O imprevisível avanço, na última década, da "guerra de religiões" só se acelera, hoje, com a debilidade do implante da democracia, entendida como o marco definitivo da modernidade. De saída, pela perplexidade do impasse da Primavera Árabe, marcada pelo retrocesso democrático, após a queda das ditaduras na Tunísia, no Egito e na Líbia. O afastamento de Mursi inquieta, exatamente, pela quebra das regras do jogo, no golpe literal infringido à primeira presidência constitucional do país. O que estaria em causa seria o limite dentro do qual a garantia das maiorias eleitorais seria empolgada por uma dominante religiosa, tal como evidenciada pela Fraternidade Muçulmana. É nesse mesmo limite que a Primavera Árabe ressente-se da força da contradição interior na sua identidade, e do advento possível de um Estado religioso e muçulmano como o seu resultado. Retoma-se, no pressuposto da vigência democrática, o mesmo confronto da volta da sharia iraniana, na repulsa mais funda do implante, já multissecular, da dominação ocidental em toda a região. Da mesma forma, o novo levante de facções budistas em Mianmar extrema essa nova "guerra de religiões", no empenho de eliminar completamente, senão reduzir, os direitos das franjas islâmicas desse país ganho à independência, após o Raj britânico.