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Artigos

 
  • Judicialização da política

    De quem primeiro ouvi a expressão judicialização da política foi do ministro Nelson Jobim, quando assumiu, há alguns anos, a presidência do Supremo Tribunal Federal.Ele expressava o desconforto em que o próprio STF se encontrava, convocado a dirimir querelas políticas que deveriam ser resolvidas pelos próprios políticos, dentro do jogo democrático. Isso é ruim para a democracia e para a Justiça. De um tempo para cá, sobretudo depois que a Constituição de 88 estabeleceu a Ação Direta de Inconstitucionalidade, todo conflito político passou a ter uma segunda instância, que é o apelo a uma solução judicial. Os Poderes harmônicos e independentes entre si passaram a ter um vaso comunicante, que desemboca na tendência de cada vez mais provocar uma enxurrada de leis, muitas delas casuísticas e desnecessárias.

  • Justiça de pedra

    Não é de admirar que, por muito tempo, o apedrejamento tenha sido uma clássica forma de execução no Oriente Médio. Pedra é coisa que não falta naquela região árida. Além disso, pedra representa a natureza no seu aspecto mais primitivo: usada para liquidar a vida humana, a mesma vida que Deus criou a partir do barro, adquire um óbvio caráter simbólico. A morte por apedrejamento é lenta, cruel, impiedosa, uma morte que supostamente deve ser a punição para os culpados de vários crimes: a blasfêmia, a idolatria e, sobretudo, o adultério.

  • Literatura e Futebol

    É uma dúvida que se discute nos meios intelectuais. Será possível existir literatura quando o tema é futebol, o nosso esporte mais popular? O assunto foi debatido na Academia Brasileira de Letras, no seminário “Brasil, Brasis”, com a participação inclusive do técnico Dunga (muito aplaudido).

  • Livrai-nos da tentação

    Andando pelo Jardim do Eden, Adão e Eva avistavam constantemente a Árvore do Conhecimento do Bem e do Mal e seus tentadores, mas proibidos, frutos. Desta maneira, não foi difícil para a serpente induzi-los à transgressão. Será que o mesmo aconteceria se a árvore estivesse a quilômetros de distância, exigindo do primeiro homem e da primeira mulher um longo deslocamento, quem sabe uma viagem? Talvez não. Parafraseando a conhecida expressão, longe dos olhos, longe do estômago. Todo mundo sabe que um refrigerador cheio de coisas apetitosas não perde para fruto proibido algum em matéria de tentação. E o mesmo se pode dizer de um prato cheio. Expressão que, aliás, tem dois sentidos: de um lado significa fartura, abundância; de outro é um apelo à malícia, à safadeza.

  • Machado, doutor honoris causa

    É justíssima a homenagem que a Uni-Rio prestou, por intermédio da reitora Malvina Tuttman, à figura emblemática de Machado de Assis. Ele mereceu, por sua obra, o título de Doutor Honoris Causa desta importante universidade federal, que foi outorgado ao autor de Dom Casmurro em sessão solene.

  • Não existe receita para o sucesso

    Embora os resultados ainda não sejam apreciáveis, é evidente a existência, hoje, de um movimento no sentido do aprimoramento das políticas públicas voltadas ao ensino médio. Valoriza-se a Gestão de Pessoas, com esse fim, priorizando-se a temática da diversidade e do comportamento humano.

  • O direito de mostrar o rosto

    Na próxima semana, estarei na Flip, a já lendária Festa Literária de Paraty, onde participarei em várias atividades, uma das quais aguardo com muito interesse. Coordenarei um painel em que participam dois escritores famosos, o israelense A. Yeoshua e a iraniana (exilada) Azar Nafisi. Se tivesse nascido no Brasil, Azar poderia dizer que seu nome condicionou um destino; de fato, não foram poucas as atribulações pelas quais passou. Filha de um casal conhecido no Irã (o pai foi prefeito de Teerã, a mãe, deputada), Nafisi estudou na Inglaterra e graduou-se em letras na Universidade de Oklahoma. Quando os fundamentalistas tomaram o poder no Irã, começaram seus problemas: recusando-se a usar o véu, ela foi proibida de lecionar na Universidade de Teerã e acabou emigrando para os Estados Unidos. Sua história está em dois livros, o best-seller Lendo Lolita em Teerã e O Que Eu não Contei.

