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Artigos

 
  • De volta, o PT

    A reação partidária do começo do governo Dilma aí está. Se a popularidade de Lula é de 84%, a militância petista não passa dos 37%. As coligações aliadas do governo já começaram com o descarte e o isolamento do partido de Lula. Ledo engano, entretanto, o de pensar-se que é das frentes parlamentares comandadas pelo PMDB que vai depender a iniciativa do novo Executivo. Dilma não precisa, para levar adiante o que herdou, de nenhuma legislação básica, de imediato, e sabe que a reforma tributária ou a eleitoral vai ser obra da maturidade do seu governo, e do avanço do desenvolvimento sustentado, que só necessita do próprio Executivo, no reforço já assegurado do PAC. O que importa, sim, é desencalhar o partido histórico, e retemperá-lo, nas suas fontes de origem, dos movimentos sociais. Deparamos o avanço alarmante do corporativismo sindical na entrega, praticamente, de um Ministério a cada força trabalhadora, às vezes num clientelismo inquietante das retribuições do ganho eleitoral. E aí está a distância dos sem-terra, na interrogação que se dirige aos comandados de João Paulo Stédile, de saber se prosseguirão no sentido comunitário da reforma agrária, ou se se concentrarão no sucesso dos assentamentos, nesse empuxe social básico contra a marginalidade nacional.  

  • O bicho do Oriente

    Não sei por que associação de ideias, ao olhar e meditar sobre o imbróglio em que se meteram os Estados Unidos nas guerras do Oriente Médio, me veio à cabeça o "Manual de Zoologia Fantástica", de Jorge Luis Borges, livro em que repassa uma visão poética na construção dos animais imaginados, mistura de todos os que vivem com os que foram criados pela mitologia. Ele os compara ao que pensa um menino quando pela primeira vez freqüenta um zoológico e vê águias, girafas, bisões. Tudo aquilo tem uma aparência de fantástico e de misterioso.

  • O sucesso da Fliporto

    Não faltou criatividade à Fliporto, realizada este ano na ensolarada cidade de Olinda (Pernambuco), aliás considerada, com muita propriedade, "uma Jerusalém dos trópicos", tamanha a sua luminosidade. Com vários espaços muito bem montados, pela organização dirigida pelo escritor Antônio Campos, o público pôde se deliciar, por " exemplo, com a "lídiche Shul", reprodução de uma escola judaica, onde eram contadas muitas histórias sobre a presença dos judeus no estado de Pernambuco. Desde o período holandês até os nossos dias. A escritora Clarice Lispector, que nasceu na Ucrânia, passou toda a sua adolescência em Recife, que amava _ como se lá tivesse " nascido. Estudou na Escola Israelita e jamais deixou de cultuar, sobretudo na sua apreciada obra, os valores nos quais foi formada. A apresentação de "O olhar judaico na obra de Clarice Lispector" arrancou aplausos da enorme platéia do "Espaço Literário", onde foram realizadas as sessões principais. Uma das maiores atrações da Fliporto, a nosso ver, foi o dramático depoimento da escritora austríaca Eva Schloss, sobrevivente de Auschwitz. Apresentada e inquirida por Geneton Moraes e o acadêmico Moacyr Scliar, ela recordou seus terríveis pesadelos: "Preferi colocar no livro "A história de Eva" tudo o que vi e sofri, sem jamais perder a minha fé original." Mas faz um alerta: "Apesar do Holocausto e da insanidade que o cercou, ainda existe antissemitismo na Europa. Por isso, dedico a minha vida ao trabalho de educar." 

  • Casos especiais de uso do hífen

    Recebemos algumas perguntas sobre o emprego ou não do hífen em determinados casos especiais. Vamos responder a elas em conjunto por estarem mais ou menos relacionadas.Uma leitora nos indaga se os vários tipos de queijo (parmesão, por exemplo) levarão hífen, como aparece na tradição lexicográfica mais recente, bem como no Vocabulário Ortográfico da ABL, o tipo "queijo-cavalo". Nessa mesma tradição os diversos tipos de queijo comparecem seguidos de locução (queijo do reino, queijo de minas, queijo de soja) ou de adjetivos (queijo parmesão, queijo flamengo, queijo prato - isto é, da cidade italiana Prato, donde se tornou conhecido), todos hoje escritos sem hífen, em conformidade com o novo Acordo. Desta norma diverge o tipo "queijo-cavalo" com hífen, que cremos dever acertar o passo com seus irmãos congêneres e perder a grafia com hífen. Nada há nele que justifique essa exceção; portanto, "queijo cavalo". 

