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Artigos

 
  • Que pena!

    Morava em Copacabana, todas as manhãs ia à praia, de chapéu e óculos escuros. Para cortar caminho, pegava a galeria Menescal -onde, numa loja de discos, um hi-fi, que estava na moda, tocava "Que pena", sucesso de Jorge Benjor, que ainda era Jorge Ben, um bom dueto com a voz quase juvenil da Gal Costa e contraponto perfeito de Caetano Veloso.

  • O Brasil e o mundo

    No recente debate promovido pelo Instituto Fernando Henrique Cardoso sobre as tendências globais para 2030, ficou patente que o Brasil está bem posicionado para o futuro. O empresário Roberto Teixeira da Costa escreveu para o próximo numero da revista Política Externa um artigo onde relata os principais pontos do debate, do qual participaram representantes do ESPAS – European Strategic and Policy Analysis; da ISS – European Union Institute for Securities Studies; The Office of the Director of National Intelligence dos Estados Unidos; e do Atlantic Council.

  • Royalties para a educação

    O que se deve louvar, no veto da presidente Dilma Rousseff ao artigo 3º da Lei de Royalties, é a sua coerência democrática.  Respeitou direitos adquiridos em contratos anteriormente assinados.  Com isso, os poços do pré-sal já licitados, no Rio de Janeiro, no Espírito Santo e em São Paulo, os maiores produtores brasileiros, renderão para os seus municípios, sem quebra de continuidade.                                        Outra decisão relevante foi a de tornar exclusiva da  educação a renda futura dos poços a serem licitados.  Serão bilhões de reais de reforço ao caixa de municípios combalidos, sem condições de oferecer uma educação de qualidade.  Temos problemas de sobra no ensino público nacional, a merecer esse ponderável reforço.  A questão que se coloca, agora, é a da competência para investir (e não gastar) adequadamente.  Os recursos do óleo e do gás são finitos e se não aproveitarmos essa última oportunidade, francamente, estaremos trilhando o caminho errado quanto ao futuro.                                      O que se reivindica do setor é um revolucionário projeto de capacitação gerencial, cursos de alta gestão, a serem proporcionados por instituições universitárias reconhecidas.  Além de 100% dos royalties, 50% de todo o rendimento do fundo social a ser constituído irão para a educação, num aporte histórico.  Se não aproveitarmos essa oportunidade, seguramente, em nossa geração, não haverá outra.                                       Os recursos serão somados ao mínimo constitucional existente (18% do orçamento da União e 25% dos orçamentos de estados e de municípios), corrigindo uma distorção do esperado Plano Nacional de Educação, que não previu de onde sairiam os recursos para os seus inúmeros projetos de desenvolvimento.  Estamos falando da  partiha  de 400 bilhões de reais, o que não é pouco.                                      O governo precisa continuar a fazer a sua parte, nesse complicado panorama de competividade internacional.  Resolvida a questão dos recursos financeiros e partindo do pressuposto de que serão bem aplicados, voltam-se nossas atenções para a escorchante política de tributos.  Estamos na liderança mundial, com quase 40% de uma cobrança incompreensível.  Já não seria o  momento de diminuir progressivamente os tributos que oneram as folhas de salários?   Nossa economia pede uma injeção de ânimo no espírito dos empresários brasileiros, que devem investir mais e criar empregos palatáveis aos nossos jovens.  Para se  ter uma ideia clara da situação  encontrada, o Brasil é 43% mais caro do que os Estados Unidos, em relação a esses elementos de entropia sistêmica.  Não se pode, pois, estranhar que as taxas de investimentos estejam em queda e o país sofra com a perspectiva oficial de um “pibizinho”, o que é profundamente lamentável.  Retrocesso puro.                                  O pretexto de resolver de vez o gargalo financeiro da educação deve ser acompanhado de outras providências oficiais, para que possamos ter um  crescimento autossustentado.  Boa gestão não é isso?

