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Artigos

 
  • Uma visita a Aparecida

    Houve quem achasse que o Papa Francisco foi pouco incisivo naquele primeiro discurso do Palácio Guanabara (ou seria no “bunker” do Guanabara?). Não penso assim. Ele se comportou como pessoa educada, que bate à porta e pede licença para entrar. E, sendo argentino, não ia mesmo deitar falação sobre política brasileira.

  • O fundamentalismo pós-democrático

    O imprevisível avanço, na última década, da "guerra de religiões" só se acelera, hoje, com a debilidade do implante da democracia, entendida como o marco definitivo da modernidade. De saída, pela perplexidade do impasse da Primavera Árabe, marcada pelo retrocesso democrático, após a queda das ditaduras na Tunísia, no Egito e na Líbia. O afastamento de Mursi inquieta, exatamente, pela quebra das regras do jogo, no golpe literal infringido à primeira presidência constitucional do país. O que estaria em causa seria o limite dentro do qual a garantia das maiorias eleitorais seria empolgada por uma dominante religiosa, tal como evidenciada pela Fraternidade Muçulmana. É nesse mesmo limite que a Primavera Árabe ressente-se da força da contradição interior na sua identidade, e do advento possível de um Estado religioso e muçulmano como o seu resultado. Retoma-se, no pressuposto da vigência democrática, o mesmo confronto da volta da sharia iraniana, na repulsa mais funda do implante, já multissecular, da dominação ocidental em toda a região. Da mesma forma, o novo levante de facções budistas em Mianmar extrema essa nova "guerra de religiões", no empenho de eliminar completamente, senão reduzir, os direitos das franjas islâmicas desse país ganho à independência, após o Raj britânico.

  • Política com P maiúsculo

    O Papa Francisco fez ontem, na visita à favela da Varginha, seu discurso mais político, referindo-se às recentes manifestações ocorridas no país de maneira positiva, encorajando a que os jovens permaneçam na sua luta contra a corrupção. Com outras palavras, retomou análises que fizera anteriormente, desde que assumiu, sobre a nobreza da ação política. Para ele, envolver-se na política é a obrigação de um cristão, pois a ação política é “das formas mais altas de caridade”.

  • Um papa esquecido

    Não estou muito a par, mas me parece que um importante aniversário foi esquecido. Mês passado, completaram-se 50 anos da morte de João 23. Deve ser calhorda comemorar mortes, mas é uma forma, razoavelmente decente, de outros homens lembrarem e cultuarem aqueles que realmente merecem. E poucos homens mereceram tanto quanto Angelo Roncalli, um camponês grosso e quase inculto que chegou ao Papado de surpresa e, de surpresa em surpresa, mudou não apenas o perfil da Igreja, mas influiu de tal forma em seu tempo que também mudou o século.

  • Um anti-Ratzinger?

    O que fazer com as meninas simpáticas que vêm me dizer: “Estou apaixonada pelo Papa”? Só posso responder que elas têm razão, que este senhor argentino, largo de corpo, levemente barrigudo, é digno de todo o nosso amor, porque é tão evidente que ele é bom, é honesto, é um pai espiritual...

  • Milagres eletrônicos

    As novidades, no campo da informática, são diárias. Ou mesmo de minuto a minuto se toma conhecimento de algo surpreendente, em termos de avanço científico e tecnológico.

  • Além da retórica da pobreza

    O Papa dos confins faz, agora, ao Brasil, a primeira viagem fora do cenário de Roma, na busca da sintonia com o nosso tempo. Depois do Vaticano II, investe-se da responsabilidade de um recado, e esse não pode escapar ao profético, no magistério da Igreja. No capital de expectativa que granjeou, só reforça a sutileza nos gestos, ao lado das palavras e da visão implacavelmente pública de cada um de seus passos. Soube, já, evitar a retórica fácil da simplicidade, no manter um cotidiano, tão seu, do ex-arcebispo de Buenos Aires, no descarte do luxo pontifício, desde a troca da cruz peitoral.

