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Artigos

 
  • Regressão e primavera democrática

    Realizou-se recentemente, patrocinada pela Academia da Latinidade, no seu 23° seminário, em Barcelona, a discussão de todo o impacto das atuais revoluções democráticas no mundo árabe, bem como do avanço da radicalidade republicana nos Estados Unidos e das novas restrições migratórias, justamente contra essa mesma cultura islâmica.

  • Desonestidade é cultura

    Sempre se tem cuidado com generalizações, para não atingir os que não se enquadram nelas. Às vezes o sujeito odeia indiscriminadamente toda uma categoria, mas, ao falar nela e, principalmente, ao escrever, abre lugar para as exceções, os “não-são-todos” e ressalvas hipócritas sortidas. Outros recorrem a gracinhas, como na frase do antigamente famoso escritor Pitigrilli, segundo a qual “as únicas mulheres sérias são minha mãe e a mãe do leitor”. No caso presente, decidi que as generalizações feitas hoje excluem todos os leitores, a não ser, evidentemente, os que desejem incluir-se – longe de mim contribuir para aumentar nossa tão falada legião de excluídos.

  • Questões de acentuação tônica

    Um leitor atento das Bases do novo Acordo Ortográfico aponta nova orientação no emprego do acento gráfico das vogais ‘i’ e ‘u’ tônicas dos paroxítonos, quando precedidas de ditongo,em relação às normas do sistema oficial anterior, tanto no Brasil (1943), quanto em Portugal (antes de 1945).    Eis o texto da sua pergunta: “O parágrafo 4º da Base X do Acordo Ortográfico de 1990 diz o seguinte: ‘4º Prescinde-se do acento agudo nas vogais tônicas grafadas ‘i’ e ‘u’ das palavras paroxítonas, quando elas estão precedidas de ditongo: ‘baiuca’, ‘boiuno’,‘cauila’ (var. ‘cauira’), ‘cheiinho’ (de ‘cheio’), ‘saiinha’ (de‘saia’). Logo, por que no Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa (Volp) a Academia Brasileira de Letras (ABL) interpretou que a regra acima só se aplica a ditongos decrescentes, e acentuou, por exemplo, ‘guaíba’?  

  • Para o mundo admirar

    Não deram muita atenção a uma advertência do deputado Romário sobre os preparativos da próxima Copa do Mundo, a ser sediada no Brasil em 2014, isso se a Fifa não mudar de ideia.

  • Democracia e neofundamentalismo

    Realizou-se nestes dias, patrocinada pela Academia da Latinidade, no seu XXIIl Seminário, em Barcelona, a discussão de todo o impacto das atuais revoluções democráticas no mundo árabe, bem como do avanço da radiealidade republicana, nos Estados Unidos, e das novas restrições migratórias, e justamente contra esta mesma cultura islâmica. O que inquieta é a queda da garantia do pluralismo, ou dos dois lados do cenário, nesta configuração do novo mundo global. O imperativo da democracia confronta os seus ditos universais, por todos os atores da contemporaneidade no próprio imo dos regimes ocidentais. Angela Merkel rejeitou o pluralismo na Alemanha, precedendo as declarações de Cameron, no último G-20, ao defender uma imigração "boa", em crescente restrição dos fluxos árabes. O Ocidente passa, hoje, a uma linha defensiva onde os regimes da liberdade confrontam um sistema de exclusão social, de repto ao completo reconhecimento do outro, implicado pela plena cidadania, na esteira das conquistas dos Direitos Humanos pela modernidade.

  • O governador do Rio Grande do Sul

    Quando recentemente viajei pelo interior do pampa, para cumprir o itinerário de lançamento em três Feiras do Livro -desde São Sepé (que lembra a grande figura do herói indígena, Sepé Tiaraju), Candelária e Porto Alegre, ao conversar com vários amigos, disseram-me: o governador Tarso Genro ganhou as eleições e mantém alto nível nas pesquisa , por um segredo. Quis saber qual era o segredo. Todos foram unânimes: a capacidade de escutar e discutir com as classes e o povo nos seus projetos. Soube até que recebeu homenagem nos redutos de sua terra - Santa Maria da Boca do Monte. Ora, venceu o que se tornou mais do que um provérbio, um destino: "Ninguém é profeta em sua terra". E ele está sendo. Eu o conheci há muitos anos. Ainda não era prefeito da capital, nem ministro da Educação ou de Justiça do governo federal. Era um poeta e advogado militante que prosperava com seu escritório nos assuntos'de Justiça do Trabalho. Encontrava-o, frequentemente, no foro entre audiências e clientes, com a fraternidade, a comunicante alegria, a imperiosa liderança, o respeito à diferença e o amor aos mais desvalidos. Nossa amizade cresceu no tempo como a flor no intervalo da pedra. Outro dia almoçamos juntos e senti no abraço a presença do irmão. Sim, hoje é o governador eleito de minha terra. Tem posto a educação, a cultura e a justa administração da coisa pública como metas fundamentais. Não é apenas um constitucionalista emérito, jurista provado em vários embates no exercício de cargos elevados, mostrando visão, conhecimento e integridade, coisas que raramente se aliam. E uma vocação de estadista que muito servirá a este País. Mas não se discute grandeza: basta reconhecê-la. Digo isso com serenidade, aquela mesma, a que Norberto Bobbio, nossa comum admiração, faz seu elogio, num de seus derradeiros livros. E não sou do partido do nobre governador e de nenhum partido, vivendo, honradamente, sob a bandeira auriverde desta pátria e do pampa. É que o único partido de um poeta, é o da condição humana. Mas não se discute grandeza: ela se impõe. Como o Minuano sopra.

