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Artigos

 
  • O homem terminal

    Na Semana passada, vi a reprise de um filme sobre o Dr. Morte. Devo de início elogiar a atuação de Al Pacino no papel principal, uma das melhores que já vi no cinema de todos os tempos. Confesso que não me interessei pelo caso na devida ocasião, não acompanhei suas proezas nem seus julgamentos e só assisti ao filme na TV por falta de opções. Nem sequer guardei o nome do personagem, nome complicado, parece que de origem armênia. Nem mesmo guardei o nome do filme. Mas fiquei impressionado com algumas cenas, sobretudo aquela em que, numa de suas prisões, ele gritava que a sociedade estava na Idade Média e invocava, entre outros, o nome de Galileu. O Dr. Morte tinha uma posição contrária à eutanásia, considerando-a um homicídio. O doente terminal não era ou não podia ser consultado, a decisão era tomada pela família ou pelos médicos que afastavam os equipamentos ou deixavam de aplicá-los, interrompendo a assistência médica considerada inútil e cara. No caso do Dr. Morte tratava-se na realidade de um suicídio assistido, o doente terminal, esgotados todos os recursos da medicina e não suportando as dores, autorizava a aplicação de uma injeção letal.

  • Por uma federação de fato

    Malgrado o Estado brasileiro ser, como é notório, uma República Federativa, ainda sofre de grande centralismo em tomo da União e elevado grau de competitividade entre os Estados, Distrito Federal e municípios. Sem querer penetrar no DNA de nossa federação, poderia afirmar que ela padece de "debilidade congênita". Diversamente do que ocorreu nos Estados Unidos da América do Norte, cuja Constituição inspirou, e muito, aos homens públicos brasileiros, nossa federação não é filha de um genuíno 'pacto federativo", para usar expressão tão em voga. Fácil é concluir: possuímos uma federação legal, não uma federação real. Convém não deslembrar, talvez por constituirmos Pais de grande expressão territorial, que a descentralização, leia-se a organização do Brasi! sob a forma federativa, foi aspiração que permeou muitos dos movimentos significativos de nossa história, da qual são exemplos a Inconfidência Mineira e os de 1817 e 1824 ocorridos em Pernambuco.

  • A marca notável das academias de letras

    Quando me perguntam para que servem as academias de letras, o primeiro pensamento que me ocorre é sobre os objetivos de sua existência. Seguramente não é só para que nelas se sirva, uma vez por semana, o gostoso chá de que tanto se fala, às vezes até maldosamente. Não! A marca notável das academias está sintetizada na palavra convívio. Não é incomum, nos discursos de posse, a referência ao fato de que “agora, estamos condenados a conviver para o resto da vida”, o que implica a renúncia a personalismos ou ao exercício de atitudes de arrogância ou prepotência.

  • À casa torno

    Estou de volta a solo pátrio. Novamente pela TAP, que desta vez, apesar de a reserva da volta ter sido feita antes da viagem de ida, me botou em standby na troca de avião em Lisboa e tive problemas não só para embarcar como, depois disso, para conseguir sentar junto a minha mulher. Talvez alguém na companhia haja com isso se vingado do que contei aqui na semana passada, sobre a comida que acabou, no voo de ida. Que é que vou fazer, não é calúnia, é a pura verdade. Havia três opções no menu: lasanha, filé de badejo e cassoulet de carne mas, mas as nossas poltronas eram as últimas e, quando chegou a nossa vez, tanto a lasanha quanto o badejo tinham acabado. Imagino que, se isso acontece com frequência, o diálogo entre a comissária de bordo e o passageiro ameaçado de jejum, deve ser assim:

  • Entender o sistema ortográfico

    Um inteligente leitor desta coluna escreve-nos para declarar que a ele e a muita gente a imposição a todos os usuários do idioma de uma reforma ou de um acordo ortográfico proposto  por um pequeno grupo de pessoas significa “uma atitude de extrema arrogância”.

  • "Ateou fogo às vestes"

    Não sei se o sinal é bom ou mau. Em princípio, acho que é bom, mas não tenho certeza. Outro dia, citei aquela frase de Machado de Assis "no meu tempo já existiam velhos, mas poucos".

  • Cabra parida

    George Orwell, quando, em 1949, publicou o seu famoso livro "1984", imaginou uma sociedade com um ministério da verdade para zelar por condutas morais "corretas".

  • Demasiadamente humano

    A crônica que escrevi para a Ilustrada na última sexta-feira ("O homem terminal") provocou, como eu esperava, muitas mensagens, algumas a favor, outras contra o assunto que abordei. Destaco e transcrevo a mensagem via e-mail recebida do leitor Gilberto de Mello Kujawski, autor de "Machado de Assis por Dentro":

  • Couro duro

    Bastou o ex-presidente Lula recomendar que os ministros acusados de corrupção tivessem "couro duro" e resistissem às denúncias antes de jogarem a toalha, para que os últimos envolvidos em escândalos ensaiassem uma resistência patética. O ex-ministro do Esporte Orlando Silva esperneou muito antes de pedir para sair, e o máximo que conseguiu foi um enterro de primeira classe, com direito a salva de palmas e a declarações estranhíssimas da própria presidente, que afirmou que não perdera a confiança nele, mas, no entanto, abria mão de sua preciosa colaboração não se sabe bem por quê.

  • Rocinha e Alemão

    O economista Marcelo Neri, do Centro de Políticas Sociais da Fundação Getulio Vargas do Rio, está lançando um estudo comparativo entre as duas maiores favelas da cidade, a Rocinha e o Alemão, e os efeitos da implantação nelas das UPPs. Ele faz parte de uma geração de economistas "cariocas" que, na sua própria definição, começou "a se debruçar sobre os caminhos e descaminhos da nossa própria terra".

  • Sinais de alerta

    No momento em que universidades tunisianas entraram em greve contra a influência islâmica, após religiosos radicais terem ocupado um campus para pedir a separação entre estudantes homens e mulheres, anuncia-se o adiamento da apuração da eleição no Egito, com informações oficiosas de que a Irmandade Muçulmana teria obtido nas urnas cerca de 45% dos votos, resultado acima do que seus próprios dirigentes previam.

  • Cenas de outro tempo

    Caí na asneira de ser jornalista antes do tempo, quando era moço, nada conhecia da vida e da profissão, nem a vida e a profissão me conheciam, nem tinham necessidade disso. Só me recuperei bem mais tarde, quando as coisas mudaram no mundo e em mim mesmo. E verdade seja dita, se o mundo e a profissão mudaram para pior, eu mudei para bem pior.

  • Cansaço das esquerdas e velhice das direitas

    A derrota do Partido Socialista espanhol é muito mais que acidente de percurso, é um réquiem para a esquerda europeia. Cai o governo que, desde 2004, derrubara o regime de Astiz, visto, então, como a  mais decidida implantação de uma direita no continente. A vitória de Rajoy surge como a torna do sistema, com toda carga ideológica da mantença do modelo capitalista, inclusive em etapa de crise geral do que se via, há uma quarentena, como a mola do mundo e da prosperidade Ocidental.