
Quando quarta-feira chegar
Não há como esconder a gravidade da depredação do edifício do Congresso Nacional e da tentativa de sua invasão. Mostra o episódio a vulnerabilidade das dependências da Casa e, conseqüentemente, do seu funcionamento.
Não há como esconder a gravidade da depredação do edifício do Congresso Nacional e da tentativa de sua invasão. Mostra o episódio a vulnerabilidade das dependências da Casa e, conseqüentemente, do seu funcionamento.
"Crônica" era "relatório", "narrativa", "reportagem", com histórias de naufrágios, de uma batalha, de uma terra descoberta e dominada, de uma aventura.
Não é data redonda, mas são 49 anos daquele 5 de agosto que iniciaria a maior crise política do Brasil, com a morte do major Vaz na rua Tonelero, a qual, 19 dias mais tarde, provocaria o suicídio do presidente Getúlio Vargas.
Ainda meio inseguro quanto à compreensão do que pretendo escrever abaixo, taquei o título aí em cima e continuo inseguro, embora um pouco menos. O título parece com os dos filmes de caubói de antigamente, quando cidades do tempo do bangue-bangue nos Estados Unidos viviam entregues a bandidos que usavam tiros até para matar baratas (Glenn Ford uma vez matou uma, enquanto relaxava numa banheira, com o inseparável Colt 45 ao lado; assisti pessoalmente, embora não lembre o título do filme) e temo que o que vou dizer seja tido como uma exortação à transformação dos nossos grandes centros urbanos em cidades do faroeste.Mas claro que não farei uma exortação desse tipo e a razão é bastante simples. Em primeiro lugar, o que parece não ter importância alguma, sou contra a violência. Em segundo lugar, menos um pouco desimportante, estamos há muito tempo em falta de mocinhos, em todos os níveis de Governo. E, agora sim, importante, já vivemos nessa situação há muito tempo. Somos cidades de faroeste, diferençadas apenas por detalhes, como carros e motocicletas, em vez de cavalos, e a ausência de coldres recheados à mostra. De resto, basta pensar e ver que, em cidades onde morre mais gente baleada do que em países em guerra, só podemos ser uma espécie de faroeste.
É freqüente a alegação de que não se trabalha com afinco e entusiasmo por não estar a atividade exercida em consonância com sua vocação. A bem ver, prevalece a idéia de que, ao nascer, cada ser humano chega para exercer uma profissão determinada, para a qual estaria sendo chamado.
Vivemos, nestes dias, essa desforra da cabeça na política brasileira, pedindo um anticlímax à fieira de sucessos do primeiro semestre presidencial. Mais do que crise, o que se vê é a superestimação de frustrações, aqui e ali, mais pelo clima de expectativas desatendidas do que por tensões concretas, a deixar cicatriz para um futuro imediato. É todo um quadro de retaliações antecipadas que voltam atrás.
Vamos falar do Iraque, fugindo aos temas aqui da nossa terra. Este será um assunto que vai permanecer na agenda internacional por muito tempo e pode transformar-se em referência do que não se deve fazer, como o Vietnam, que até hoje amargura o povo americano.
Desde criança ouvia dizer que não se deve brincar com mulher. Por favor, me entendam. Brincar não significava, nesta advertência, fugir delas, deixar de amá-las, de transar com elas quando possível e com a obrigação suplementar de tentar até o impossível. "Brincar" era não levá-las a sério, baseados na inexistente fragilidade feminina, não temê-las na capacidade de suas cóleras e vinganças.
