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Artigos

 
  • Discursos Presidenciais

    Na Primeira República, ou República Velha , a que caiu abatida pela Revolução de 30, os candidatos à Presidência eram lançados a um banquete político, durante o qual era lido uma plataforma de governo e um programa de obras. Essa leitura era acompanhada de um discurso muito bem feito, mas geralmente muito formal, muito bacharelesco.

  • A magra terça-feira

    Não me dei ao respeito de procurar saber por que a terça-feira de Carnaval é chamada de gorda. Poderia consultar o Google. Na última vez que o fiz, informaram-me que sou um pai-de-santo no Maranhão, famoso por unir casais separados e curar maridos embriagados.O sujeito tem o mesmo nome, Carlos Heitor. No princípio, como lá está no Gênesis, era o verbo, que, no caso dele, era Cury, mas houve um erro no registro civil e ele ficou com o meu nome completo. Consta que dá muito trabalho consertar nomes no Maranhão, é mais fácil inventá-los, como o Sarney e o Gullar. Mesmo porque ele deixou o Cury inicial e se incorporou num pai Domingos cujas façanhas já foram cantadas em versos de cordel.

  • A traição dos confetes

    Nem só de confete e serpentina é feito o Carnaval. Para quem quer aproveitar o primeiro feriado prolongado do ano, mas não está nem um pouco interessado em enfrentar multidões, calor, barulho e ambientes geralmente embalados a muita bebida alcoólica e pouca moderação, o melhor mesmo é se manter bem longe da folia.

  • O sobe-e-desce

    Fui trocar peça de um novo notebook num edifício enorme, no centro do Rio, famoso pela oferta de parafernálias eletrônicas. Os cinco primeiros andares não eram servidos por elevadores, mas por escadas rolantes em imensos halls cheios de gente.

  • Traumas Carnavalescos

    Tenho uma amiga que diz que todos os nossos problemas são por causa de traumas de infância. Estou inclinado a acreditar que é verdade, porque meus problemas com o carnaval só podem ser causados pelo trauma que passei em meu primeiro baile infantil, enfrentado quando eu morava em Aracaju. Fui fantasiado de pierrô: roupa de cetim azul, borlas cor-de-rosa no lugar dos botões, um chapéu cônico com uma outra borla no topo, duas rodelas de ruge na cara, batom e pó-de-arroz. Cheguei a suspeitar que minha mãe preferia que eu tivesse nascido menina e, se pudesse, me fantasiaria de colombina. O fato é que eu não queria entrar no baile e me transformei, para o resto da vida, num carnavalesco singular, pois gosto do carnaval na teoria e sou contra na prática.

  • Carnaval

    Quando esta crônica sair publicada, a cidade e o mundo estarão naquilo que os entendidos no assunto chamam de "reinado de Momo". Eu estarei longe desse pecado coletivo e chato. Gosto de pecar sozinho e não preciso de muita gente à minha volta para pecar bem e agradavelmente. Compreendo a aflição com que a turba espera pelo Carnaval para fazer aquilo que, normalmente, deveria ser feito o ano todo. Mas não tenho motivos importantes ou desimportantes para esbanjar o precioso suor do meu rosto nestas arenas enfeitadas pela Riotur. Reservo precisamente o meu honesto e santificado suor para cometer outros pecados mais interessantes.

  • O bródio e a cúpula

    A foto foi publicada em todos os jornais. Num restaurante paulista, mesa em fim de jantar, quatro sobas simpáticos, gente de bem em todos os sentidos, armavam a estratégia para escolher o próximo candidato do PSDB à presidência da República. Os nomes são sabidos e os rostos conhecidos: FHC, Serra, Aécio e Tasso.

  • A guerra dos mundos, afinal?

    Por que só agora Bush alardeia a repetição de possíveis ataques abortados aos Estados Unidos, na esteira da queda do World Trade Center? Esteve nesta mira, e seis meses após a catástrofe de Nova York, o mais alto edifício da América, nos seus 334 metros, o Library Building, em Los Angeles, torre coruscante esperando um novo avião suicida. A persistência comprovada da Al-Qaeda explicaria hoje a síndrome de pânico, e o horror, de toda entrada de estrangeiro nos Estados Unidos, na trituração dos vistos e das revistas nas cancelas de acesso ao Império.

