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Artigos

 
  • Medicina e ficção

    “Sherlock Holmes”, de Guy Ritchie, com Robert Downey Jr. vivendo Sherlock, e Jude Law no papel de Dr. Watson, é o mais novo lançamento numa longa série de filmes. O que não deixa de surpreender. O personagem foi criado há mais de um século – e sobrevive. Por quê? Em primeiro lugar, é preciso dizer que Holmes é um produto da Inglaterra vitoriana, uma sociedade em que a repressão, sexual, inclusive, era a regra. Os instintos reprimidos emergiam sob a forma de violência física e de crimes misteriosos, como aqueles de Jack, o Estripador. Diante disso, o raciocínio passava a ser a principal arma do detetive. E este raciocínio, por sua vez, tinha uma base científica.

  • Melhorando Picasso

    Ela não entendia nada de arte, não gostava de arte, e sobretudo detestava museus. Mas estavam fazendo turismo em Nova York e, como disse o marido -ele sim, um homem culto, familiarizado com a obra dos grandes artistas- ir a Nova York e não visitar o famoso Museu Metropolitan era um verdadeiro absurdo. Coisa da qual ela acabou se dando conta; a última coisa que queria era voltar para o Brasil e ouvir de uma de suas metidas e arrogantes amigas um comentário do tipo: "Mas como, você foi a Nova York e não visitou o Metropolitan?"

  • Política & afrodisíacos

    Uma noite, em Havana, eu estava assistindo à tevê estatal, quando de repente a programação normal foi interrompida (o que não era raro) para uma intervenção de Fidel Castro. Como de hábito, ele falou horas, sob vários assuntos, mas à certa altura começou a dar conselhos sobre como criar gado. Eu o ouvia, intrigado – será que ele entendia mesmo daquele assunto? – quando de repente me dei conta: não era a informação em si o importante, era o papel que ele estava desempenhando, o papel de uma figura paternal, amistosa. O que faz parte, aliás de um paradigma, nesse tipo de liderança: lembrem o recente exemplo de Hugo Chávez, tecendo considerações sobre a duração do banho no chuveiro. Agora é a vez da presidente da Argentina, Cristina Kirchner, dar recomendações. Algo surpreendente porque, em primeiro lugar, ela não faz exatamente o tipo Chávez ou Fidel (Eva Perón talvez estivesse mais próxima disso). Depois, o tema que abordou. Era a cerimônia de assinatura de um convênio governamental com representantes da indústria de produtos suínos, e na sua fala a mandatária resolveu elogiar a carne suína. O que era de se esperar. Insólito foi o ângulo que escolheu para fazer o elogio. “Comer carne de porco melhora a atividade sexual”, disse , acrescentando: “Além do mais, acho que é muito mais gostoso comer leitãozinho assado do que tomar Viagra”. E aí um depoimento pessoal: no fim de semana o casal presidencial havia jantado leitão assado. O resultado “foi impressionante”. A plateia, predominantemente masculina, ficou surpresa e um tanto constrangida, mas, por motivos óbvios, aplaudiu. O titular da Associação de Produtores Suínos, Juan Uccelli, assegurou que os dinamarqueses e japoneses, grandes consumidores de carne de porco, “têm uma sexualidade muito mais harmoniosa que os argentinos”.

  • No campo de centeio

    Um jovem de 17 anos, de família rica, aluno de um colégio para a classe abastada, leva bomba em quase todas as matérias e tem de voltar para casa. Antes, questiona sua existência até então. Conversa com um ex-professor, a irmã, a namorada, procurando um sentido para tudo o que viveu, e chega à conclusão de que não há conclusão, o jeito é voltar para a casa do pai, que é diretor de uma companhia.

  • Viver custa caro

    Nos planos de Deus, a vida seria de graça. Mas, depois daquela história da maçã, o homem foi condenado a comer o pão regado com o suor do rosto. E a mulher, a parir seus filhos com dor. Tanto o parto como o pão custam caro. Poderiam ser mais baratos, mas a engrenagem social também custa caro, o ginecologista cobra e o padeiro também cobra. E todos acabam pagando.