  • O lamento dos excluídos

    Cães excluídos da adoção ganham tratamento vip em SP. Em vez de chihuahuas fofinhos, a advogada Audrei Feitosa, 39, preferiu acolher Kiko, um vira-lata "grande, velho e com dente todo podre". Ela se autodenomina protetora dos cães fracos e indefesos. Para preservar o título, monitora de seu apartamento, em Higienópolis, no centro de São Paulo, o resgate de animais abandonados. Quanto mais idade e problemas de saúde, mais o bicho vira "inadotável", diz. Para os rejeitados, ela e uma amiga mantêm, no sítio de um conhecido em Jundiaí (58 km de SP), cinco canis "de luxo", com ração premium, cobertores e cuidado veterinário. Juntas, pagam a um "caseiro canino"" R$ 200 por animal. Atualmente, são 30. A dona de casa Cleide Jacomini, 51, foi além. Aluga, na Freguesia do Ó, uma casa especialmente para dez cachorros recolhidos na rua. Cotidiano, 5 de julho de 2010

  • O outro capital do Planalto

    A popularidade de Lula, de 84% de apoio, em fins de governo, não levou o País a dar-se conta ainda, e por inteiro, do novo capital de respeito de que gozamos lá fora. Somamos nisto a expansão da prosperidade com a distribuição de renda e o avanço democrático. É por aí mesmo que nos distinguimos dos outros Brics, neste conjunto de nações que hoje se contrapõe às hegemonias cansadas em que saímos do século XX.

  • O problema da agonia teórica

    Normalmente, a banca de Salvatore não está muito movimentada, na hora em que chego para pegar os jornais e, logo depois, o pão na padaria. São mais ou menos cinco e meia e o dia parece amanhecer de mau humor, um friozinho penetrante emperrando juntas e fazendo Salvatore imprecar em calabrês. Na calçada da padaria, um grupo de moças e rapazes, provavelmente saído de uma festa, toma o café da manhã em algazarra, sob os olhares invejosos dos coroas. Claro que também invejoso, percebo que um casal me acena, aceno de volta, sorrio para o grupo. Que beleza, só se tem 20 anos uma vez, penso, antecipando uma volta à casa imerso em filosofias de velho. Mas sacudo a cabeça para espantar bobagens e entro na banca, onde uma sacola já me espera, com os jornais de sempre.

  • O problema do goleiro

    "A angústia do goleiro diante do pênalti". Peter Handke, título de livro, 1970 ELE NÃO poderia ter tido uma infância mais infeliz. Abandonado pelos pais, ambos violentos, ambos transgressores. A mãe, usuária de cocaína, tentara matar uma mulher; o pai tinha sido, mais de uma vez, acusado de furto. Fora criado pela avó, em circunstâncias difíceis.

  • O que falta é vontade política

    Nada menos de 21 Estados brasileiros deixaram de aplicar R$ 1,2 bilhão de reais no ensino básico em 2009. A acusação é do Ministério da Educação (MEC). Esses recursos não foram repassados ao Fundeb (Fundo de Desenvolvimento da Educação Básica). Foram desviados para outras atividades, possivelmente menos prioritárias.

  • Onde está a felicidade?

    Na semana passada, o Informe Especial de ZH divulgou uma pesquisa mundial feita pelo Instituto Gallup com o objetivo de estabelecer o ranking dos países mais felizes do mundo.Empreendimento complicado, esse. Afinal, o que é mesmo felicidade? Uma definição nos diz que é um estado de espírito ou sentimento, caracterizado por prazer, alegria ou satisfação, mas cada uma dessas categorias é também sujeita a discussões, isso sem falar de outros conceitos com base na biologia, ou na psicologia, ou na filosofia, ou na religião. O Gallup não quis entrar nesses detalhes: pediu aos entrevistados que avaliassem a felicidade em suas vidas numa escala de zero a 10 e fez perguntas relacionadas a sentimentos positivos ou negativos. Saiu daí a lista dos países mais felizes no mundo: Dinamarca, Finlândia, Noruega, Holanda, Costa Rica, Canadá, Suíça, Nova Zelândia, Suécia, Áustria, Austrália, Estados Unidos, Bélgica, Brasil, Panamá. Nota-se que, tal como na Copa, a Europa está bem representada. O Brasil está num 14º lugar, provável resultado da combinação da alegria exuberante do Carnaval e do samba com a pobreza, a violência, e o desgosto com nossa Seleção.

  • Para além da paz ingênua

    A reunião da Aliança das Civilizações, terminada no Rio, levou adiante o projeto de desmistificar os impasses de uma nova e ainda possível convivência internacional em tempos da civilização do medo e da guerra de religiões.