Portuguese English French German Italian Russian Spanish
Início > Artigos > Artigos

Artigos

 
  • A idade da sabedoria

    Os meus colegas de turma estão entrando na casa dos 70, o que logo me obrigará a seguir com eles. Me vejo, então, pensando nessa coisa misteriosa que é o tempo. Como os filósofos já explicaram, não se trata de entidade unívoca. Pode às vezes enroscar-se como gato em varanda ensolarada, e assim ficar por décadas. De repente dá um salto, e nada mais será como antes.

  • Espiões que saíram do frio

    Os jornais de ontem trouxeram em manchete a revelação de que os Estados Unidos mantinham bases de investigação, via satélite, em vários países, inclusive no Brasil, cujo governo, na época exercido por militares, dera licença para que tais bases fossem instaladas.

  • Descaminhos do governo

    Quem está perdido não escolhe o caminho. Na ânsia de dar respostas aos anseios das ruas, a presidente Dilma se embrenha pelo perigoso caminho de tentar jogar sobre terceiras pessoas a responsabilidade pelas carências dos serviços públicos brasileiros, quando não busca respostas diversionistas para apresentar soluções fáceis para questões complexas.

  • Juízo é bom

    O plebiscito morreu, viva a reforma política. Se tiverem juízo, os políticos não darão por encerrado o assunto e tratarão de alcançar um consenso, inatingível nos anos anteriores, para reformar os sistemas eleitoral e partidário hoje vigentes, que favorecem o distanciamento entre o eleitor e o eleito, dando a sensação ao cidadão de que não está representado pelo Congresso e os partidos que nele atuam.

  • Já estamos no lucro

    Começamos a ingressar, com a dose combinada de inércia e descrença, em um clima de final de Copa. Onde estamos, aonde vamos? Quem ganhou? É o delírio finalista formatando a compreensão da história.

  • Acusação injusta

    O título do filme dinamarquês “A Caça”, do diretor Thomas Vinterberg, pode suscitar duas linhas de raciocínio: a caça aos cervos, comum nas áreas rurais daquela região, ou a verdadeira caçada humana levada a cabo contra o professor Lucas, de uma escola infantil, injustamente acusado da prática de pedofilia.  A interpretação fica com os espectadores do filme premiado.                                                              O caso lembra, no Brasil, o que ocorreu na Escola Base de São Paulo, em que os seus diretores foram sumariamente condenados, sobretudo pela opinião pública, para depois a justiça decretar que eles eram inocentes.    A nossa sociedade está muito atenta a esse tipo de problema, o que não impede que se registre um lamentável aumento da sua incidência.                                                                Na nossa opinião, pela falta de uma atenção maior dos pais ou pela existência de lares desestruturados, que dão margem a esses desequilíbrios.                                                              Estabelece-se na película uma paranóia sexual,  a  partir de uma confusa acusação de Klara, uma lourinha de seis anos de idade, que  tem uma estranha fixação pela figura do professor e se sente rejeitada por ele.  Sendo vizinhos, de pais amigos, ela costumava pegar carona do mestre, na caminhada matinal até a escola.  Ainda por cima, tinha enorme atração por Fanny, uma doce e peluda cadela, que vivia confortavelmente na casa de Lucas.                                                             Do tipo simpático e afável, o professor era recebido diariamente na escola com sustos e brincadeiras por parte das crianças, que demonstravam grande estima por ele.  Tudo caminhava  bem, na placidez daquela pequena comunidade, quando a diretora da escola, notoriamente incompetente, desconfia de que Klara tem um importante segredo guardado: ela entrevista a menina e, sem muitos cuidados, a leva a confessar que o professor  tinha mostrado suas partes íntimas para a menina.  Insegura, a diretora recorre a outro incompetente, um assistente social, que numa entrevista de cinco minutos   conclui direto que a menina não mentia.                                                             A diretora convoca uma reunião de pais e professores e confessa o exercício de pedofilia.  Não resta outra alternativa senão demitir  o professor .  Em seguida, como é natural, ele é  execrado por colegas e amigos, entre os  quais os pais de Klara.  Todos reagem contra o que seria uma barbaridade, inusitada naquela localidade.  Lucas tenta levar a vida em sua casa, mas a acusação produz efeitos atômicos: vai fazer compras no supermercado e  é proibido de estar ali.  Briga com um dos funcionários.                                                             Divorciado, consegue atrair o filho para a  sua companhia.  Vai o garoto às compras e também é proibido pelo dono da loja.  Havia um nítido esquema de sufocar o alegado “criminoso”, totalmente inocente.  Klara se desdiz, afirmando aos pais que inventara “umas besteiras”.  Não adianta nada.  Ele é preso e levado para a cadeia.  O único que o defende, ardorosamente, é o filho valente, que dá enorme demonstração de amor.  Briga pela inocência do pai.                                                             O  caso se generaliza e outras crianças também acusam Lucas, alegando que tudo se passava no porão da sua casa.  A Justiça liberou o acusado.  Na sua casa não tinha porão.  Além disso, em casos comprovados de pedofilia, assinalam-se nas vítimas diversos desvios de comportamento, o que não ocorreu.                                                            Cabe ainda um  último comentário: por que o professor se manteve sempre na defensiva? Na verdade, só uma vez, no supermercado, deu uma cabeçada no vendedor que o inibia nas compras.  De resto, vai sendo aos poucos desconstruído, sem demonstrar a revolta que dele se esperava.  Questão de temperamento ou covardia?  É mais uma dúvida que fica para a discussão entre os espectadores do filme, premiado no festival de Cannes.