  • A Educação entrou numa fria

    Segundo relato de historiadores como Pero Vaz de Caminha (o da carta), ao chegar ao Brasil, em 1500, o comandante Pedro Álvares Cabral, natural de Belmonte, Portugal, não se assustou muito com a nudez dos índios que frequentavam a praia (“nada cobria suas vergonhas”). Apesar de uma brisa constante, fazia calor pra valer. Os portugueses suavam em bicas e passaram a invejar a beleza dos naturais e a sua sem-cerimônia.

  • Flor do asfalto

    Uma opinião pessoal, sujeita a chuvas, trovoadas e enchentes como as de São Paulo. Ou piores, porque estanques na memória estagnada do menino que fui sem nunca ter sido realmente um menino. Acho que o mundo era outro. Ao cair da tarde, acendia-se a primeira lâmpada da casa. Minha madrinha era a primeira a saudar a luz que iluminaria o nosso jantar: “Boa noite!” E todos se cumprimentavam, como se estivessem chegando de uma jornada que ficara para trás.

  • As novas profissões

    No quadro da realidade brasileira, é preciso examinar o conjunto de problemas que afetam a nossa juventude. Na faixa etária dos 16 aos 20 anos, por exemplo, o Ipea demonstrou que o desemprego triplicou, no período de 1987 a 2007. A ilusão do emprego a qualquer custo levou muitos jovens a abandonarem precocemente a escola. Na faixa etária de 18 a 24 anos, somente 13% chegaram às universidades. Isso é muito pouco.

  • A Academia e os novos tempos

    O século 21 trouxe uma necessidade ainda maior de se ampliarem os trajetos no sentido de que a Academia Brasileira de Letra seja mais vista e ouvida. Há - e está bem aos nossos olhos - uma geração que parece ter nascido com controle remoto e mouse à mão. Basta um clique e a tela muda. Portanto, é vital que nos afinemos com os moços.

  • O exemplo de Mandela

    As primeiras cenas do filme Invictus, de Clint Eastwood, mostram o carro de Nelson Mandela, recém saído da prisão (por coincidência, há exatos 20 anos; e, outra simbólica coincidência, ele fora preso em 1964), passando entre dois campos de esporte.

  • Matéria de memória

    Recebo da editora as provas para a sexta edição de um romance antigo, escrito e publicado pela primeira vez em 1963. Posso ainda fazer alterações, mas me limito a suprimir alguns advérbios de modo e a alterar uma ou outra pontuação. Machado de Assis fazia melhor, mudava parágrafos inteiros, como confessa na terceira edição de "Brás Cubas".

  • Bandeira branca

    O Carnaval está chegando e, com ele, aquela trégua provisória em nosso cotidiano, mesmo para aqueles que esnobam ou detestam o que por aí chamam de "folia". A vantagem destes últimos é que não precisam fazer nada a não ser deixar o Carnaval passar. E ele passa, inexoravelmente passa, como passam todas as coisas boas e más do mundo, até mesmo as mais ou menos.

  • Outros carnavais

    “Eu, que estou em pleno vigor da juventude -e todos os dias os jornais, ao citarem o meu nome, revelam aos leitores esta minha fraqueza-, fico todo irritado quando ouço essa história de “bom era no meu tempo”, “ah! que saudades do meu tempo” e outros lamentos saudosistas. Bom mesmo é o tempo de hoje.

  • Evoé Momo!

    De uns tempos para cá, as festas coletivas estão ficando cada vez mais misturadas. Natal, Carnaval, Sexta-Feira Santa. Pouco a pouco, se reduzem a feriados que servem para encompridar o final de semana, todos se sentem obrigados a aproveitar de seu modo ou de modo nenhum. Aí pelo interior, no mais fundo do país e do homem, devem boiar algumas ilhas isoladas de tradição, mas nos grandes centros (Rio de Janeiro, São Paulo, Recife, Salvador, Porto Alegre, Belo Horizonte) a festa se resume mesmo na festa e no feriado, às vezes nem lembramos o que estamos comemorando.

  • Vacinar faz bem

    Para a saúde do presidente Lula, o Fórum de Davos poderia representar um risco, e ele fez bem ficando em casa, mas, para a saúde do mundo em geral, marcou um avanço. Isto por causa do anúncio feito por Bill Gates (Microsoft): a fundação que ele dirige vai doar US$ 10 bilhões para estimular a pesquisa de novos imunizantes, e para levá-los aos países mais pobres. “Esta será a década da vacina”, disse Gates.