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Artigos

 
  • A propósito de modernos

    Jornal do Commercio – Rio de Janeiro – RJ,, em 11/04/2000

    O Globo publicou recentemente, em prosa e verso, um comentário ilustrado em torno da correspondência entre Manuel Bandeira e Mário de Andrade, boa organização de Marcos de Moraes. Contou com uma cuidadosa resenha de Reni Tognoni.

  • Um centenário

    Jornal do Brasil - Rio de Janeiro - RJ,, em 23/03/2000

    Ao evocar a personalidade de Ari de Azevedo Franco logo vem à lembrança a imagem de um magnífico exemplar humano, magistrado ilustre, ministro do Supremo Tribunal Federal, professor universitário cuja presença ninguém podia ignorar onde quer que se encontrasse, fosse num palácio ou numa choupana. Expansivo, com raro poder de comunicação, semeava empatia, colhendo amizades inumeráveis e séquitos de admiradores. E tudo lhe era espontâneo, natural, na maneira de agir e na forma de dizer. Não perdia vez para um chiste, um trocadilho apropriado ou um comentário sarcástico, em tertúlias entre amigos, em congressos jurídicos, em debates forenses, em conferências, sempre provocando o riso ou o aplauso dos ouvintes.Ari Franco tinha, em meio à sua vibratilidade, a noção exata do limite da conduta a ser seguida em cada instante de sua atuação como juiz. Era um extrovertido que sabia medir os impulsos de seu temperamento, para não chocar a gravidade e a sisudez das solenidades judiciais. Era um homem civilizado, um cosmopolita por intuição; sem ser viajado, nada tinha de provinciano. Magistrado e professor, tornou-se uma figura popular no Rio de Janeiro, por essa sua inata capacidade de convivência com toda a gente, do abastado ao carente, do poderoso ao humilde. Sabia encantar o clero, nobreza e povo.

  • Prioridade cultural

    Jornal do Comércio - Rio de Janeiro - RJ,, em 22/03/2000

    No dia 14 de julho de 1998,a Academia Brasileira da Letras recebeu a visita de confrades da Académie Française, à qual sempre esteve ligada por profundos laços culturais. O então secretário perpétuo da congênere gaulesa, o escritor Maurice Druon, abandonou momentaneamente o texto de seu discurso para propor aos colegas brasileiros a criação do prêmio da Latinidade, a ser conferido pelas duas academias a um escritor de uma das línguas latinas. A acolhida foi imediata e plena.

  • Gilberto Freyre: centenário

    Tribuna da Imprensa - Rio de Janeiro - RJ,, em 01/03/2000

    Nenhum outro escritor de nosso tempo contribuiu, como Gilberto Freyre, para o conhecimento do Brasil. Nascido no Recife em 15 de março de 1900, marcou de tal modo os estudos sociais no Brasil que sabemos hoje haver entre nós duas épocas nesse terreno: antes de Gilberto Freyre, e depois. O que o distinguiu, antes de tudo, foi o seu nacionalismo. É normal - e até natural - que os sociólogos em geral tratem da sociedade in- abstracto, como base de qualquer avanço. Gilberto Freyre analisava uma sociedade concreta, a brasileira, com base na sociedade escravagista que se desenvolvera no Nordeste do Brasil e, por expansão, no resto do país. Tudo era matéria para suas análises, o povo, a arquitetura, a comida, as pinturas e os retratos, os hábitos religiosos, a luxúria, os impulsos de revolta, as acomodações. Suas interpretações fixaram-se em realidades da sua, da nossa terra. Foi, por isso, leitura obrigatória em universidades tanto do Brasil como do estrangeiro, talvez mais lá fora do que "intra muros".

  • A globalização e nós

    Jornal O Globo - Rio de Janeiro - RJ,, em 20/02/2000

    Um pensador de ótica social - democrática, Anthony Giddens, observou recentemente que poucos termos são freqüentemente usados, e tão pobremente conceptualizados, quanto “globalização”. Para alguns, representa uma internacionalização sem precedentes da vida econômica e política; seria o colapso das fronteiras, anunciando câmbios fundamentais na sociedade e na cultura. É tipicamente a turma do “fim”; o fim da História, o fim do trabalho, o fim da família. Para a comunidade internacional dos negócios é a perspectiva do crescimento incontido do mercado. Para os “hiperglobalizantes”, prenuncia a vitória dos mercados sobre o Estado, e, assim, uma reconfiguração do mapa político do mundo, com base em cidades-Estado e regiões econômicas, em vez de estados nacionais. Já os “céticos da globalização”, como P. Hirst, dão-se à pachorra de mostrar que a economia mundial esteve mais integrada no começo do que no fim do século XX.

