
Casa mal-assombrada
Que a crise está braba está. Desde que assumiu o poder, nem Lula nem o PT passaram por entaladelas iguais. Tudo o que houve anteriormente parece nada diante do que está havendo e, sobretudo, do que ainda poderá haver.
Que a crise está braba está. Desde que assumiu o poder, nem Lula nem o PT passaram por entaladelas iguais. Tudo o que houve anteriormente parece nada diante do que está havendo e, sobretudo, do que ainda poderá haver.
Como admirador do professor Roberto Macedo, não posso calar diante dos artigos por ele escritos para um jornal paulista, a respeito da questão dos estágios dos estudantes na empresas. Li e reli os mesmos, onde encontrei muita graça nas expressões utilizadas e que não se encontram publicadas oficialmente no Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa (edição ABL, 1998): escraviários, escragiocratas e escrágios. Se nada resultar de prático, no que pretendo seja uma útil discussão, fica o registro para a nova edição do Volp. Levarei os termos originais para a Casa de Machado de Assis.
Temos um país privilegiado. E os brasileiros? Talvez a fusão das três valorosas, mas diferentes raças (o branco, o índio e o negro) responsáveis pela etnia brasileira justifique a grande diversidade existente entre nós. Com certeza somos um povo mestiço, como afirmou o escritor Sílvio Romero.
Não sei em que vai dar todo o fuzuê da semana passada. É bem possível que não dê em nada e os punidos por acusações eventualmente provadas venham a ser o boy que comprou as malas do suposto dinheiro do mensalão (tenho que usar “suposto”, “alegado” etc., senão pode dar processo em cima de mim; mas, como é meio chato ficar repetindo esses adjetivos o tempo todo, peço que os subentendam daqui por diante) e talvez os caixas dos bancos que entregaram o dinheiro aos sacadores. E certamente vai sobrar para mim, pois deverei incorporar a condição de preposto do deputado Roberto Jefferson à minha condição de porta-voz de quem quer que achem que no momento estou portavozeando. Mas é isso mesmo, já estamos e já estou acostumado.
Antigamente, minha marginalidade se acentuava muito nas festinhas em que, segregados das mulheres, os homens se recolhiam num canto da casa e discutiam os terreninhos. Todo mundo tinha um terreninho, cujas características eram debatidas em minúcias, a começar pelos metros quadrados, noção que sempre me escapou e creio mesmo que só consegui passar no ginásio porque devia existir alguma quota secreta para itaparicanos de óculos. Era uma situação confrangedora, porque, já pai de família, ser o único entre os amigos a não ter um terreninho, nem que fosse a seiscentos quilômetros de qualquer lugar, deixava o sujeito coberto de opróbrio. A vida acabou me afastando da maioria desses amigos, mas a lembrança cruel de minha cara de sem-terreno, refletida dolorosamente no espelho, nunca vai embora.
Sim, não vivemos numa ditadura. Por exemplo, hoje, havendo amanhecido com a certeza de ter motivos para falar mal do governo, posso fazê-lo livremente. Mas liberdade de expressão, ao contrário do que muitas vezes parecem querer que acreditemos, não é um presente do Estado, é um direito básico. Esse direito é (para usar o demonstrativo da preferência do presidente Lula, em lugar de “este”, como em “esse país”, expressão há muito tempo empregada por ele ao falar no Brasil e que soa sempre como proferida por alguém que observa a gente de uma perspectiva distante), como não podia deixar de ser, reconhecido por este jornal (esse também, seguramente, embora só esteja me referindo a este) e amparado na configuração jurídica do regime, também como não podia deixar de ser.
Como todos sabem, após a morte de Einstein, em 1955, o patologista de plantão no hospital universitário de Princeton, Thomas S. Harvey, fez a autópsia do cadáver e, por conta própria, tirou o cérebro do gênio e levou-o para casa a fim de estudá-lo e descobrir onde se localizava a genialidade do falecido. Foi demitido.
O debate sobre a maioridade penal faz parte da visão global da violência no país. Não se está discutindo uma alta indagação sobre a idade do domínio pleno da personalidade, da consciência do bem e do mal. A realidade dramática e cruel dos números revela que os jovens estão matando e sendo mortos. Cerca de 70% dos homicídios, nas duas pontas, acontecem nessa faixa etária.
Dentre os artigos da Constituição de 1988 merece especial destaque o de nº 226, que dispõe sobre a criação e as funções das entidades familiares.
É do presidente Castello Branco a afirmação de que nas revoluções se sabe como entrar e nada de como sair. De formação legalista, embora da geração dos tenentes, nunca participara de nenhuma das famosas revoluções do seu tempo, 22, 24, 30. Em 1964 foi o candidato dos civis revolucionários contra os duros reunidos em torno de Costa e Silva, expressão do pensamento dos quartéis. Desde o início a preocupação de Castello era de como sair; a outra ala, de como entrar. Repetia-se o que ocorreu na República entre Deodoro e Floriano. Castello justificava a revolução de 64 com o argumento de melhorar as instituições políticas, deterioradas pelo governo João Goulart. Costa e Silva, diferentemente, com a tropa, desejava passar tudo a limpo, com a bandeira castrense anticomunista.
Como o Governo Lula responde ao “a que veio”, em tempos e seqüências tão distintas das expectativas do Brasil estabelecido? O primeiro ano de mandato transformou os aliados eleitorais do PT em sócios efetivos de um programa de poder: deu a partida nas reformas ditas de base como índice de modernização institucional do País; diferenciou o caminho da mudança à margem dos purismos ideológicos e dobrou a sua facção radical; inaugurou uma política externa de novas alianças, por fora dos denominadores tradicionais das periferias e de seu petitório clássico.
O ano França-Brasil está permitindo, em encontro inédito, um novo horizonte de cooperação, em nível universitário, entre os dois países. A Sorbonne nouvelle vai ouvir o depoimento de 12 reitores brasileiros, a partir do desenho geral da nossa nova política pública de ensino superior, por iniciativa do Secretário Geral do Sesu, Nelson Maculan. Recolheremos a contrapartida francesa, no empenho desenvolvido pelo presidente da Paris III, Bernard Bosredon, voz, hoje, de importância tão estratégica na completa reavaliação e prospectiva desta colaboração internacional.
Não me darei ao respeito de ir ao cinema ver a Paixão de Cristo segundo Mel Gibson. Tampouco vi outras versões anteriores, nem mesmo a superprodução de Zeffirelli, que tem a fama de ser a mais respeitosa e edulcorada. Considero os Evangelhos como peças literárias, um "auto pastoril", como queria Renan. Não se traduzem em imagens e muito menos em ação.