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Artigos

 
  • (Risos)

    Todo mundo sabe que Graciliano Ramos, nos tempos em que fazia revisão dos textos da reportagem do "Correio da Manhã", sendo na realidade um ancestral dos futuros copidesques, embirrava com certas palavras: "entrementes" e "outrossim" levavam o velho Graça a um delírio de epilético.

  • O enigma Dilma

    A presidente Dilma fez um apelo ao Congresso para que aprove em tempo hábil a MP dos Portos, mas há gente na base criticando muito a atuação das ministras Gleisi Hoffmann, da Casa Civil, e Ideli Salvatti, das Relações Institucionais. Elas, juntamente com a própria presidente, são conhecidas ironicamente no Congresso como “as meninas superpoderosas”, um desenho animado americano.

  • Guerrilha na Câmara

    Eduardo Cunha é um guerrilheiro chefiando um exército mercenário. Essa foi a melhor definição que ouvi sobre a atuação do líder do PMDB na Câmara na batalha para a aprovação da Medida Provisória dos Portos. Interessa a um grupo da própria base governista impor uma derrota ao governo, por razões diversas, – desde interesses pessoais contrariados até a defesa de outros interesses, passando por alguns poucos que têm realmente posições tecnicamente defensáveis nessa questão tão ampla - e Eduardo Cunha apresentou-se como o instrumento para que esse objetivo seja alcançado. .

  • O grande debate

    Na visão do presidente do Supremo Tribunal Federal, ministro Joaquim Barbosa, aceitar os “embargos infringentes” na Ação Penal 470, a do mensalão, seria gesto “gracioso, inventivo, ad hoc, magnânimo”, mas “absolutamente ilegal”. Essa definição, feita ao rejeitar o pedido da defesa do ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares, abre uma discussão que o STF vai ter de enfrentar nos próximos dias, quando o assunto for levado ao plenário.

  • JK e o sabor de Minas

    Se houvesse dúvida sobre a popularidade de JK seria logo dissipada pelo lançamento do livro “Memórias de um Sobrevivente”, em Belo Horizonte, na tradicional e conceituada Academia Mineira de Letras.  As perguntas dos repórteres e acadêmicos versaram sempre sobre as relações de amizade do ex-presidente com Adolpho Bloch.  Eles se consideravam “irmãos”, com um convívio verdadeiramente fraternal, sobretudo depois da cassação.                                                Não havia interesse material.  Apenas gratidão do proprietário da Manchete pelo homem de grandes realizações, como a construção  de Brasília e a instalação das indústrias naval e automobilística.  Cinquenta anos em cinco não foi apenas uma legenda criada pelo poeta Augusto Frederico Schmith.  Traduziu-se numa revolução social, muitos empregos, a colocação do Brasil em posição honrosa  no concerto internacional.                                                Adolpho acreditou na audácia de JK e, ele mesmo também corajoso, jogou  todas as fichas da sua empresa na campanha favorável à nova Capital.  O seu maior concorrente, a revista O Cruzeiro, atirou-se em sentido contrário.  Perdeu a parada e muitos dos seus leitores.  A Manchete passou a vender mais, chegou a incríveis 350 mil exemplares semanais, porque traduziu de forma competente um anseio de progresso do povo brasileiro.                                              Quando JK foi cassado, a Manchete deu-lhe cobertura permanente.  Fez sucesso especialmente em Minas Gerais, cuja população tem na sua formação o doce gosto da gratidão, da liberdade e do patriotismo.  É o que chamamos de sabor mineiro, todo ele reconhecido ao gigantesco trabalho do filho ilustre de Diamantina.                                               A cerimônia na sede da AML, em Belo Horizonte, não foi só isso.  Repórteres como sempre ansiosos e todos  jovens queriam conhecer mais sobre as Empresas Bloch e os 48  anos de Manchete.  Uma delas fez uma boa pergunta: “Com a inclusão digital, a Manchete estaria preparada para os novos tempos?”  Respondi que sim, pois ela foi das primeiras a abandonar a calorenta linotipo, trocando pela fotocomposição.  E, na TV, montou todo o seu equipamento de forma digital, não chegando a utilizar as pesadas e ultrapassadas máquinas analógicas.                                                 No caso da televisão, pretendeu-se uma TV classe A. Sem levar na devida conta o predomínio da classe C.  Não podia dar certo, embora tivessem ficado na memória dos telespectadores notáveis performances, como a qualidade do jornalismo (coberturas memoráveis do Carnaval), além de exemplares  telenovelas, com ritmo original, como “O Pantanal” e “Dona Beija”, esta  interpretada de forma admirável por Maitê Proença.                                  Então, por que a derrocada? Falta de administração profissionalizada e dívidas bancárias insanáveis.  Ficou um desemprego para 5.000 pessoas e a saudade da marca que fez história, na comunicação brasileira.