  • A guerra que não vai acabar

    Ao que parece, o ser humano (quase escrevo “serumano”, neologismo que, quem sabe, pode vir a ser adotado, pois outro dia ouvi na TV que um casal era “dois serumanos”) precisa, pelo menos de vez em quando, alterar sua percepção da chamada realidade, mexer com a própria mente e as emoções. Prisioneiro de seus cinco limitadíssimos sentidos, não consegue perceber, em condições normais, aquilo que suspeita ou sabe existir além deles. E quer sair da prisão, quer sensações que ordinariamente não estão a seu alcance. Outra necessidade, que corre paralela, é alterar o comportamento habitual e quem for tímido tornar-se extrovertido, quem for melancólico tornar-se alegre, a moça que hesita em dar resolver dar e assim por diante.

  • A moda dos braceletes

    É um mistério saber a razão pela qual certas coisas de repente se tornam moda, propagam-se rapidamente, são adotadas por milhões de pessoas e subitamente somem. Onde andam os bambolês, numa certa época verdadeira coqueluche entre crianças e adolescentes?

  • Fígado de bacalhau

    Bacalhau tem fígado? Numa época de muitas perguntas e poucas respostas, não colaboro para a paz geral trazendo mais um enigma à consciência de cada um. Jamais me preocupei com o bacalhau, e muito menos com o seu fígado, se acaso ele -o bacalhau- possui um.

  • O Brasil dos idosos

    No Império Romano, mostram-no as lápides funerárias da época, as pessoas (os ricos, bem entendido; para os pobres não havia túmulos) podiam esperar viver em média 30 anos. Dois milênios depois, a situação não tinha melhorado muito. Em 1900, a expectativa de vida na Europa era de 45 anos, e, no Brasil, menor ainda: 33,4 anos. Hoje, segundo os dados do IBGE, os brasileiros de ambos os sexos podem esperar viver 73,1 anos. Em termos de expectativa de vida, o Brasil ultrapassa China, Colômbia, Paraguai e Rússia, mas ainda está atrás de Argentina, México e Uruguai. Paralelamente, com a diminuição da natalidade (coisa que, segundo os catastrofistas, jamais ocorreria), há um aumento das camadas mais idosas da população. O Brasil está envelhecendo, como de resto o mundo todo, e isto acontece principalmente na Região Sul. Com uma expectativa de vida de 75,5 anos, o RS está em terceiro lugar no Brasil, atrás apenas do Distrito Federal e de Santa Catarina. As consequências práticas disso já se fazem sentir, por exemplo, na questão da aposentadoria, cujo cálculo certamente vai mudar. Mas temos de pensar também em como será a nossa vida neste novo cenário. Que aliás era previsível. Lembro aqui os trabalhos do pesquisador norte-americano Edward Fries; segundo ele, graças à medicina preventiva, as pessoas envelheceriam com mais saúde, sem doenças, e acabariam morrendo sadias, por assim dizer. A morbidade seria assim “empurrada” para fases cada vez mais tardias da existência. E isto de fato ocorre. Várias pesquisas mostram que a percentagem de idosos com limitações físicas vem diminuindo e pode diminuir mais, com um estilo de vida adequado. Uma palavra-chave para isto é exercício. De um lado, o exercício físico, cujos benefícios ficam a cada dia mais evidentes. De outro lado, o exercício mental, que serve para manter o nosso cérebro funcionando, através da leitura, de “desafios” como palavras cruzadas – e da computação: através do computador as pessoas aumentam seus contatos sociais, suas fontes de informação. Além disso, o trabalho hoje está grandemente informatizado, e os idosos devem pensar em continuar trabalhando, primeiro porque isso faz bem à pessoa, e depois porque é uma tendência já bem definida; nos Estados Unidos, o número de empregados com mais de 55 anos aumentará em 50% na próxima década, passando de 27 para 39 milhões de pessoas. E no Brasil estão surgindo muitas iniciativas neste sentido: em Curitiba, a prefeitura está treinando idosos para atuarem como agentes de trânsito, orientando pedestres e motoristas sobre sinalização e faixas de segurança. Em várias cidades, policiais aposentados que retornam à ativa são cada vez mais comuns. Um bom estímulo neste sentido seria a revisão da aposentadoria de quem permanece trabalhando. Não, não dá para parar. E se vocês querem um exemplo, peguem o do arquiteto Oscar Niemeyer, que no próximo dia 15 faz 103 anos. Ele continua ativo e se reinventa: em homenagem à data compôs um samba que diz: “Minha vida vai ser diferente: camisa listrada, sandália no pé/ andar na praia, vou fazer toda manhã./ Até moça bonita vai ter/ se Deus quiser”.

