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Artigos

 
  • A clareza de uma poesia

    Se o parnasianismo deixou saudades e de vez em quando volta, outra tendência há que não foi aproveitada com força total, embora tenha produzido alguns de nossos melhores poetas: o simbolismo. E é natural que tal haja ocorrido. Toda literatura é simbólica, apesar de nem toda literatura ser simbolista. No domínio do simbólico está uma preeminência de forma, aliada a uma exatitude de conteúdos que me parece uma das melhores conquistas da corrente de Cruz e Souza, Antonio Francisco da Costa e Silva, Tasso da Silveira e Cecília Meireles.

  • PF e as buscas

    O irmão do presidente da República, Genival Inácio da Silva, teve sua casa revistada pela Polícia Federal, que buscava elementos comprometedores de suas atividades como intermediário entre particulares e empresas federais. A polícia investiga o tráfico de influência para proteger os negociantes de caça-níqueis. Essa é uma velha história, na qual aparece um parente do presidente da República, muito próximo da possibilidade de obter vantagens do titular do poder supremo e capaz de resolver situações difíceis de um jogo proibido.

  • Decoro parlamentar

    RIO DE JANEIRO - Na primeira legislatura após a queda do Estado Novo, um deputado federal foi cassado por seus pares por quebra do decoro parlamentar. Ele não recebia mensalão, não respondia a nenhuma CPI, mas foi julgado incompatível com a austeridade que se cobrava de um representante do povo, depois de anos da ditadura Vargas.

  • A volta da Guerra Fria

    Deixo de lado os interesses movido pelos integrantes do G-8 na reunião realizada no balneário alemão de Heiligendamm. Fixo-me, exclusivamente, no interesse de observador que vê reacender-se, não sem perigo, embora ainda remotamente, a Guerra Fria entre a Rússia e os EUA. Belicamente, a Rússia não tem mais o seu Exército Vermelho, que fazia tremer todos os obstáculos táticos e estratégicos levantados para defesa do território russo. Também os EUA não sabem como sair do imbróglio na antiga Babilônia.

  • Opinião: Do cinismo ao exorcismo cívico

    Chegamos ao meio do ano com o avanço mais fundo - e talvez irrevogável - do que seja, à custa dos escândalos, o aprofundamento da nossa democracia. Viraram-se as páginas da contumácia com a corrupção, com direito ao cinismo cívico, que permite a exaustão das manchetes, que não se lêem, não se ouvem, tanto a falcatrua passe, do anedótico, a um novo grotesco. Não se repetiu ainda o flagrante dos dólares na cueca dos meliantes. O novo espanto é bom e vem de outro lado, com a polícia a chegar aos gabinetes e à cornucópia das contas da cosanostra, e à família presidencial sem que, do Planalto, algum freio se levante. A reação presidencial à "falta de cabeça" de Vavá deu nova enxurrada de apoio a Lula na opinião pública, que sabe que agora não é só pobre que anda de camburão.

  • Napoleão e Lula

    RIO DE JANEIRO - Pode ser lenda, mas vários de seus biógrafos adotaram a cena e a frase como verdadeiras. Numa de suas batalhas -alguns autores dizem que foi em Arcole, outros em Lodi-, Napoleão tomou a frente de sua tropa e enfrentou a chuva de balas que matavam seus soldados à direita e à esquerda. Um deles advertiu o general para o perigo, Napoleão respondeu: "Ainda não foi fundida a bala que me matará".

  • Empreiteiros e contratadores

    É preciso ficar claro que as obras públicas são submetidas a lances públicos, resultando em melhor aproveitamento para o licitador e que corresponda ao maior número de quesitos submetidos pelo licitante. Supõe-se que o mandatário eleito responda perante a opinião pública e a Justiça quanto a essa licitude. Ao eleger um mandatário, a opinião pública o considera imbuído dos predicados e que, por isso mesmo, dispõe de tempo suficiente para atender à Justiça Eleitoral, que representa os valores jurídicos que devem ser observados em todas as transações que envolvam o poder público e os contratos de obras públicas a serem realizadas. O poder público procura se cercar de todas as maneiras, para que transpareça a óbvia clareza dos negócios em questão. E para proteger o mandatário consagrado pelas urnas como merecedor da confiança do povo que o elegeu.