  • Teoria e prática

    Aconteça o que acontecer com a Medida Provisória dos Portos, o que fica patente é que o governo não tem uma interlocução competente com sua base aliada. Com a adesão envergonhada do PSD, apesar da aceitação desavergonhada de um ministério, o governo tem, em tese, praticamente 80% do Congresso em suas mãos, seja de que maneira for: ou por meio da adesão ideológica ou do pragmatismo puro e simples.

  • Batalha inglória

    É possível entender tudo de mal que a aprovação da MP dos Portos trouxe para o equilíbrio institucional do país analisando-se os verdadeiros malabarismos, verbais e regimentais, que foram necessários para que a decisão saísse em tempo hábil, antes que a medida provisória perdesse seu efeito.

  • A universidade e a Carta Magna

    Avançam as nossas tomadas de consciência programáticas para as futuras eleições, e, nelas, como uma tônica dominante a do ensino e, sobretudo, a da universidade. O significativo, entretanto, é como as novas políticas apregoadas enfrentam, cada vez mais, incertezas jurídicas que levam a perplexidades, senão ao retrocesso, junto ao Judiciário, para garantir-se o direito de educar. Este que, pela Carta Magna, não é uma concessão, mas uma prerrogativa conjunta da sociedade e do Estado, que hoje se espelha pelos quase dois terços da prestação universitária, pela iniciativa privada. O questionamento começa pela própria competência regulamentar na área, que é indiscutivelmente federal, mas que se vê, hoje, violada pelas Comissões Parlamentares de Inquérito estaduais, em franca afronta ao art. 58 da Carta Magna. Saliente-se que esta vincula o exercício do direto de educar, primariamente, ao desenvolvimento da pessoa e da cidadania, para depois falar da qualificação para o trabalho. Deparamos, contudo, a diretriz do Ministério da Educação de, à base de um possível excesso, em detrimento da qualidade, negar a outorga, em várias áreas do país, à abertura de novos cursos de Direito. Prima, aí, uma inquietante determinação corporativista, vinda da Ordem dos Advogados, desatenta ao preceito constitucional. A opção por esse acesso universitário está, exatamente, muitas vezes ligada ao exercício direto da cidadania, no que, sobretudo, a carreira política é outra opção, e plena para o desempenho social das novas gerações brasileiras.

  • Comida, essa desconhecida

    Entre as doenças mais modernas que um catálogo cada vez maior põe à nossa disposição, está, como aprendi faz poucos anos e até a mencionei aqui, a ortorexia. A palavra ainda não foi dicionarizada, mas a experiência sopra que alguma multinacional farmacêutica já está desenvolvendo um medicamento poderoso para combater o novo mal e ser vendido com tarja preta, ao custo de uns quatrocentos contos a cartelinha. Em breve, teremos o anúncio dessa descoberta nos noticiários de tevê e nas páginas de saúde dos jornais e assistiremos a tocantes depoimentos de doentes, notadamente os que conseguiram recuperar-se a tempo de refazer suas vidas destroçadas.