  • Os sacrifícios do poder

    Estarrecido, contemplo a foto de duas autoridades de Brasília. Severamente trajados, como autoridades que se prezam, a cara severa de quem cumpre um dever sagrado, eles estão concentrados na função de beber um copo d'água.

  • Pelas barbas da história

    Para complicar ainda mais o cenário nacional, a CUT e a nave-mãe que é o PT decidiram aproveitar a onda de protestos que nasceu meio misteriosamente, mas desvinculada de qualquer caráter partidário, apresentando suas reivindicações de forma inédita no país. As ruas reclamaram, principalmente contra a corrupção instalada na máquina do poder. E melhorias nos serviços essenciais do Estado: saúde, educação, segurança etc.

  • A morte anunciada do protesto

    O impacto das marchas e desordens nas principais cidades do Brasil, sobretudo no Rio de Janeiro, evidencia este paradoxo entre o avanço da cidadania e o desfigurar-se da mobilização pelo vandalismo crescente, na sua cauda. Só se reforçam, ao mesmo tempo, os empenhos de manter a nitidez da mensagem, ao evitar todo o contágio partidário, sobretudo das legendas radicais. O recado é o do próprio símbolo da insatisfação geral com o estado de coisas da nossa vida pública, e o imperativo de mudança.

  • O fator Lula

    Na medida em que a fragilidade política da presidente Dilma vai ficando evidente, a expectativa de poder do PT e de partidos aliados transfere-se preferencialmente para o ex-presidente Lula, que está calado em público, mas agindo nos bastidores, dizem as boas almas para fortalecer a presidente Dilma. Os céticos vêem na ação do ex-presidente manobra para garanti-lo como a alternativa de poder quando chegar o momento certo.

  • Do tostão ao milhão

    As atuais manifestações de rua, com Incríveis passeatas reivindicando melhoria nos transportes, na saúde e na educação, entre outras, já tiveram diversas versões anteriores (a mais antiga é de 1840). Tendo sido capital por muitos anos, ê natural que a maioria Lenha acontecido no Rio de Janeiro, onde também ocorreram as mais robustas, como agora mesmo a que reuniu mais de 300 mil pessoas, sob inspiração das redes sociais. Houve perplexidade inicial diante das possíveis razoes do movimento.