  • O cerco ao Brasil

    O Brasil sofre na América do Sul uma onda de hostilidade cujas motivações são absolutamente demagógicas e populistas. Nossa conduta com nossos vizinhos sempre foi exemplar. Esse quadro exige de nossa diplomacia um trabalho equilibrado e competente, que ela tem exercido bem, com o aprendizado da arte de engolir sapos.

  • Consolidação legislativa

    “O parlamento não é fábrica que deva recomendar-se pelo número de projetos que elabore ou pela rapidez com que os produza... Às vezes a maior virtude de um parlamento está precisamente no número de projetos que elimina ou depura, que corrige ou substitua, depois de estudo quanto possível minucioso dos assuntos.” A observação é de Prudente de Morais Neto, jornalista descendente do ex-presidente, que escrevia sob o pseudônimo de Pedro Dantas, e está registrada no livro Quase Política, de Gilberto Freyre.

  • Quanto mais velho, melhor

    A frase lembra o  que se diz sobre o vinho. Estamos pensando em seres humanos, apesar de abominarmos a palavra “velho”. Uma vez, o arquiteto Oscar Niemeyer, às vésperas dos 100 anos, disse-nos que “a velhice é uma droga”. Na mesma época, Fidel Castro fez o seu depoimento: “Nenhum perigo é maior do que os relacionados com a idade e uma saúde da qual abusei, no tempo que me correspondeu viver.”

  • O obsoleto Brasil dos amigões

    O atabalhoado da crise nessas últimas semanas leva a novas conquistas democráticas. Ainda em susto, continuamos a acreditar que a melhoria de um sistema se faz sempre harmoniosamente, em progressão imperceptível. Ao contrário, é aos trancos e barrancos que se chega agora a um novo Brasil que aperfeiçoa as suas instituições. E o que mais reconforta é ver o quanto a sociedade civil se espanta jubilosamente com a novidade e a quer, para ficar.

