Portuguese English French German Italian Russian Spanish
Início > Artigos > Artigos

Artigos

 
  • Elegia à bala perdida

    Nada tenho contra os motoristas de táxi, embora pouco recorra a eles. Mas outro dia, justamente quando houve a última guerra na Rocinha entre dois bandos rivais, dos dois bandos rivais contra a polícia e da polícia contra os dois bandos rivais, precisei ir da praça Quinze ao Leme. Tomei um táxi novinho, ar-refrigerado em bom funcionamento, a licença do motorista com foto respectiva atestando que ele se chamava Gervásio Antônio de Oliveira.

  • Burocracia impossível

    Um dos presidentes do período militar convidou o saudoso Hélio Beltrão para, com o título de ministro, executar planos de desburocratização da máquina administrativa, de longa data enferrujada em tal dimensão que causa seríssimos prejuízos à economia nacional. É sabido que o Brasil tem uma das mais atrasadas burocracias do mundo. Os reflexos destas anomalias se expõem, por exemplo, nas exportações conseguidas pelo ministro do Desenvolvimento, Luiz Fernando Furlan, de mercadorias adquiridas por mercados estrangeiros. Um dos grandes males do País é esse, a burocracia animalizada preguiçosamente nos obstáculos que se interpõe entre a economia, o consumo e o desenvolvimento. O Brasil não está melhor no que diz respeito ao desenvolvimento por não dispor de uma administração tecnicamente eficaz , bem preparada, afim de dispensar papéis e carimbos, obstáculos de difícil conquista e que, portanto, emperram o crescimento econômico.

  • Machado e Rosa

    Teremos, dentro de dois anos, duas datas literárias da maior relevância, pois o ano de 2008 lembrará dois acontecimentos marcantes; o centenário da morte de Machado de Assis e o centenário do nascimento de Guimarães Rosa. Pode-se imaginar, nos limites da saída e do ingresso neste vale de sonhos, um encontro de Machado de Assis e Guimarães Rosa, o primeiro dizendo ao segundo: "Toma, Rosa - agora o facho é teu."

  • Cascas de laranja

    Sempre ouvi dizer que não se deve brincar com a fome. Nem com a própria nem com a dos outros. Por isso mesmo, bem antes dos atuais escândalos que envolveram o governo e o PT logo no início do mandato de Lula, acredito que fui dos primeiros e mais constantes críticos do Fome Zero, que considerei demagógico, assistencialista e inútil.

  • As estátuas falam

    Não sei, parece que foi nada menos do que Freud o primeiro a tentar descobrir o que o "Moisés" de Michelangelo estaria falando ou sentindo quando foi imortalizado naquele formidável mármore que se encontra em Roma, na igreja de São Pedro in Vinculis.Freud dizia que Moisés acabara de descer o monte Sinai, onde recebera as tábuas da lei diretamente do Senhor. Encontra seu povo, que ele salvara do cativeiro e conduzia à Terra da Promissão, numa orgia pagã. Liderados por seu irmão, Aarão, aproveitando a ausência do líder, estão adorando não o Deus que os tirou do cativeiro, mas um Bezerro de Ouro.

  • Política Cambial

    O brilhante ministro Luiz Fernando Furlan, sem dúvida um vitorioso na pugna de dimensão internacional pela conquista de mercados para o comércio exterior brasileiro, está certo ao reclamar uma revisão da política cambial, que se lhe apresenta com obstinada freqüência no curso de suas viagens de grande sucesso.

  • O livro do futuro

    O escritor italiano Umberto Eco considera que o livro permanecerá para sempre no conjunto dos materiais pedagógicos. Sua tese avança na idéia de que tudo poderia melhorar muito se produzíssemos livros baratos, sem tantas cores exuberantes. Seriam em preto e branco, utilizando computadores de baixo preço.

  • Relatório de viagem

    Desta vez fui de férias mesmo e não mandei despachos sobre acontecimentos em Itaparica, pérola do Recôncavo Baiano onde tive a felicidade de ver a luz pela primeira vez e terra sempre na vanguarda dos interesses nacionais, desde o tempo em que os holandeses andaram se metendo a bestas por lá. Ficaram praticamente todo o ano de 1648, mas padre Vieira, que só por acaso não nasceu na ilha, tanto chamou Santo Antônio às falas que o santo - cala-te boca, mas ele recebia soldo dos militares portugueses e deu moleza para os holandeses muito tempo, tanto assim que chegou até a ser rebaixado por levar grana sem cumprir a obrigação - resolveu se mexer e aí os holandeses foram corridos no tapa e às pressas, deixando para trás quem não estava na praia na hora. Há quem atribua a esse fato a existência de tipos raciais tão variados na ilha, a ponto de Zé Pretinho, que, como a alcunha indica é altamente afro-descendente, haver descoberto, depois de uns sessenta e poucos anos, que tem olhos azuis. Estive com ele no Mercado logo no meu primeiro dia para trocar as saudações de praxe e ele estava muito satisfeito com a novidade.

  • De idéias e dentes

    Leio o título de matéria publicada em jornais: "FHC acusa Lula de ser mais conservador do que ele". Não é caso para entrar no mérito da questão, no chamado julgamento de valor, que se resume em estabelecer o grau de quanto um e outro são conservadores.

  • A moeda e a expressão

    Na edição de ontem, a Folha publicou a tradução de um artigo intitulado "Liberdade de expressão, moeda inegociável", de Theodore Dalrymple, psiquiatra e escritor inglês, que escreve no "City Journal", de Nova York. Fiando-me na tradução da sempre competente Clara Allain, considerei o artigo confuso, entre o óbvio e o equivocado. Sem falar no título, total e intrinsecamente infeliz.

  • Eva era uma sereia

    Já se ouve o gargarejo das cuícas e a Globeleza desapareceu da tela. O que aconteceu? Dizem-me que foi o tempo. Ficaram só as fitas, as fitinhas e a saudade de seu samba no pé.

  • Favas contadas e recontadas

    É raro o dia em que, ao abrir a caixa eletrônica, não encontre, ao lado de esculhambações diversas e merecidas, o pedido de gente aflita, recorrendo ao cronista em busca de uma solução para as coisas que estão acontecendo no Brasil e no mundo.