe na mesma situação, apesar da presença de tantos chefes de Estado.  Não foi diminuído o efeito do monóxido de carbono em nossas vidas e hoje, mais do que questionar o significado da palavra, discute-se a modernidade do termo sustentabilidade, que nem é tão moderno assim.  No Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, da Academia Brasileira de Letras, edição de 2004, lá está o verbete, impávido, na página 741.  Não é, pois, uma grande novidade.

  • João Cabral e a arte da dedicatória

    Mais do que simples protocolos de cordialidade, as dedicatórias de livros podem revelar relações de poder ou ainda desferir dardos acolchoados sob a aparente maciez de um "abraço amigo". Cumpre, desde logo, distinguir as dedicatórias tipográficas — que, de algum modo, intentam tornar pública uma relação particular, eternizando-a na página impressa — das dedicatórias manuscritas, direcionadas, a princípio, ao âmbito privado, mas que muitas vezes o extrapolam, exibidas em bibliotecas públicas ou nas prateleiras dos sebos. João Cabral de Melo Neto era considerado parcimonioso (para dizer pouco) em suas manifestações sobre a literatura brasileira. Ao contrário dos entusiásticos elogios a autores de língua inglesa e espanhola, o que se constata é o caráter minguado da parte que nos cabe nesse latifúndio das letras preferenciais do afeto cabralino.