Enganam-se os que acham que, assim como nos faltam natais nevados, ondas havaianas, uma língua mais moderna e tantas outras benesses que a Natureza e a História nos negaram, também somos pobres em episódios de espionagem. Manda a honestidade reconhecer que não temos nenhum James Bond, embora advirta a verdade, irmã da honestidade, que os ingleses também não, ainda mais com aquela estampa de Sean Connery e saindo do mar numa roupa de mergulho que, despida, revela por baixo um smoking impecável. É, não temos, do mesmo jeito que não temos filmes com Jeffrey Hunter, em que ele, armado apenas de um fuzil-metralhadora (que só tinha a vantagem de nunca precisar ser recarregado), tomava sozinho uma ilha do Pacífico, mais cheia de japoneses que a fila do Louvre. Ou Audie Murphy, encarapitado na torre de um tanque Sherman, destroçando oito divisões Panzer da Wehrmacht e tomando de volta a Ucrânia, ou a Polônia, ou ambas, bons tempos.