  • Urubus assassinos

    Deus é testemunha de que nada tenho contra os urubus. Gostar mesmo, não gosto. Desde Augusto dos Anjos que eles gozam a fama de azarar a vida dos outros. "Um urubu pousou na minha sorte" é um dos versos mais conhecidos da poética nacional e deve ser citado todos os dias, em contextos diversos.

  • Trunfos escondidos da nossa democracia

    Não nos damos conta do quanto o governo Lula se encerra deixando o Brasil numa posição incomparável, mesmo fora da América Latina, em termos do avanço do modelo democrático nacional. No quadro, inclusive, dos Brics, não tem similares na coerência com que junta, ao desenvolvimento econômico-social, o avanço político, inclusive com instituições, hoje, dificilmente encontráveis nos próprios modelos europeus ou mesmo escandinavos. De saída, o Conselho Nacional de Justiça, que criou o controle intrapoderes, e eliminou a presunção da intangibilidade do Legislativo, Executivo e Judiciário, muitas vezes sinônima da tolerância, intramuros, com o abuso de poder. A derrubada do nepotismo no Judiciário foi exemplar, nestas sucessivas trincheiras em que o familismo estadual entrincheirava-se nos cargos públicos, às vezes até como redutos de consaguinidade, intergeracional.

  • Plural das palavras em - ão

    Leitora constante desta coluna nos pergunta por que palavras terminadas em -ão apresentam três formas de plural como acontece com 'leão' que faz 'leões', 'irmão' faz 'irmãos' e 'pão' faz 'pães'. E ainda por que algumas palavras podem ter mais de um plural correto, do tipo de 'aldeão', para o qual a gramática registra corretamente três plurais: 'aldeões, aldeãos e aldeães'. A aparente confusão tem suas razões na história dessas palavras terminadas no ditongo nasal em sílaba tônica, porque houve época do idioma em que nem todas se diziam com -ão, final que só no português moderno se uniu numa só terminação. Enquanto as formas do singular se unificaram em -ão, as formas de plural continuaram, em geral, fiéis às terminações originais que explicam hoje os finais -ões, -ãos e -ães. Este é um dos muitos fatos em que o passado põe luz e explicação em aparentes confusões na língua dos nossos dias. Houve uma época em que cada forma que hoje termina em-ão apresentava forma diferente, mais próxima da sua origem latina ou do vernáculo português, com vogal temática própria Vale lembrar: o tema é a parte da estrutura da palavra formada pela raiz ou radical mais a vogal temática. Para recordarmos noções aprendidas nas aulas de gramática, convém também lembrar que se chega ao tema de uma dessas palavras em -ão, e, assim, à sua vogal temática, partindo-se da forma do plural e levando-se em conta as regras de transformações próprias no processo de formação do plural. 

  • Tragédia ou desafio?

    Há não muito tempo, a China era considerada uma das nações mais atrasadas do mundo. População imensa e ensino de baixa qualidade eram responsáveis por isso. Agora, entre os 65 participantes do Pisa (exame internacional de avaliação de alunos de 15 anos de idade), a China alcançou o primeiro lugar, com 556 pontos, nos testes de conhecimentos em leitura, matemática e ciências. Isso não é milagre, mas um esforço consciente.

  • Um poeta esquecido

    As editoras brasileiras estão todas cooptadas pela força da globalização. Nossos escritores estão esquecidos e os enlatados ocuparam seus lugares. Nas listas de livros mais vendidos é raro encontrar um autor brasileiro. Eu sempre dizia que a juventude não conhecia José Lins do Rego. Há muitos anos não era editado. Felizmente, aproveitando seu centenário, a José Olympio acaba de editar sua obra.

  • Resoluções: seja esperto

    Todo mundo entra no ano novo com o firme propósito de mudar de vida, principalmente no que se refere à saúde, e principalmente em relação ao estilo de vida, que, todos nós sabemos, têm muito a ver com saúde. Exercício físico, dieta, fumo, álcool: eis aí um quarteto clássico, objeto de muitas e fervorosas promessas.