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Artigos

 
  • Para onde vão as esquerdas europeias

    A prostração da crise financeira na Europa, mesmo se manifeste o caso grego como um fenômeno geral de corrupção, não suscita, apenas, o profundo requestionamento do próprio modelo que assegurou a inaudita prosperidade das últimas décadas. Nem se trata apenas da cupidez dos Executivos e o excesso de ganhos, em que um sucesso especulativo veio, de fato, a comprometer a produtividade intrínseca do sistema. No caso europeu o que estaria em causa, acima de^ tudo, é a exaustão dos recursos fiscais e da mobilização ainda do Estado como mola da estabilidade econômica e social. Tal demonstra, ao mesmo tempo, a perplexidade hoje das esquerdas para promover a mudança do atual status quo europeu. É o que põe em causa já as novas linhas das economias de lazer e de trabalho, no continente cada vez mais da terceira idade, e a discutir os novos limites da aposentadoria e das horas de trabalho de sua economia. Mas, antes das bandeiras de efetiva mudança no seu conteúdo consentido de utopia, que sempre vitalizam as esquerdas, é a seqüela da òrise de 2008 que irá ao abate díessas esquerdas remanescentes no poder, como a de Zapatçro na Espanha.A agudização do contraponto regional na Itália somou a esquerda ao oposicionismo, contra o avanço da liga norte, que conta com a simpatia de Berlusconi, e leva um progressismo indiferen-ciado, a apostar, mais que em qualquer outro país europeu, nas novas dimensões internacionais de seu mercado econômico financeiro. É a mesma polaridade supranacional que levou a um conservatismo crescente às esquerdas alemãs, e a este centrismo milimétrico de que dependem as maiorias da primeira - ministra Merkel.

  • Política com “P” grande

    No centenário de sua morte, ainda hoje não descobrimos o que mais de Joaquim Nabuco celebrar: se a obra intelectual, de que certamente Minha Formação é fulgurante exemplo, ou se a ação do abolicionista, na maior das campanhas políticas que o Brasil conheceu. Entre o intelectual, o político, o parlamentar, o orador e o homem público a quem reverenciar?

  • Rede pública está atrasada

    A propósito da tragédia configurada pelos resultados do último Ideb, que reprovou a educação brasileira, muitas considerações têm sido feitas, umas pertinentes, como a necessidade de valorização do professorado, outras pouco práticas, como a possível federalização do ensino fundamental. O governo central teria condições de responder por essa imensa carga? E haveria competência para isso?

  • A cara (e os números) do Brasil

    O censo que começou no último domingo tem, além de suas finalidades óbvias, um significado simbólico não desprezível. É a marca de um novo Brasil, um Brasil que, para usar a expressão de Cazuza, mostra sua cara, que descobre sua verdadeira identidade – expressa em números. Que nunca desempenharam um papel importante na história, na cultura e no cotidiano de nosso país.

  • A jaqueta mágica

    Moda para a alma: você fica triste, sua jaqueta o acolhe. Pesquisadores criam roupas capazes de detectar alterações emocionais e emitir mensagens de conforto para o usuário. EQUILÍBRIO, 24.AGO.10

  • Bienais

    Sou um profissional do livro, tanto na mão como na contramão, na voz ativa e na passiva. Acho que passei a maior parte do meu tempo lendo ou escrevendo, e confesso que, embora não me justifique, o contato com o livro tem sido o melhor da minha vida – ao lado de outros prazeres, poucos e não bastantes.

  • Conflito e conciliação

    Conciliação e conflito representam importante binômio em nossas vidas, correspondendo mais ou menos ao Eros e Tanatos de Freud, o instinto da vida e o instinto da morte; ou, na mitologia, a Venus e Marte, amor e agressividade.