Reproduzo no título acima, dando o devido crédito, as palavras proferidas pelo ex-deputado Severino, ao mencionar as denúncias de que ele recebia uma gruja do concessionário dos restaurantes (casa de pasto talvez fosse a designação mais adequada a boa parte da freguesia dos estabelecimentos em questão) da Câmara. O homem estava indignado, era sua honra em jogo, era o presidente da Câmara de Deputados, uma das mais altas autoridades do país, sendo falsamente acusado de tomar uma grana comparável à de um bom flanelinha, desses que no Rio às vezes cobram 50 reais pelo direito de usar a rua por três horas. Quer dizer, o flanelinha pode até ganhar mais um pouco e certamente qualquer chefe de quadrilha que explore menores mendigos fatura bem melhor, mas, de qualquer forma, podia sair num jornal estrangeiro e não ficava bem para a nossa imagem. Mentira, mentira, mentira, pois.
CREIO QUE UMA DAS MAIS BELAS regiões do mundo é Languedoc, uma parte dos Pirineus que se encontra ao sudoeste da França. Já estive ali algumas vezes e fico impressionado com seus vales, suas montanhas, sua vegetação, seus rios. Entretanto, como o ser humano é absolutamente imprevisível, foi justamente nesse lugar magnífico que nasceu a primeira grande “heresia” européia: o catarismo.
Muito se tem falado em ética, transparência e, sobretudo, em "sociedade". Decepcionada com a vida pública em seus diversos escalões, é natural que haja choro e ranger de dentes de todos nós. Guardadas as exceções de praxe, tudo parece contaminado pela corrupção e pelo crime.Há pelo menos dois meses, governo, partido no poder, Câmara dos Deputados, algumas instituições bancárias e previdenciárias, empresas de telefonia etc. estão sendo investigadas como pasto de escândalos.
O Congresso está em dramática contagem regressiva, para manter a sua imagem diante do País. Varre do seu seio os denunciados por corrupção e se expõe a uma devastadora fila a se sentar no banco dos réus? Doutra parte, o que representam as manifestações antecipadas do Supremo objetivamente bloqueando averiguações ou rasgando outro rumo para o seu desfecho? O que significam as medidas judiciais defensivas, por enquanto, ao tramitar da cassação do deputado José Dirceu? O impeachment de Roberto Jefferson, de toda forma, torna as oposições prisioneiras do script iniciado pelo ex-deputado, possuído do velho fantasma do lacerdismo.O depoimento, por outro lado, de Daniel Dantas abre outra dimensão ao nosso abuso econômico-político, e expõe a novidade do presente escândalo nacional. É que este regride ao governo anterior em toda esteira de combinações entre o "Opportunity" e a administração tucana, na esteira ambígua das privatizações brasileiras. Dantas declarou que foram seus sócios ou empregados exatamente na seqüência da atividade internacional das suas empresas, Pérsio Arida então Presidente do BNDES, e Helena Landau, responsável por toda a política crítica das mesmas privatizações. A perspectiva que se confirma a partir da vastidão e complexidade do depoimento de Dantas evidencia como o que começou pelas denúncias de Jefferson, na verdade põe em causa uma investigação ampla dos dinheiros públicos, do BNDES aos fundos de pensão, com as oportunidades pioneiras abertas pelo empresário do "Opportunity".
Gonçalves Dias - o notável poeta brasileiro - escreveu, com o título acima, uma das páginas líricas mais belas da nossa literatura -para chorar a despedida do seu amor fracassado com a musa Ana Amélia. Mas isso nada tem a ver com o nosso tema de hoje, a não ser a maneira de manejar com o tempo.
Mulher bonita, mais que bonita: impressionante. Talvez nem fosse bonita, mas bastava olhá-la para nunca esquecê-la. O rosto projetado para frente, um tipo eslavo, silencioso, pupilas claras que olhavam o mundo sem nunca deixar de ver dentro -sua pátria era ela mesma, aquilo que hoje poderemos chamar de "praia".
O camarada entrou no táxi e ordenou ao motorista: "Depressa! Siga aquele carro antes que ele nos siga!". Pelo título que dei à crônica, ela seria mais uma das milhares que estão sendo produzidas pela mídia a propósito da crise de escândalos na vida nacional.