Vamos comemorar!
O Globo (Rio de Janeiro), em 14/11/2004
Não é para ficar reclamando outra vez, não, mas a verdade é que, de modo geral, não tenho sentido em torno uma grande disposição para comemorações. Há a notável e exuberante exceção do presidente, que quase sempre se mostra risonho, bem-disposto, com ar festeiro, de bem com o mundo e confiante no futuro. Razões pessoais bem sabemos que ele tem para isso, já que agiríamos do mesmo jeito, se estivéssemos todos com a vida tão garantidinha quanto a dele, além disso ornada por vantagens legal e naturalmente decorrentes da posição a que galgou, sem que sobejos méritos lhe possam ser negados. E tem razões de ordem cívica também porque, embora eu raramente saia, não me inclua no fechado time dos “bem-informados” e seja visto com paciente condescendência por meus colegas que sabem das coisas, já me garantiram que, na sua (dele) opinião, ele está fazendo um excelente governo, tão excelente que há pouco o levou, num justo arroubo de entusiasmo, a proclamar algo que não escutávamos desde os bons tempos: “Ninguém segura este país!” Carecem de fundamento, contudo, os rumores de que o “Ame-o ou deixe-o” vai voltar - até porque dizem que quem pôde já deixou.