  • Cruzado: 25 anos

    Com o tempo, é possível ver o que significou para o Brasil o Plano Cruzado. Ele completou agora 25 anos. Nenhum plano despertou tanta paixão: os especuladores de 1986 o odeiam e o povo consumidor não o esquece, pois foi a primeira grande distribuição de renda do Brasil. Eu sabia dos riscos e perigos em fazê-lo, mas tive a coragem de congelar os preços e a taxa de câmbio, entre outras medidas. Abandonei a ortodoxia do FMI e da banca internacional. Enfrentei-os. Derrotei-os, pois o Brasil, a partir dali, nunca mais seria o mesmo — nem o FMI também. A Europa vive até hoje o que é o combate ortodoxo da crise de 2008. Desemprego em 20%, protestos em várias cidades e a agonia do Estado social isto é, o direito do povo a saúde, educação, aposentadoria e seguridade social.

  • Dilma, soberania e direitos humanos

    As novas conquistas da política externa brasileira deparam uma interrogação: vão à conquista estrita da iniciativa internacional do país, saído das velhas dependências continentais ou das velhas servidões de periferia, -como já expresso na voz do país, no mundo árabe, ou à não interferência da Otan nas tensões de Trípoli e Damasco? Ou,cada vez mais, o novo perfil internacional do país se associa, por sobre os problemas nacionais e de soberania, ao avanço dos direitos humanos e aos ganhos da cidadania dos ditos reclamos, já, da própria humanidade, neste começo do século XXI? As primeiras visitas internacionais de Dilma associam-se, intrinsecamente, a estes imperativos e não é sem razão que sua visita a Pequim reforçou a liberação de Ai Wawet e outros contestadores do sistema.

  • O Gueto de Bolonha

    Na Itália, quando procurava o caminho para visitar a Universidade de Bolonha, provavelmente a mais antiga do mundo (de 1088), surgiu à minha frente a placa desafiadora: “Museu Hebraico”. Não resisti à tentação e virei à esquerda, como indicava a seta, para realizar uma comovente visita ao passado daquela região.

  • Sinais

    O desfecho da crise dos "restos a pagar" das emendas parlamentares só fez reforçar a percepção disseminada pela classe política de que o governo não tem estrutura para aguentar as pressões da sua própria base aliada.

  • Vida de escritor

    Com mais de 50 anos de escrevinhação nas costas, descobri algumas ideias que muita gente faz da vida de um escritor. Por exemplo, tem quem ache que os escritores, notadamente entre eles mesmos, só falam difícil, uma proparoxítona para abrir, uma mesóclise para dar classe e um tetrassílabo para arrematar. "Em teu parecer, meu impertérrito amigo", perguntaria eu ao Rubem Fonseca, durante nosso almoço periódico, "abater-se-á hoje, sobre a nossa urbe, uma formidanda intempérie?" Ao que o Zé Rubem reagiria com uma anástrofe, um mais-que-perfeito fazendo às vezes do imperfeito do subjuntivo e uma aliteração final show de bola, coisa de craque mesmo. "Augure do tempo fora eu, pressagiá-lo-ia libentissimamente", responderia ele. "Todavia, de tal não me trato." E assim iríamos almoço afora, discutindo elevadíssimos assuntos, em linguagem só compreensível por indivíduos especiais.

  • Ao centro

    Ao mesmo tempo em que utiliza todos os instrumentos legais para tentar impedir a formação do PSD que o ex-correligionário e prefeito de São Paulo Gilberto Kassab está organizando, principalmente com dissidentes do Democratas, o partido procura reforçar seu posicionamento ideológico para ocupar o nicho eleitoral que o PSD também disputará se for concretizado. O presidente do DEM, senador Agripino Maia, diz que o partido é basicamente de "centro-conservador", evitando o termo "direita". Na tentativa de globalizar a linha do partido como de centro, ele esteve nos últimos dias, em companhia do ex-deputado José Carlos Aleluia, que preside o instituto de estudos Liberdade e Cidadania, em duas reuniões no exterior para reforçar os contatos do DEM com partidos da mesma 'tendência no mundo.

  • A Língua e o Folclore

    Um leitor nos pergunta se é válida a explicação da origem da nossa palavra 'forró' pelo inglês 'for all' para designar um tipo de baile popular. Essa etimologia deve ser rejeitada, graças ao estudo da história do nosso vocabulário.

  • Aprendizagem profunda

    A proposta do professor Fredric Litto, criador da Escola do Futuro da USP, era muito clara: "Como superar os desafios numa sociedade conectada?" Para aquecer a discussão, no Centro de Convenções SulAmérica, no Rio, ele propôs que falássemos sobre a profissão de docente.

  • A autoridade da morte

    Parece que um escritor para ser plenamente reconhecido, tem que morrer. Vejam os exemplos de Jorge L. Borges, Sábato ou Bioy Casares, na próxima Argentina. Suas obras se multiplicam por livrarias e até em bancas de jornais. E pela "autoridade da morte", usando a expressão feliz de Machado de Assis, que também pressentiu o que lhe sucederia, postumamente.Porque em vida não foi poupado nem por Sílvio Romero, nem por José do Patrocínio. De um lado, a morte é reveladora do que se mostrou grande, em qualquer arte. De outro, é caridosa com o medíocre. Faz com que tudo dele desapareça, como se nunca tivesse existido.