  • O que o MEC não "encherga"

    Acreditamos piamente que os examinadores do Enem, contratados  pelo MEC para a correção das provas de língua portuguesa, saibam como são escritas  as palavras “enxergar”, “razoável” e trouxe”.  Se deram 1.000 pontos, para provas consideradas perfeitas, com os candidatos utilizando as formas “enchergar”, “rasoavel” e trousse”, como comprovou o jornal O Globo, é porque desprezaram a norma padrão ou culta, numa atitude francamente irresponsável.  São linguistas da Universidade de Brasília que orientaram esse comportamento, com o beneplácito do Inep.                                      Parece que o Enem sofre com alguma caveira de burro que o acompanha desde os primeiros exames. Isso pode ser consequência da guerra surda travada entre linguistas (em geral jovens) e gramáticos, que se digladiam para interpretar, cada um a seu modo, a melhor maneira de promover a integridade do nosso vernáculo.                                    O pior de tudo é que o aluno se torna a maior vítima desse lamentável processo.  Os professores, em geral, seguem a orientação dos gramáticos e respeitam a norma padrão, expressa no Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, editado pela Academia Brasileira de Letras.  Vêm  os inovadores e topam  tudo pela mudança, provocando o caos no ensino.  Cabe ao  MEC uma palavra ponderada de orientação, mas  este abre mão dos seus poderes e se deixa levar, como uma folha de papel ao vento, correndo de um lado para o outro.                                     A prova de que a correção é feita de modo superficial e rápido está no fato revelado de que um aluno inseriu, no meio da redação, uma explicação sobre como se prepara um miojo, e ficou por isso  mesmo.  Ou seja, passou direto, sem que o examinador tenha  percebido.  Irresponsabilidade?                                     As explicações do Inep são risíveis diante de uma enxurrada de erros crassos de concordância verbal, acentuação e pontuação.  Esses “desvios” não são considerados graves pelo MEC, o que nos leva a crer que está certo o professor que, diante desse descalabro, achou que se deveria dar à OAB a correção das redações.  “Pelo menos eles fazem a coisa  com seriedade”.                                     O  Guia do Participante do Enem, que foi alvo de muitas críticas, nos primeiros exames, prometeu um rigor extremo  nas competências, mas  não é o que ocorre na prática.  A primeira das cinco competências é muito clara quando recomenda “demonstrar domínio da norma padrão da língua escrita.”  Se, na hora da correção, isso se afrouxa, é claro que se está indo por um caminho condenável.                                         Os que amam a língua portuguesa, sendo ou não especialistas, assistem a esse triste espetáculo e se perguntam se vale a pena lutar para que haja dois exames ao ano, como muitos pretendem.  Estamos diante de uma questão de competência, pois recursos não faltam.  Quem garante que a UnB está fazendo a seleção dos examinadores de forma isenta?  De todo modo, o problema está posto e merece uma ampla discussão.  Não se deve deixar os candidatos com esse tipo de perplexidade, sem saber o caminho a tomar.  O adequado é  a norma culta, e ponto final.

  • Secularização e ‘guerra de religiões’

    A segunda década do século começa, já, a viver de inesperadas contradições, na larga visão das expectativas do futuro. Dava-se por assente o avanço da democracia, a supor, por sua vez, uma crescente secularização da vida pública e a trazida do religioso ao estrito plano das identidades culturais. Desde a Revolução de Khomeini, no Irã, foi-se ao polo oposto: aí estão os Estados islâmicos a fazer da sharia a própria norma da cidadania e sua vigência. Mas, ao mesmo tempo, a Primavera Árabe foi saudada, de início, como este empuxe profundo de uma maturação global do imperativo democrático, com a derrubada de ditadores, quase perenizados, como o da Tunísia, da Líbia,  ou do Egito. Vã a esperança, no que, de logo, se evidenciou na torna desses países à dominante religiosa e, até, às vezes, ao novo exclusivismo da cidadania conferido às crenças. E ainda perdura a hesitação, no Egito, do exclusivismo político da Fraternidade Muçulmana, da plena consagração dos salafidas e sua hegemonia xiita.