  • A máquina petista de Dilma

    Uma pesquisa acadêmica sobre a elite da administração pública, os ocupantes de cargos de Direção e Assessoramento Superiores (DAS) níveis 5 e 6 e de Natureza Especial (NE) - 1.146 nomeações nos governos Fernando Henrique, 1.150 no primeiro governo Lula da Silva e 1.198 no segundo e 1.233 nomeações entre 1º de janeiro de 2011 até o fim de dezembro de 2012 no governo Dilma Rousseff – coloca luz sobre as relações partidárias, sindicais e políticas das nomeações e traz uma novidade intrigante, diante da crise de relacionamento entre ela e o PT: a presidente Dilma fez o mais partidário dos governos petistas.

  • Pensamentos Franciscanos

    Em termos de pensamento religioso, o papa Bergoglio poderia ser considerado (se é que essas classificações têm algum valor) um “conservador flexível”, um defensor do que já se chamou de “ortodoxia positiva”: fidelidade à doutrina da Igreja temperada por uma avassaladora humanidade.

  • O Estado e a sociedade

    O primeiro governo Lula representou uma experiência inédita de inovação no recrutamento nas bases partidárias, sindicais e locais. Nas áreas de gênero e etnia (afrodescendentes) também iniciou um padrão de crescente participação, todavia, em patamares ainda irrisórios.

  • O papa e o povo

    Por motivo de edição, escrevo esta crônica dois dias antes de terminar a Jornada Mundial da Juventude. Não dá para fazer um comentário completo, mas já tenho alguns elementos para um juízo pessoal e, tanto quanto possível, isento do grande evento que o Rio está vivendo.

  • O Estado laico

    Quando acontecem, no Brasil, fenômenos religiosos da proporção do que vemos agora, e isso exige algum tipo de participação dos poderes públicos, sempre aparece alguém para lembrar que o estado é laico, e que essa participação é espúria. Me parece uma interpretação muito rigorista.  O estado é laico, sem dúvida, mas a cultura brasileira está impregnada de simbolismos religiosos, bastando lembrar o desfile das grandes festas que são o Natal, a Páscoa, as festas juninas. Quando voltamos às origens da nossa história, o que vem à cabeça? O quadro famoso da Primeira Missa no Brasil; o fato de que a terra recém-descoberta chegou a se chamar Terra de Santa Cruz; os nomes de santos que estão por toda parte: São Paulo, São Vicente, Espirito Santo, Santa Catarina ...

  • Solidariedade na ilha

    Contam os mais antigos que, faz algumas décadas, em Salinas da Margarida, em plena festa da padroeira Nossa Senhora do Carmo, Zecamunista encerrou um comício do Partidão com um discurso incendiário no qual, agitando o punho na direção do céu, xingou o padre e repetiu várias vezes que a religião é o ópio do povo. Acabado o comício e pouco antes de o delegado levá-lo em cana novamente, ele foi muito cumprimentado por cidadãos que se agradaram especialmente dessa parte do ópio, mas, mal ele se recuperava da surpresa, descobriu que o pessoal não sabia o que era ópio e, na maior parte, achava que se tratava de um elogio fino, desses que a gente não entende direito, mas finge que entende, para não passar por iletrado.

  • Adeus à Jornada

    Que houve problemas de organização, todo mundo sabe. Mas, na minha cabeça, vão ficar da Jornada algumas imagens inesquecíveis. O que pode ser mais bonito: o Papa acossado pelas mães que lhe levavam crianças para serem beijadas, ou os bandos de jovens, com suas bandeiras, caminhando pelas praias do Rio com um excesso de alegria transbordando pelo rosto? Ou a imagem final de Copacabana, coberta de gente, num dia em que o Rio mostrava toda a sua cenografia deslumbrante? Eram retratos de um possível paraíso terrestre que, para mim, deixaram na sombra os transtornos materiais. Aliás, a ideia da peregrinação não é exatamente a dos confortos prosaicos.Mas, Jesus Cristo, de onde veio tanto entusiasmo? Não diziam que a Igreja estava se acabando, vergada ao peso de escândalos? Ela parecia bem viva, nesses últimos dias.