  • Ocasião um pouco tensa

    O Globo - Rio de Janeiro - RJ,, em 06/02/2000

    Não sou muito bom em questão de férias. Na verdade, férias mesmo, com tudo a que o sujeito tem direito, acho que jamais tirei na vida. Desde pequeno, por exemplo, meu pai encarava as férias escolares como o perigoso ingresso numa vida de vagabundagem impenitente, de maneira que, apesar de me permitir jogar futebol e tomar uma folguinha aqui e acolá, sempre me lembrava que eu não estava fazendo nada de produtivo e, portanto, solidificando um caráter duvidoso e contribuindo para um Brasil cada vez pior, convicções que nunca me abandonaram. Nas férias, a depender do humor dele, eu era obrigado a copiar sermões de Vieira com boa letra, decorar trechos dos Lusíadas, tirar letras de canções francesas na vitrola ou, aos dez anos de idade (juro a vocês, quem não acredita é porque não conheceu meu pai), ler e comentar os Exercícios Espirituais de Santo Inácio de Loiola.

  • Leia mais

    Diário do Comércio - São Paulo - SP,, em 21/01/2000

    São vários os projetos em curso para a valorização do gosto pela leitura. Temos o consagrado "Leia Brasil", com os seus dezesseis caminhões espalhados por diversos municípios brasileiros de seis Estados; existe o "Paixão de Ler", que foi lançado neste ano na Academia Brasileira de Letras, com o ator Paulo Betti interpretando Machado de Assis de forma admirável; há o trabalho que é feito pelo "Jornal de Letras" em termos de circulação; tem o projeto "Hora da Leitura", criado pelo governo do Rio, para todas as 2.500 escolas estaduais, e agora tomamos conhecimento do "Leia Mais".

  • A educação e a esperança em conserva

    Mais se torna complexa a conjuntura contemporânea, mais se clama por soluções peremptórias, no excesso da confiança de que todo o futuro depende de uma vontade desembainhada para mudar, no "vale-tudo" sem concessões. Não nos falta apetite para atacar os problemas do século, mas assumimos que a proposta aconteça, por si mesmo, se a tanto não faltar desassombro e garra de uma geração.

  • Uma contagem regressiva da esperança?

    De volta da China e Guadalajara, o presidente vive um trimestre crítico para renovar o pacto de confiança com o Brasil que continua a esperar. É o que permite o desemperro, enfim, do número da esperança grossa, como é agora o da expansão firme do PIB brasileiro. Começa um ganho de futuro, de vez, como o fruto da estabilização financeira na arrumação certa da casa, para a diferença do Governo Lula. As Cassandras já vieram a seu tempo, para denunciar a traição imaginada à pureza socialista num universo, hoje, da orfandade utópica. Ou, sobretudo, da dureza do exílio da alternativa, tanto a hegemonia americana nos deixou a anos luz da velha dominação; das “guerras frias”, das chances do velhíssimo terceiro mundo.

  • Os Tambores de Josué

    Naquela manhã, o Rio estava envolvido numa tênue neblina, que escondia o edifício de “A Noite”, na Praça Mauá. Perto dali, um jovem maranhense, de 19 anos, chegava à cidade e desembarcava no Cais do Porto. Como na toada famosa do sanfoneiro Luiz Gonzaga, ele vinha num Ita do Norte, dando adeus a Belém do Pará, graças a uma passagem que a soprano Bidu Sayão conseguira para ele junto ao prefeito paraense Antônio Lemos. O moço de São Luís, com seus amigos Nélio Reis e Dante Costa, descia as escadas do navio com 100 mil réis no bolso, trazendo na mala uma fatiota branca, seus livros, muitos projetos e sonhos.