  • Maura Lopes Cançado

    Lia pouco, observava muito; sua frase era simples, não erudita, mas de uma precisão cruel Sinceramente, não fiquei surpreendido. Em 2003, quando fazia uma série de palestras na Sorbonne (Nantes, Lyon, Rennes e Paris), um jovem professor pediu-me para falar sobre Maura Lopes Cançado, cujo livro "O Hospício É Deus" estava estudando para uma tese de doutorado na própria Sorbonne. Ele sentia dificuldade em encontrar material crítico e biográfico sobre a autora, sabia vagamente que eu fora seu amigo -estava citado no livro- e guardara uma crônica que eu publicara na Ilustrada há tempos, falando de Maura e um pouco de sua personalidade humana e literária. Passa o tempo e recebo, no último sábado, a visita de uma aluna que a escolheu como tema de sua tese de mestrado na PUC-Rio. Forçando a memória, lembro que, no passado, estudantes de faculdades espalhadas pelo Brasil já me haviam escrito pedindo informações sobre Maura, que também tem outro livro publicado ("O Sofredor do Ver") e uma série de contos no "Suplemento Dominical" do "Jornal do Brasil", no final dos anos 50. É um fato mais ou menos comum em todas as literaturas: escritores de talento, alguns beirando a genialidade, passam desapercebidos por seus contemporâneos e somente aos poucos vão conquistando espaço entre os estudiosos fatigados de analisar as obras já exaustivamente analisadas pela massa crítica que se forma nas academias, nas editoras e na mídia. Temos alguns exemplos entre nós -e o de Maura me parece o mais recente e emblemático. Morreu há pouco, esquecida e conformada, aparentemente curada da loucura que a levou a diversas internações em hospícios e clínicas psiquiátricas. Não mais escrevia, não procurava ninguém e por ninguém era procurada, a não ser por seu filho, Cesarion Praxedes, que morreu dois anos atrás. Naqueles anos, eu também colaborava no "SDJB" e freqüentava o andar ocupado pelo suplemento, cuja fauna está toda citada nos livros de Maura: Reynaldo Jardim, Ferreira Gullar, Assis Brasil, Mário Faustino, José Guilherme Merquior, Carlos Fernando Fortes Almeida, José Louzeiro, Alaôr Barbosa, Walmir Ayala, Barreto Borges, Oliveira Bastos e outros que agora não lembro. Reynaldo Jardim foi o criador e era o editor do "SDJB", recebeu um conto de Maura e ficou entusiasmado, publicou-o na primeira página, na diagramação competente de Amílcar de Castro. Foi o início de uma série de contos magistrais; falou-se em Katherine Mansfield, em Mary McCarthy e, principalmente, em Clarice Lispector, que parecia a influência mais próxima da desconhecida contista. Estava longe de ser uma imitadora. Seu universo era mais denso e concentrado naquilo que, mais tarde, ficamos sabendo ser a sua loucura. Eu havia estreado na literatura em 1958, e Maura me procurou, dizendo que desejava escrever um romance. Tirei o corpo fora, não se ensina ninguém a escrever um romance, um ensaio, uma poesia. Ajudei-a apenas materialmente, dando-lhe uma máquina de escrever. O resultado foi "O Hospício É Deus". Não se trata de um desabafo. Mas de um mergulho complicado no seu universo interior, quando a matéria da carne se decompõe antes da morte, e sobra apenas a convulsão, "a noite escura da alma" (Maura nunca leu São João da Cruz). Convulsão que ela experimentou fisicamente na série de eletrochoques, nos acessos de cólera contra o mundo e contra a humanidade. Em duas de suas crises mais violentas, matou uma enfermeira e um namorado, cumpriu pena em presídios psiquiátricos, foi libera- da por parecer de médicos que a examinaram e por juízes que absolveram. Era doce quando superava a loucura, amante, querendo aprender tudo para melhor desprezar o mundo e a humanidade. A literatura poderia ser o seu refúgio, se Maura acreditasse nela mesma e na própria literatura. Lia pouco, observava muito; sua frase era simples, não erudita, mas de uma precisão cruel. Não era feia, mas se julgava belíssima. Adolescente em Minas, ganhou um avião de seu pai, pilotava bem, batizou o aparelho com o nome de seu filho, Cesarion. Um acidente cortou a sua carreira -aliás, ela nunca pensou numa carreira, queria apenas ser ela mesma, com as suas manias, o seu sofrimento de ver o mundo e as coisas, a sua loucura, o seu deus.

  • As senhoras têm assunto

    Do Oiapoque ao Chuí, as senhoras dedicadas a causerie estão agora com a agenda cheia, podendo falar à vontade, graças às aventuras de Renan Calheiros, presidente do Senado brasileiro, e Mônica Veloso, comunicadora, 38 anos, que tem uma filha de três anos com o senador. O que se viu na entrevista franca da jornalista Mônica foi a preocupação em deixar claro que Renan não fornecia dinheiro público, mas sim dinheiro de uma empresa particular com negócios no governo e habituada ao lobismo em números altos.

  • Lições da Rio-92

    No dia 14 de junho, há 15 anos, encerrou-se a Conferência da ONU sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, realizada no Rio de Janeiro. A Rio-92 inaugurou o ciclo das importantes conferências sobre temas globais patrocinadas pela ONU na esperançosa década de 90. Foi a primeira grande conferência diplomática pós-guerra fria e por esta razão não foi moldada pela polaridade Leste-Oeste. Teve alcance inovador, como, por exemplo, a assinatura da Convenção sobre Diversidade Biológica, e desdobramentos importantes. O mais notório foi a antecipação da ameaça do aquecimento global. Este teve na Rio-92 o seu enquadramento inicial, com a assinatura da Convenção-Quadro sobre Mudança do Clima, que tratou da estabilização do lançamento de CO2 na atmosfera.