
Tempo presente
Estou, ultimamente, certo de que um fenômeno está surgindo no mundo atual: a compressão do tempo. Ele está cada vez mais chato e achatado. Parece que a cada dia fica mais curto.
Estou, ultimamente, certo de que um fenômeno está surgindo no mundo atual: a compressão do tempo. Ele está cada vez mais chato e achatado. Parece que a cada dia fica mais curto.
O aprofundamento da democracia, tal como a brasileira, nestes tempos de Dilma, nos leva a conviver com as normalizações, ou seja, com a garantia e a certeza de um avanço institucional sem retrocessos, que nos acena para o advento, afinal, de um Estado de Direito e um exercício efetivo da cidadania política. Ou seja, da consciência do vis-à-vis no criticar e no mobilizar, frente a frente, os atores-sociais, até há pouco entrincheirados do sistema de poder, e no anonimato das grandes corporações, guarnecidas pelo comando da opinião pública.
Além do Instituto de Filosofia, outro departamento da Academia de Ciências Sociais de Xangai participou do seminário sobre as relações da China com a América Latina realizado ontem aqui em Xangai: o Instituto de Marxismo Chinês, cujo sentido deu o tom das palestras dos vários scholars chineses.
Não é de hoje a ideia de criar uma comissão para decidir sobre determinados problemas. Quando um governo, uma empresa, um general em campanha enfrentam uma questão delicada, o remédio é formar uma comissão para estudar, avaliar e, em caso extremo, resolver a situação na base do "fizemos o que foi possível". Quando se viu perdido em Waterloo, Napoleão fez uma coisa rara: convocou uma reunião de generais. que decidiram esperar por reforços que não vieram. A comissão que apurou o assassinato de J. F. Kennedy até hoje é contestada. Dizem que um dos desenhos mais bonitos da natureza, o cavalo, foi criado por Deus. O camelo, que embora mais resistente é mais bagunçado, foi criado por uma comissão de sábios e artistas. Evidente que louvo a recém-criada Comissão da Verdade para apurar os crimes que ocorreram no regime militar. Admito que dona Dilma escolheu pessoas idôneas e bem-intencionadas para fuçar os arquivos -se é que eles ainda existem. De qualquer forma, uma faxina cívica e moral deverá ser feita para que todos conheçamos a longa noite de chumbo que atravessamos e não queremos atravessá-la de novo, num futuro que, de repente, pode ser armado -e "armado" é bem o termo para o que houve. Quando um executivo tem um abacaxi nas mãos, a primeira coisa que faz para descascá-lo é nomear uma comissão de alto nível para apurar os fatos, doendo a quem doer. Acontece que um governo bem azeitado, como o que dona Dilma pretende fazer, tem elementos próprios, dispõe de toda a estrutura de um poder institucional e plenamente democrático para revelar à nação os tumores que, embora recolhidos por qualquer acidente de percurso, podem provocar uma metástase que colocará novamente em risco nossa acidentada vida nacional.
O professor Chen Changshen, do Instituto de Filosofia da Academia de Ciências Sociais de Xangai, fez no seminário promovido em conjunto com a Academia da Latinidade uma análise muito aguda da situação atual da China, partindo da constatação de que a globalização é a principal tendência e a ideologia dominante em nosso tempo.
O fenômeno da globalização continua sendo o centro das discussões, agora no seminário da Academia da Latinidade aqui em Pequim, realizado na Universidade Tsinghua — uma das melhores do mundo —, e um contraste interessante surgiu logo no primeiro dia de debates, com os analistas chineses tendo uma visão mais favorável do que a maioria dos ocidentais. O professor Walter Mignolo, diretor do Centro de Estudos Globais e Humanidades da Universidade Duke e professor visitante na City University de Hong-Kong, tem uma visão negativa do fenômeno da globalização, que analisa em seu novo livro, "The darker side of Western modernity" (_"0 lado mais escuro da modernidade ocidental" em versão livre).
Uma das preocupações mais sentidas entre os estudiosos chineses nestes dias de seminários aqui em Pequim, que já havia ficado registrada nos debates em Xangai, é fazer com que o mundo ocidental conheça a genuína cultura chinesa e entenda o espírito de seu povo.