  • A última palavra

    O que está em debate nas derradeiras reuniões do julgamento do mensalão não é a prevalência da decisão do Supremo Tribunal Federal sobre o Legislativo, mas se parlamentares condenados merecem ou não perder direitos políticos, além das penas já aplicadas. Não há como colocar em dúvida que a última palavra sobre questões constitucionais é do STF, até mesmo “o direito de errar por último”, como disse Rui Barbosa.

  • Só erros novos

    O novo partido que se está formando, sob a liderança da ex-senadora Marina Silva, com o nome de REDE, tem recebido críticas à direita e à esquerda, principalmente porque a fundadora simplificou sua definição doutrinária, aproximando a REDE do novo PSD do ex-prefeito paulista Gilberto Kassab: “Não será um partido nem de direita nem de esquerda, nem do governo nem de oposição”, disse Marina sobre a nova legenda que quer criar. A propósito, recebi do cientista político e antropólogo Luiz Eduardo Soares, ex-secretário nacional de Segurança Pública e ex-Secretário de Segurança do Rio, que está envolvido na criação do novo partido de Marina, uma série de comentários sobre os objetivos da nova legenda que, ele garante, nada tem a ver com “movimentos que pretendam mudar a política assumindo identidades e práticas antipolíticas”, que costumam perder-se em um “voluntarismo estéril”.

  • A última obra de Niemeyer

    Numa das idas a Brasília, o amigo Silvestre Gorgulho me convidou para conhecer de perto a Torre de TV Digital, por ele inspirada quando foi Secretário de Cultura da capital. É claro que o projeto só poderia ser de Oscar Niemeyer – e assim foi feito. O último trabalho do grande arquiteto tem a beleza característica das suas obras e, no caso, com os seus 688 degraus, alia modernidade e elegância, no ponto mais alto de Brasília. É uma torre-flor, como muito bem disse a filha de JK, Maria Estela Kubitschek Lopes. Flor do cerrado.                  Funcionando como atrativo turístico, tem também uma extraordinária serventia, pois lá se encontram todas as redes brasileiras de televisão, transmitindo os seus sinais para o mundo. Uma prova saudável de compartilhamento, que não se encontra em outras capitais do nosso país.              Complemento moderno da Torre de TV, criada nos primórdios de Brasília por Lúcio Costa, a Torre Digital (feita de concreto) foi elaborada com o cuidado de não desfigurar a condição de Patrimônio Cultural da Humanidade, título dado pela Unesco e de que Brasília muito se orgulha. Se cada televisão, ao atingir a fase digital, instalasse o seu “paliteiro”, como em tantos outros lugares, é certo que isso constituiria uma agressão à paisagem, daí a ideia da torre-monumento, logo acolhida por Niemeyer, aceitando os argumentos de Silvestre Gorgulho e de Toninho Drumond. Foi o marco do cinquentenário de Brasília.                 Curiosa a discussão em torno do nome. Gorgulho, quando viu os primeiros desenhos do arquiteto, disse que parecia uma flor do cerrado: açucena, ipê, pequi, canela-de-ema, flor para-tudo ou calliandra-do-cerrado. Oscar, muito feliz com o resultado do seu trabalho, gostou da associação feita por Gorgulho. E perguntou: “Por que não flor do cerrado? Sintetiza tudo.” A expressão foi aprovada com louvor. O cerrado ganhou uma nova flor.                Hoje em dia, o monumento, que tem uma bonita sala de exposições, é um dos mais visitados da Capital. Do seu mirante, se vê toda a cidade que revolucionou a arquitetura mundial. É uma visão de 360 graus. Um capítulo interessante dessa obra foi o tempo que durou para obter a licença do Ibama. Mais de um ano. O argumento é que ali era “rota de aves migratórias” e por isso poderia existir um indesculpável prejuízo ecológico. Depois se viu que isso não era exatamente o que ocorreria e a licença foi liberada. Respeitou-se, assim como o arquiteto francês Le Corbusier viu Brasília, no seu começo: “É uma mão aberta. A mão aberta estendida como um símbolo de reconciliação. Aberta para receber. Aberta para dar.”                         Esse novo cartão postal de Brasília, construído em Sobradinho, a 170 metros de altura, de onde se pode vislumbrar uma extraordinária vista, serve aos propósitos tecnológicos cada vez mais exigentes das emissoras de televisão, em sua fase digital. Hoje, há uma imensa população totalmente agradecida diante da beleza desse símbolo.

