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Artigos

 
  • Distorção profissional

    Acompanho com algum interesse a crise aberta dentro do governo a respeito da Lei da Anistia. As posições estão definidas, o único indefinido até agora é o presidente da República. Nos tempos do velho PT, embora com poder decisório, ele mantinha suas hesitações para ganhar tempo e manter o partido em rédeas curtas.

  • Ataulfo Alves, Dalva e Herivelto

    No rastro do grande sucesso da minissérie “Dalva e Herivelto, uma canção de amor”, da Rede Globo, muito bem escrita por Walcyr Carrasco, cabe registrar a participação, nas crises que marcaram a vida do casal, de um sambista que marcou época no país. Trata-se de Ataulfo Alves, que no ano passado teve o centenário de nascimento lembrado, inclusive com o lançamento do livro "Ataulfo Alves - Vida e Obra", de Sérgio Cabral.

  • A medicina como uma causa

    Participei com a doutora Zilda Arns Neumann, que era médica, em atividades da área de saúde pública; mais recentemente, integramos, junto com os doutores Adib Jatene, Cesar Victora e Paulo Buss, entre outros, a Comissão Nacional dos Determinantes Sociais em Saúde, que elaborou um diagnóstico sobre a situação de saúde do Brasil. Formada em Medicina, a catarinense Zilda Arns trabalhou como pediatra e sanitarista. Não era, no entanto, o caráter técnico de sua atividade que impressionava, e fascinava, os que a conheciam. Era, sim, a extrema generosidade que demonstrou na coordenação da Pastoral da Criança, órgão da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (a propósito, era irmã de dom Paulo Evaristo Arns, cardeal arcebispo emérito de São Paulo). Mais de 150 mil voluntários colaboraram com a Pastoral em 30 mil comunidades paupérrimas. Por seu trabalho, Zilda Arns foi indicada, durante três anos seguidos, ao Prêmio Nobel da Paz. Ela representava, melhor do que ninguém, aquilo que, desde tempos remotos, tem sido um característico essencial da atividade médica: a compaixão, o desejo de ajudar os outros. A medicina é hoje uma profissão em grande parte regida pela tecnologia, o que é compreensível, pois as novas tecnologias, aplicadas ao diagnóstico e ao tratamento, salvam vidas sem conta. Mas, ao fim e ao cabo, a prática médica, aí incluída a prática de saúde pública, expressa-se numa relação entre seres humanos, e a compaixão (que não significa ter pena, mas sim refere-se àquela empatia essencial para compreender o sofrimento alheio) é aí um elemento essencial. Foi a compaixão que levou a doutora Zilda ao Haiti, onde veio a falecer.

  • O scanner corporal

    A União Europeia já decidiu, e alguns aeroportos, como o de Amsterdã, já instalaram os seus scanners antiterror, que, no frigir dos ovos, são o big brother mais potente que se podia imaginar, pois podem tirar a roupa de todo mundo, num mundo que já não tem muita roupa. Tudo surgiu quando um terrorista nigeriano burlou todas as formas de vigilância e quase explodiu um avião da Northwest Airlines que voava para Detroit na noite de Natal. A solução foi obrigar todos os passageiros no futuro a passar por scanners, que, se têm a vantagem de evitar essa apalpação a que nos submetem os vigilantes aeroportuários, nos despem logo.A grande discussão que hoje preocupa a liberdade individual é como manter os direitos de privacidade num mundo em que a tecnologia tudo invade e torna esses direitos inexistentes, acabando com os direitos humanos.

  • A disputa da memória

    Granada, 2 de janeiro de 2010. Primeira surpresa para um brasileiro ao tomar o café da manhã no hotel: o jornal andaluz “Ideal” traz em manchete de primeira página que a alQaeda prega mais uma vez a retomada de Al Andalus (a Andaluzia) pelos árabes. A notícia parece maluquice.

  • Clone

    Como muitos, tive meu cartão de crédito clonado. Felizmente, o Banco do Brasil foi rápido em detectar o problema e em adotar as providências (obrigado, gerente Marisa Giareta), e assim o aborrecimento durou pouco. Mas quando recebi o extrato com as despesas feitas por Mr. Clone fiquei impressionado.