  • Preservando as espécies

    Em Itaparica, não existe muita preocupação com esse negócio de privacidade, visto que, desde o tempo em que a luz era desligada pela prefeitura às dez horas da noite, o sabido saía com a moça, se esgueirando entre os escurinhos do Jardim do Forte e, no dia seguinte, na quitanda de Bambano, o fato já tinha alcançado ampla repercussão, com fartura de pormenores. O mesmo acontecia em todas as outras áreas e diz o povo que, quando meu tio-avô Zé Paulo, tido como mais rico que dezoito marajás, soltava um pum, sozinho numa sala de seu casarão, os puxa-sacos já ficavam de plantão no Largo da Quitanda e, no instante em que ele passava, se manifestavam efusivamente.

  • Dias de ira

    O prefeito do Rio foi insultado por um cidadão e revidou a ofensa com um soco na cara do cara. Em São Paulo, outro cidadão mal-humorado reclamou do barulho do sapato que os vizinhos faziam. Pegou uma arma, subiu um andar, matou o casal que estava numa boa, voltou ao elevador e nele se matou.

  • A hora dos microcontos

    Não se tem uma conceituação precisa do que seja um conto, na nossa literatura.  Na dúvida, em certa ocasião, perguntamos ao romancista Josué Montello o que seria um conto.  A sua resposta foi instantânea: “Conto é tudo aquilo que chamamos de conto.”  E nada mais disse.                                         Dentro desta concepção, o escritor Marcos Vilaça, quando exerceu pela segunda vez a presidência da Academia Brasileira de Letras, instituiu um original concurso.  Pediu aos usuários do site da ABL (muito concorrido) que enviassem para a Casa de Machado de Assis o que se entendia por microcontos, textos com no máximo 140 caracteres, como se faz no twiter.  Foi um sucesso.                                        Para que se sinta o alcance da iniciativa, publicamos a seguir os três primeiros  colocados:                                         1º) “Toda terça ia ao dentista  e voltava ensolarada.  Contaram ao marido sem a menor anestesia.  Foi achada numa quarta, sumariamente anoitecida.” – Bibiana Silveira  Da Pieve (Rio de Janeiro).                                       2º) “Joguei.  Perdi outra vez! Joguei e perdi por meses, mas posso apostar: os dados é que estavam viciados.  Somente eles, não eu.” – Carla Ceres Oliveira Capeleti (Piracicaba, SP).                                       3º) “Não sabia ao certo onde tecer sua teia.  Escolheu um cantinho de parede da cozinha.  Acertou na mosca.” – Eryck  Gustavo Silva de Magalhães (Guaratinguetá, SP).                                        Deve-se assinalar, nos trabalhos premiados, a inteligência na concisão das frases, a sua elaboração literária e a precisão vernacular, o que para nós é fundamental.                                         Esses predicados, aliás, foram encontrados igualmente em outros microcontos selecionados pelo júri de imortais.  Podemos  exemplificar, com o que foi enviado por João Carlos Pedroso (Rio de Janeiro): “Ele passou a  vida esperando por ela.  Esperou que a vida passasse por ela.  E achou que com ela passaria a vida.  Ela viveu a vida.  Ele passou.”                                          Em seguida, vem o criativo trabalho de Luiz Felipe Marques, de Curitiba: “Na peça de estreia, o velho ator de nunca sucesso bebe com gosto o copo errado.  Grita, cai morto e pela primeira vez é aplaudido.”                                        Vejam  a inspiração de Luís David Venturino, de Bauru (São Paulo): “Apagão.  Alguém bate à porta.  Será um ladrão? O que ele diz: Quero vê-la! Vai embora, maníaco.  “Sou eu, vizinha, quero uma vela! Risos.”                                         É a vez de Cynara Navarro Amorim, de Campo Belo (São Paulo): “Após horas ali parado, contemplando o quadro, já não distinguia o que era  arte e o  que era vida.  Nem sabia mais se ele era mesmo o original.”                                         Outra contribuição de Curitiba (Paraná): “Tadeu tremia todo tempo.  Teresa tornou Tadeu triste: terminou, traiu Tadeu.  Teresa tem Tiago.  Tadeu tinha tudo, também tudo temeu.”  A autora é Karla Tavares Dudas, naturalmente com “t” no sobrenome.  Trabalho e talento.