  • Exemplos

    “Eu acho que o Fernando Henrique Cardoso deveria, no mínimo, ficar quieto. O que ele deveria fazer é contribuir para a Dilma continuar a governar o Brasil bem, ou seja, deixar ela trabalhar.” Nessa curta frase do ex-presidente Lula está expressa sua ideia de democracia e, sobretudo, a visão que tem sobre o que é fazer oposição. Desde que Lula chegou à Presidência da República, criou-se um mito no Brasil: falar mal do ex-operário que chegou ao poder pelo voto é proibido, revela o preconceito social de quem o faz.

  • Limite de mandatos

    A crítica do presidente do Supremo Tribunal Federal Joaquim Barbosa aos “políticos profissionais”, defendendo a limitação de mandatos parlamentares na mesma linha proposta pelo partido que a ex-senadora Marina Silva pretende organizar, provocou não apenas as especulações naturais de que estaria falando em causa própria, se apresentando como uma alternativa, como também comentários mais ácidos de políticos que, por enquanto preferem ficar no anonimato.

  • Rachel é o Brasil

    Rachel de Queiroz proclamava-se "uma velha senhora sionista". Tinha notórias simpatias pelo "Povo do Livro". Esteve em visita ao Estado de Israel, ocasião em que foi duplamente homenageada: com o plantio de uma árvore em seu nome e com a inauguração de uma bonita creche, na cidade de Telavive. Ela gostava de freqüentar festas judaicas e, gulosa, apesar dos problemas de saúde, fartava-se com os tradicionais guefilte-fish, patê de fígado e apfelstrudel. O seu interesse era tão grande que aprendeu alguns desses pratos com a amiga Paulina Dain Buchmann. Era capaz de ficar horas discutindo temperos. Gostava de cozinhar, embora alimentasse as nossas conversas, no apartamento do Leblon, com um delicioso e incomparável sorvete de manga. Foi assim que conheci o outro lado da grande figura literária brasileira.

  • Un pò de chiesa

    Alguns leitores reclamaram da crônica anterior ("Debate do segundo turno"), publicada na última quinta-feira. Uns não compreenderam, outros acharam falta de respeito para com os dois candidatos e para com Deus Todo-Poderoso. E todos a julgaram inoportuna.

  • Para onde vão os países bálticos?

    O mundo báltico foi o do advento temporão, na Europa, dos Estados nacionais, de depois da queda do Muro. Estônia, Lituânia ou Letônia marcam identidades distintas, via de regra simplificada pelo regionalismo territorial. A continuidade litorânea não impediu notória diferença entre os influxos culturais, as tradições históricas e as ambições de poder destes países, ciosos dos seus limites, das suas línguas e de suas culturas, muitas vezes descartadas por uma parentela geográfica. Riga foi a terceira cidade do czarismo, e estuário marítimo do império de Pedro, o Grande. A língua russa continua matricial hoje na Letônia, e a parentela arquitetônica da capital é a dos palácios de São Petersburgo, as avenidas imensas, e os seus palácios de verde e azul desbotado. Mas o fim do século XIX emprestou-lhes um matiz cultural único, de art nouveau na riqueza de cariátides e atlantes, que ornam as fachadas dos edifícios gigantescos do centro da cidade. Vem da matriz de um só artista, de Eisenstadt, a proliferar, subseqüentemente, na vivacidade dos boulevards e do jogo de vista únicos em que se entrelaçam os balcões da metrópole.