  • Josué Montello e o barco de desliza pela superfície do lago

    Como um dos mais antigos membros da Academia Brasileira de Letras, sou logo chamado pelo presidente Marcos Vilaça a falar sobre o escritor e professor Josué Montello na sessão da saudade. O que dizer de original sobre o autor de Os tambores de São Luís, falecido no último dia 15, aos 88 anos, depois de longa enfermidade? Todos têm uma palavra de carinho e respeito, contrariando uma preocupação de Josué: ''Veja lá, seu Arnaldo. Considero você como filho. Quando eu partir desta vida, não deixe ninguém me criticar indevidamente''. Tivemos cerca de 50 anos de convívio, incluindo os tempos de Manchete.

  • Presença de Josué

    A morte de Josué Montello, ocorrida há uma semana, deixa-o cada vez mais vivo entre nós. Foi ele autor de uma obra literária aberta e aliciante, numa linhagem que veio de Manuel Antonio de Almeida, passou por José de Alencar e Aloísio de Azevedo, atingiu uma culminância em Machado de Assis e continuaria em Lima Barreto até pousar na arte narrativa de Josué.

  • Josué Montello

    Morreu com Josué Montello o último escritor de uma geração que, na expressão de Oswald de Andrade, era os "búfalos do norte", que invadiram a Semana de Arte Moderna, deixando-a de lado para sustentar todo um período brilhante, talvez o mais fecundo, da ficção brasileira que se chamou o romance nordestino. Embora a sua temática fosse diferente daquela trabalhada por Franklin Távora, Rachel de Queiroz, Jorge Amado, Graciliano Ramos, José Lins do Rego, José Américo de Almeida, mais voltada para os problemas sociais e para a denúncia da seca e da miséria, Josué Montello seguiu a continuidade do romance citadino machadiano, e aqueles de seu tempo como Joaquim Manuel de Macedo, Manuel Antônio de Almeida, Lima Barreto e tantos outros. Josué iria agregar uma temática nova, da reconstrução do tempo, vinculada à vida cotidiana do Maranhão, com livros extraordinários, o maior deles "Os Tambores de São Luís", que, com um século de atraso, é o magistral romance sobre a escravidão.

  • A luz e o vento

    Na gruta abandonada pelos homens -diziam que era mal-assombrada- havia quatro velas acesas. As velas falavam. Ou pensavam alto - o que dava na mesma. A primeira vela dizia: "Sou a Paz. Sem mim, o mundo seria desgraçado, todos se matando por nada. Ilumino o caminho do trabalho, da concórdia, do progresso. Sem mim...". Nisso, o vento entrou por uma fresta e apagou a vela da Paz. A segunda vela também falou (ou pensou alto): "Sou a Fé. Sem mim, a humanidade não valeria nada, seria um animal desnorteado, sem saber onde está e para onde vai. Ilumino a alma do homem, levando-o para o caminho de Deus e dos anjos. Sem mim...". Novamente o vento entrou por uma fresta e apagou a vela da Fé. A terceira vela parecia a mais bonita, a que iluminava mais forte e mais longe: "Sou a Paixão, o amor em sua forma mais bela e intensa. Sem mim, os homens seriam vazios, não se compreenderiam, não saberiam o que fazer de si mesmos. Sem mim...". Mais uma vez o vento entrou e apagou a vela do Amor. Sobrou a última vela, que parecia a mais modesta ou inútil -embora nenhuma vela seja inútil: "Sou a Esperança. Não devo valer muita coisa, nada faço materialmente, mas aqui estou, com uma vantagem sobre as demais: nenhum vento me apaga. E tem mais: como continuo brilhando aqui no meu canto, escondidinha e humilde, faço sempre o meu trabalho. Sem mim, a escuridão seria total e eterna". E dizendo isso, a vela da Esperança, acendeu as outras velas, passando sua luz para a Paz, o Amor e a Fé.

  • Afinidades entre o STF e a ABL

    A recente sessão solene realizada pelo Supremo Tribunal Federal em homenagem aos 11 acadêmicos que foram também seus ministros serviu, entre outros objetivos, para evidenciar as afinidades de duas instituições com histórias paralelas: a Academia Brasileira de Letras e a nossa Alta Corte de Justiça.