Não faz muito, dei um giro por terras e ares do chamado Oriente Médio, onde estavam acontecendo coisas que não me interessavam, mas interessavam à revista na qual trabalhava. Naquela época, as coisas pareciam estar melhores do que agora, com as sucessivas crises econômicas e políticas que estão acontecendo por lá. Houvera uma espécie de acordo entre Israel e Egito, o que me obrigou a uma certa permanência nos dois países.
A expressão desenvolvimento sustentável está na moda. Tem tudo a ver com as nossas perspectivas de vida saudável e, por isso mesmo, o papel da educação, nesse processo, é fundamental, quando, numa aula de Ciências, discute-se a quantidade de animais ameaçados de extinção, como é o caso das ararinhas azuis, que não se encontram mais na natureza (só em cativeiros), na verdade estamos preparando o espírito dos nossos futuros executivos para a necessidade inadiável de respeito aos limites do planeta.
Repercute, hoje, internacionalmente, o avanço democrático brasileiro, expresso na consolidação do Conselho Nacional de Justiça e no reforço dos direitos humanos, ou, agora, na Comissão da Verdade. Sobretudo, desponta uma nova articulação entre o nosso regime político e o sistema federativo, instalado com a República, mas deixado até nossos dias à margem das mecânicas de centralização do poder. Devemos a Rui Barbosa a implantação na República " do sistema, no estrito transplante do regime americano. Mas chegamos, praticamente, até o novo século sem qualquer regionalização funcional do poder, como evidenciou o regime do "café-com-leite", na Velha República, na troca entre Minas e São Paulo, da nascida instrumentação dos poderes da União.
A crise política que se abateu sobre o Partido Comunista chinês em março, quando uma de suas principais estrelas, Bo Xilai, que comandava a megacidade Chongqing, foi afastado, tem origem em uma disputa em torno da relevância de uma característica subjetiva chinesa que faz parte hoje do ideário do Comitê Central, resgatada nos últimos anos depois de ter sido menosprezada pelo camarada Mao e sua Revolução Cultural, que Bo Xilai queria reviver como parte de um projeto politico oposto ao que está em vigor no país há 30 anos.
Acho que ninguém acredita que essa CPI vá dar em alguma coisa, talvez nem sequer pizza. Não sei se as normas aplicáveis permitem isso, mas a impressão que se tem é de que, se fosse possível, os responsáveis por sua criação a dissolveriam e sairiam disfarçadamente do Congresso, assobiando com a mão no bolso e olhando para o ar como quem não quer nada - CPI, que CPI é essa, não sei de CPI nenhuma, é tudo invenção da imprensa, tirem esse bicho daí.
Mais por penitência do que por curiosidade, assisti até o fim à sessão da comissão de inquérito que convocou o Cachoeira para dar informações sobre o atual e vergonhoso escândalo que continua em cartaz.
Como não podia deixar de ser, o papel dos BRICS no cenário mundial foi tema recorrente em várias palestras no encontro da Academia da Latinidade que terminou na sexta-feira aqui em Beijing. Entre Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, na visão do secretário-geral da Academia, o cientista político Cândido Mendes, os poderes emergentes se diferenciam, a começar pelo fato de que existem quatro nações em desenvolvimento e a Rússia “em franca regressão”. Dentre eles, há o protagonismo de Brasil e China, a situação brasileira reforçada pela política externa “de afirmação de independência” no Oriente Médio, de avanço nas ações africanas, mas, sobretudo, segundo ele, de “descontextualização da antiga moldura latino-americana”. Para Cândido Mendes, o Brasil entra nessa globalização não hegemônica que se desenha com parceiros que seriam impensáveis há 20 anos, e nesse quadro o protagonismo de Brasil e China pode ser constatado na expansão das atividades dos dois, e na consequente competição, na África.
Vale muito a curiosidade pelo que irão operar as redes escolares brasileiras no acompanhamento crítico da "Rio + 20". Sem o envolvimento estudantil, sobretudo do alunado do ensino médio, perderão substância as campanhas necessárias por tornar o tema da sustentabilidade comum às preocupações das famílias. Sem o interesse dos moços não prospera a campanha. É a aposta no futuro. Por isso persigo o trabalho de avaliação, de participação da juventude seja no que for. É mais do que usar termômetro ou tensiômetro.