  • Senha da Conspiração

    Depois de muitas confusões, consultas ao judiciário, editoriais da imprensa, reclamações, choro e ranger de dentes, as eleições foram realizadas e, aos poucos, ficamos conhecendo os derrotados e eleitos, embora provisoriamente. É quase certo que teremos algumas complicações na Justiça Eleitoral, provocadas pelas incertezas de última hora, a validade do Ficha Limpa, os incidentes de praxe. Haverá sempre o cabo de polícia que, visivelmente embriagado, deu tiros para o ar numa seção do Piauí. E o mesário que, involuntariamente ou não, travou o equipamento eletrônico numa seção de Tocantins.

  • Nós e os marcianos

    Luiz Fernando Verissimo, mestre da crônica, escreveu no O Globo (05/08/2010) que se um marciano viesse, várias vezes, ao País e observasse em cada vinda os políticos no poder e seu índice de aprovação, ficaria tão perplexo que suspiraria fundo e talvez desistisse do Brasil.Penso que, se fosse um marciano mais esperto e não tão ingênuo, em face da gangorra de interesses, era bem capaz de não apenas ficar no Brasil como entraria na política.  Porque encontraria uma feliz oportunidade de ser reconhecido, entre os seus aplaudidos líderes, já que não deve ter traços alienígenos, ou porque a maioria dos nossos políticos já parecem os trazer como marca registrada, desde o berço e são indistinguíveis.

  • Voz e emoções

    Depressão é um dos problemas mais frequentes em nossos tempos, afetando cerca de 6% das pessoas, sobretudo as mulheres, 20% das quais enfrentarão ao menos um episódio depressivo em suas vidas. O diagnóstico em geral não é difícil e se baseia nos sintomas relatados pela pessoa, que se sente triste, perde o prazer pelas coisa da vida, pode experimentar insônia ou sonolência.

  • O dilema e o fantasma de Marina

    A proposta eleitoral de Marina inquietou pela sua ambigüidade. Evidenciou o inconformismo com o que está aí, sem se dar conta dos reptos de um genuíno governo de mudança como o de Lula. E, mais ainda, levou à pregação ecológica, a substituir-se à prioridade da luta contra a injustiça social no País. O que mais repercute, entretanto, é o quanto a aceitação de seu apelo por uma nova geração põe em causa, ainda, uma sub-cultura da impaciência, frente ao realismo da mudança vivido pela nação saída da marginalidade. De toda forma, a onda Marina refugava, de saída, o voto em Serra, como ameaça de retorno ao País de sempre. E a votação na candidata verde foi tanto menos expressiva quanto foi menor pelos despossuídos em todo o País. A candidata conclamou no primeiro turno por um projeto, mas este nada elucida quanto às exigências de um desenvolvimento sustentado. E vai a três mistificações, diante do perigo da boa vontade ingênua, no reconhecer as prioridades do País de agora. Repete o pecado ancestral do "udeno-moralismo", ao clamar, de saída, por uma hipotética reforma política, que em nada modificará o que está aí, enquanto não se alterar o peso dos donos do poder; e tàl só se dará, de fato, pela mudança estrutural da economia brasileira.Esta, por sua vez, é inseparável do intervencionismo público e da aceleração da distribuição de renda, temas mudos na pregação da acreana. Marina é impermeável, por outro lado, aos problemas da federação brasileira, e do imperativo de passar-se à União o desenvolvimento social, espremido pelas limitações constitucionais, no que poderia ser o PAC, na ampliação dos recursos para educação, saúde, ou habitação. A verde isolou a ecologia, num confronto com o desenvolvimento, sem propostas concretas quanto ao controle da agroexportação, ao impacto ambiental profundo do investimento hidroelétrico ou aos reflexos da nova agricultura familiar, na imigração interna do país e na mudança de pressões sobre as nossas megalópoles.