  • Diagnósticos em debate

    Vocês têm ideia do que seja drapetomania? Provavelmente não. O estranho termo vem do grego, drapetes, fugitivo, e significa mania de fuga. Um diagnóstico médico, portanto. Foi proposto em 1851 pelo dr. Samuel A. Cartwright, da Louisiana, no escravagista sul dos Estados Unidos. Segundo o dr. Cartwright, era um mal que acometia os escravos negros que insistiam em escapar das fazendas. Esse mal, dizia o bom doutor, não tinha tratamento, mas podia ser evitado com a aplicação de chicotadas a escravos rebeldes e também com a amputação – isso mesmo, a amputação – dos dedos dos pés.

  • Gilberto Freire e as duas culturas

    A expressão “as duas culturas” teve origem em uma conferência ministrada em 1959 pelo cientista e escritor Charles Pierce Snow na Universidade de Cambridge,Inglaterra. Publicada em livro, teve enorme repercussão.Snow defendia a idéia de que entre intelectuais e literatos deum lado, e cientistas de outro, há uma distância muito grande,um território que poucos se atrevem a percorrer. Um dos que o fez, e com grande sucesso, foi Gilberto Freyre,homenageado na recente Festa Literária de Paraty. Freyre foi o legítimo homem de vários instrumentos, historiador social,sociólogo, antropólogo, psicólogo, biógrafo, ensaísta,ficcionista, cronista, poeta e pintor, e acima de tudo homem de vasta cultura.

  • O neopopulismo

    Em 1988, eu era presidente da República e Michel Rocard, primeiro-ministro de Mitterrand. Dele recebi com generosa dedicatória um livro, 'Le Cur à l'Ouvrage', que podemos traduzir como 'amor a uma causa'. Tratava justamente de um tema que já àquele tempo aflorava: a morte da democracia representativa, com o enfraquecimento das instituições intermediárias entre o povo e a constituição do governo democrático. Sustentava ele que a tecnologia transformara a mídia em espaço público e passara a exercer o poder que tinha sido do Parlamento. A mídia, pouco a pouco, ocupara o lugar dos partidos políticos, definidos como grupos de pressão que não desejam influenciar o governo, e sim exercê-lo.

  • Onde estão todos eles?

    Uma das gripes que andam por aí, evoluída para uma pneumonia que me manteve fora de combate por mais de um mês, foi um refresco que dei aos possíveis leitores que cultivam o deplorável hábito de ler o cronista. Daí que a última Copa do Mundo não teve qualquer comentário de minha parte - o que constitui mais um triunfo para as cores daquele país.

  • Radicalidade arcaica e despertar político

    O primeiro debate entre os candidatos não suscitou a atenção de mais de 15% dos telespectadores. O começo de campanha não tirou da inércia ainda esta campanha eleitoral, que parece cada vez mais se definir pelos jogos feitos de uma sucessão natural e esperada do governo Lula. O encontro na Band veio ao mesmo tempo em que três institutos de opinião pública confirmam o disparo médio de dez pontos da candidata petista sobre Serra. Mas valeu o susto da radicalidade arcaica, pelo menos como fantasma do que separa as ideologias e uma militância consequente. Veio de Plínio, o octogenário a ser contra o marasmo dos fatos consumados.

  • A primeira pedra

    A questão não chega a ser política, mas religiosa, embora tudo na vida tenha seu lado político ou religioso. No século 21, é espantoso que um fundamentalismo desse tipo ainda seja exercido em nível estrutural de uma sociedade. Contudo, não se pode acrescentar o episódio ao saco de maldades do atual presidente iraniano, que se destaca como vilão da vez no panorama mundial. Matar a mulher que comete adultério fazia parte da moral judaica muito antes de haver Irã e outros países islâmicos. Moisés antecedeu de alguns séculos o profeta Maomé. Temos o conhecido episódio do Cristo com a adúltera. Os judeus levaram-lhe uma mulher que traíra o marido e quiseram saber se deviam apedrejá-la, como mandava a lei naquele tempo. A resposta ficou na história e entrou na linguagem comum do homem comum: “Quem nunca pecou atire a primeira pedra.” Um samba gravado por Orlando Silva fez parte de antigo carnaval e repete a mesma sentença.