  • Marques Rebelo: a estrela sobe

    Marques Rebelo notabilizou-se com esse pseudônimo.  O seu nome verdadeiro era Eddy Dias da Cruz, carioca nascido em 1907 e que viveu na sua cidade até o ano de 1973, quando faleceu aos 66 anos de idade.  Faz parte de um grupo de elite de escritores cariocas, entre os quais podemos citar Machado de Assis, Lima Barreto e o nosso confrade Carlos Heitor Cony.                                         Bisneto do II Barão da Saúde, chegou  a estudar três anos de Medicina, no final da década de 20, mas abandonou os estudos para dedicar-se de corpo e alma ao jornalismo e à literatura.  Mais tarde concluiu o curso de Ciências Jurídicas e Sociais na Faculdade Nacional de Direito da então Universidade do Brasil.  O seu pendor, no entanto, estava mesmo voltado para a literatura.                                        Adepto da escola realista, escreveu  o primeiro livro em 1931, com o título de Oscarina.  Depois vieram Três Caminhos, do qual  o conto Vejo a lua do céu tornou-se telenovela; Marafa; o clássico A Estrela Sobe (1939) e em seguida o não menos famoso O Espelho Partido.  Escreveu também diversos contos, a peça teatral Rua Alegre, em 1940, crônicas, biografias (dedicando-se à vida e obra de Manuel Antonio  de Almeida, literatura infantojuvenil (10 livros) e literatura didática, em que se insere a Antologia Escolar Portuguesa, de 1970.                                       Homem incansável, foi  autor de inúmeras traduções, como a de Ana Karênina, de Tolstói, em 1948, além de ter alcançado outros autores, como Flaubert, H.G. Wells, Júlio Verne, Balzac e Franz Kafka.                                      Tive o prazer (imenso) de conhecer pessoalmente Marques Rebelo.  Foi no começo da minha carreira jornalística, no idos de década de 50, quando trabalhava no jornal “Última Hora”.  Samuel Wainer, em sua época dourada, comprou também a Rádio Clube do Brasil (PR-A3).  E entregou a direção ao seu amigo Eddy Dias da Cruz.  Ele logo valorizou o lado jornalístico da emissora e deu força ao setor de esportes, dirigido por Raul Longras.  Havia uma parceria muito estreita entre a rádio e o jornal, tanto que muitos repórteres da “Última Hora” eram apresentadores na emissora de rádio, entre eles eu me encontrava, transmitindo notícias – e até jogos de futebol, como ocorreu na estreia com um Fluminense x Portuguesa, no campo do América F.C.                                      Por falar no clube de Campos Sales, Marques Rebelo era completamente apaixonado pelo América, ao qual dedicou muitas crônicas de  louvor e encantamento.  Era levado por um pensamento que ficou  para sempre guardado: “Nenhum minuto é  vazio, desde que possamos sonhar.”                                    E tivemos  a vida acadêmica de Marques Rebelo, a partir de 1965, na cadeira nº 9.  Ao tomar posse, revelou-se “um carioca de  Vila Isabel, bairro que tem nome de princesa, mas é proletário e pequeno-burquês, e cuja gente humilde foi o básico material de sua ficção e do seu amor.”  Marques Rebelo chegou a participar da diretoria da Casa de Machado de Assis, depois de retratar a cidade nos últimos anos pré-industriais, quando na Tijuca ainda se faziam serenatas, a Lapa estava no auge e casais de namorados passeavam de bonde.

  • Mal-entendido fatal

    O presidente da seção do Rio de Janeiro da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) Felipe Santa Cruz nega que tenha feito um pacto com o comandante da Polícia Militar para que não fosse usado gás lacrimogêneo ou bombas de dispersão nas manifestações, mas admitiu que fez “algumas ponderações”.