  • Rugas & sorrisos

    Existe um tipo peculiar de ruga, conhecido desde a antiguidade como o “ômega melancólico”. Fica no meio da testa e tem a forma da letra grega ômega. É uma evidência da melancolia, aquela tristeza filosófica que no passado caracterizava os espíritos superiores (hoje, falamos de depressão, que não é a mesma coisa). É muito curioso que a ruga faça alusão a uma letra e que é, a propósito, a última do alfabeto grego. Porque podemos dizer que as rugas são, em parte, a vida escrita na nossa face. ***

  • Uma bipolaridade brasileira

    Nesta época do ano, Porto Alegre, à semelhança do que acontece com muitas cidades brasileiras, se esvazia: vai todo o mundo para a praia. Só ficam os autoproclamados membros da Sapa, Sociedade dos Amigos de Porto Alegre, êmula das sociedades existentes nas praias do litoral gaúcho: a Sociedade dos Amigos de Tramandaí, a Sociedade dos Amigos de Torres, e assim por diante. Os afiliados da Sapa podem contar com um trânsito ameno, com restaurantes nunca lotados, com ausência de filas nos cinemas (mas, em compensação, precisam enfrentar um calor infernal. Nem tudo é perfeito).

  • Símbolos em discussão

    Como era de esperar, o Programa Nacional de Direitos Humanos está provocando controvérsias. As questões envolvidas são delicadas, para dizer o mínimo; às vezes, mobilizam antigos ressentimentos e têm inegável conotação emocional. Por outro lado, controvérsia é uma coisa boa, e faz parte do debate democrático. Pior ocorre quando a controvérsia é suspensa, sobretudo pela força. Uma experiência pela qual o país passou e que quer, com toda a razão, evitar.

  • A educação do Brasil em 2016: os mesmos erros?

    Não se trata de exercício de adivinhação. Nem de data aleatória. Penso no Brasil das Olimpíadas de 2016, ou seja, daqui a facilmente previsíveis seis ou sete anos. Por exemplo: ainda teremos 14 milhões de analfabetos puros? O vestibular ficará na saudade? E os salários dos professores estarão próximos de uma remuneração decente?

  • Conflitos e repressão

    Parece piada, mas não é. Na crise aberta no governo por causa da Lei da Anistia, os bombeiros de plantão descobriram um modo de aliviar as tensões. Apelaram para a semântica: onde se lê "repressão política" leia-se "conflitos políticos".

  • O fim da gramática

    Não faço parte do grupo que critica violentamente o Enem. Considero uma boa iniciativa, sujeita a aperfeiçoamentos queestão sendo providenciados pelo MEC, para este ano. Fazer as provas em duas etapas (em semestres distintos) já protege o exame do seu gigantismo, que torna quase impraticável a sua implementação. Vejam o que aconteceu: 38% dos inscritos não compareceram, dando um enorme prejuízo ao erário, pois as provas foram impressas e havia locais e professores para a eventualidade de uma presença integral. Quem paga pela imprevidência?

  • Sem medo do mito Lula

    Nesta abertura da nova década, até onde nos damos conta do que representa hoje a liderança de Lula, neste inédito de um absoluto respeito à democracia e penetração da consciência popular? Não se trata apenas dos 82% de apoio, que desarvoram todas as condições de um status quo de voltar ao poder na percepção do salto destes dois mandatos. Ou do que impeliu o inconsciente social brasileiro para um voto-opção em que, de vez, só existe a mão única para a conquista do desenvolvimento sustentado do país. Esse "povo de Lula" sabe para onde vai, à margem do partido, no eixo das coalizões com o PMDB e impermeável aos escândalos moralistas. Ou melhor, percebe que são abominações próprias ao velho regime brasileiro, de perpetuação da sua cosa nostra, como agora evidencia a permanência de Arruda à frente do governo das propinas mais entranhadas na contabilidade da corrupção brasileira.

  • Haiti

    Quando houve o terremoto em Lisboa, no século 18, Voltaire escreveu o Poema sobre o Desastre de Lisboa (1756), negando a existência de um Deus que consentia numa tragédia de tamanha barbaridade. Diante do desastre, Voltaire perdeu a fé num ser superior que cuidasse dos destinos humanos.

  • Fapesp e desenvolvimento sustentável

    A conferência da ONU do Rio, em 1992, sobre meio ambiente e desenvolvimento consagrou o conceito de desenvolvimento sustentável. São componentes do conceito o vínculo entre a legítima preocupação com o meio ambiente e a não menos legítima preocupação com a economia e a pobreza; a afirmação de que a sustentabilidade do desenvolvimento, além dos requisitos de viabilidade micro e macroeconômica, transita por sua viabilidade ambiental; o reconhecimento dos Outros, vale dizer, tanto dos nossos contemporâneos no espaço de um mundo comum ? e por isso o desenvolvimento sustentável é um tema global ? quanto das gerações futuras, o que significa atender às necessidades presentes sem comprometer o porvir.