  • Alegria, alegria

    Quero falar do tempo carnavalesco, hora da alegria. Mas alegre mesmo deve estar o presidente Lula com as pesquisas e simulações eleitorais. Nada alegra mais um político candidato do que uma alentadora pesquisa. Eu acho até que as fotos de cartazes só deveriam ser tiradas no dia do resultado de uma boa pesquisa. Eu tive um grande eleitor, Sebastião Furtado, que morava em Parnaíba, Piauí, mas tinha propriedades em Araioses, Maranhão, onde fazia política e foi prefeito, que uma vez me revelou - num tempo em que ainda não existia Ibope - como avaliava aquele que seria vitorioso. Uma vez, em 1955, eu cheguei para fazer campanha e levava uns cartazes para serem pregados na cidade - cartazes meus e dos candidatos a governador e a vice. Desenrolei-os, mostrei ao Sebastião Furtado. Ele me disse então: "É esse nosso candidato?". "Sim, Sebastião, é esse". "Pois não ganha não. Eu já sou bem antigo na política e conheço candidato que ganha eleição pelo cartaz. Já conheço a cara do ganhador". "Mas Sebastião, é um homem de grande chance, estamos unidos em torno dele, é um Brigadeiro da FAB". Sebastião me retrucou: "Mas tem olhos de "hervado"". Era assim que se chamavam os consumidores de maconha. Ora, seu diagnóstico foi tiro e queda. Perdemos a eleição fragorosamente. Depois disso, antes de sair em campanha, eu mandava os cartazes para o Sebastião com o recado: "Dê sua opinião". Era o precursor dos marqueteiros, sem risco de contas nas ilhas Cayman.

  • Notícias frescas de Pau Vermelho

    A República de Pau Vermelho está em crise. Seria um pleonasmo, uma vez que as repúblicas irmãs de Pau Vermelho estão sempre em crise e em crise viveram os pauvermelhenses. Desta vez, porém, a crise será para valer. Estão todos cansados de crise e já nem os jornais vendem mais quando o país entra numa delas. Todos estão cheio da crise.

  • Atualidades de Maltus

    Recente entrevista nas páginas amarelas de Veja mostrou a atualidade do velho Maltus, o autor da fascinante advertência de que a população iria aumentar consideravelmente, vindo a tornar-se um problema gravíssimo no futuro. Segundo o entrevistado de Veja, esse dia chegou e o mundo está transbordando de populações. Pode-se fazer uma idéia aproximada do que seja uma população de um bilhão e duzentos milhões de habitantes na China, mais de um bilhão na Índia e nós aqui no Brasil caminhando para duzentos milhões.

  • O jeito carioca de ser

    Calor de 40 graus, muito sol e muita praia, muita mulher bonita, bumbuns que não precisam de silicone - o Rio está na dele. Junte tudo aos Rollings Stones, à proximidade do Carnaval e ao contraponto da briga na Rocinha entre traficantes e policiais - que todos acabem uns com os outros, para o bem da cidade - e o carioca está vivendo sua "finest hour", meio avacalhada, mas gostosamente sua, intransferível.

  • Bravo à Petrobras!

    A Petrobrás anuncia com grande e merecido garbo que está preparada para atender ao consumo total de petróleo no País, notícia sem dúvida alvissareira, pois nos liberta de uma tremenda expectativa de outro choque de preços decretado pela Opep, como em 1973. O problema do petróleo no Brasil foi até há alguns anos marcado por dissonâncias lamentáveis, dentre elas prisões insensatas determinadas pelo Executivo, como a do grande escritor Monteiro Lobato. Mas esse tempo acabou. Hoje temos uma grande empresa petrolífera, uma das maiores do mundo, capacitada a atender a todo o consumo brasileiro em condições vantajosas para a economia nacional.

  • Merquior: um grande ensaísta

    Pude ver o nascimento intelectual de José Guilherme Merquior (1941-1991) nos idos do Jornal do Brasil, quando ele já era precocemente bem aparelhado e perceptivo. Hoje se diria esperto e antenado. A partir daí, ele foi construindo uma obra crítica de importância exemplar.