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Artigos

  • Os pinheiros de Roma

    Folha de São Paulo (São Paulo), em 15/12/2004

    Leitores me perguntam o que eu penso sobre a abertura dos arquivos secretos ou sigilosos do Estado. Sou a favor da abertura, de todas as aberturas e de nenhuma fechadura, a não ser a própria, aquela que botamos nas portas e que fecha e dura. O acesso aos papéis higienicamente guardados pelos sucessivos governos servirão aos historiadores e a um ou outro interessado pessoal. Quando abriram os habeas-data nos Dops da vida, o que apareceu de besteira não foi mole. Um amigo ficou sabendo que havia deflorado a própria mãe. O agente que registrou o grave e assombroso incidente usou o verbo "deflorar", que significa tirar a virgindade de uma mulher. No caso dos arquivos, por motivos legais e afetivos, é urgente e necessário saber o destino dos mortos e desaparecidos, por que, quando e como morreram ou desapareceram. É uma crueldade do Estado manter esse sigilo. Já bastam os ossos de Dana de Teffé, que ninguém até hoje sabe onde estão. Um país decente não pode guardar sua história nos porões de qualquer Estado ou de qualquer regime. Quem faz a nação é o povo, e não o Estado, muito menos o regime.

  • A tabuada do Trajano

    Folha de São Paulo (São Paulo), em 14/12/2004

    Aprendi pouco na vida e nas escolas, mas havia uma tabuada do Trajano que os meninos eram obrigados a decorar: um mais um, dois; dois mais dois, quatro. E assim aprendíamos a somar, subtrair, multiplicar e dividir. A tabuada tinha jurisdição nacional e creio que internacional, era das pouquíssimas coisas neste mundo em que havia consenso universal. Nos últimos governos, aqui no Brasil, ela foi superada pelos sucessivos ministros da Fazenda e presidentes da República.

  • O peso de um legado

    Diário do Comércio (São Paulo), em 14/12/2004

    Um dos jornais da capital usou o vocábulo caos para definir o principal característico da capital, depois da chuva de domingo. Não encontro outra palavra que possa definir o que é São Paulo depois da chuva violenta de domingo. Estamos no completo caos urbano. Poucas partes da cidade escaparam desse báratro, legado por Marta Suplicy, prefeita que o PT inventou certo de que fazia um bom negócio para os seus interesses, como partido que pretende manter-se no poder por trinta anos.

  • A luta de Vieira

    Tribuna da Imprensa (Rio de Janeiro), em 14/12/2004

    Eis um livro que mostra a dimensão real de Antonio Vieira, do Padre Antonio Vieira, na formação deste País que é nosso. Nascido em Lisboa, era ele na realidade cidadão espanhol, já que Portugal pertencia, naquele começo do século XVII, à Espanha. Seria melhor chamá-lo simplesmente de o brasileiro Antonio Vieira.

  • A rota de San Tiago

    O Globo (Rio de Janeiro), em 14/12/2004

    Fui convidado, em 1962, pelo diplomata Marcílio Marques Moreira para conhecer San Tiago Dantas. Com a curiosidade natural de jornalista e professor, visitei-o na residência da Rua Dona Mariana, em Botafogo, onde havia pelo menos mais 20 pessoas com o mesmo propósito.

  • O melhor padrão mundial

    Jornal do Commercio (Rio de Janeiro), em 13/12/2004

    Na rápida visita ao Brasil, o presidente Putin, da Rússia, conversou em alguma língua com o presidente Lula, bateu bola no Maracanã, espinafrou a sua segurança porque não o deixou ver a panturrilha do Romário, jantou num rodízio de carnes do Leme e voltou para o avião.Gostou da carne abundante e macia, o que não foi suficiente para eliminar as restrições do seu país à exportação desse nobre produto brasileiro. Desconfianças infundadas de febre aftosa, na verdade uma lamentável reserva de mercado, impediram o acordo, esperado quando se trata de uma visita de cortesia.

  • Silêncio constrangedor

    Folha de São Paulo (São Paulo), em 13/12/2004

    Vi e ouvi na TV, no canal da Câmara, um momento que define uma época, que também nos define e humilha. Encaminhando a votação para a MP que dá ao presidente do Banco Central o status de ministro, o senador Jefferson Péres fez um discurso pateticamente revelador da classe política.

  • O julgamento de Rui

    Diário do Comércio (São Paulo), em 13/12/2004

    "O mal grandíssimo e irremediável das instituições republicanas consiste em deixar exposto à ilimitada concorrência das ambições menos dignas, o primeiro lugar do Estado, desta sorte o condenar a ser ocupado em regra pela mediocridade". Rui Barbosa proferiu esse julgamento da República, hoje de Luís Inácio Lula da Silva, com seu verbo de fogo, e até hoje não surgiu ninguém para o contestar, mas, ao contrário, a cada sucessão se confirma o admirável julgamento do grande tribuno e figura solar da cultura brasileira.

  • Nós somos meusmo é um bando de ladrões

    O Globo (Rio de Janeiro), em 12/12/2004

    Admito que a afirmação acima é um tanto forte e pode indignar os leitores, que, em sua esmagadora maioria, tenho certeza, nunca furtaram nada na vida. Ao mesmo tempo, manda o diabinho que sopra besteiras nos ouvidos de escritores e malucos correlatos que eu pense duas vezes, antes de ter essa certeza toda. De perto, ninguém é normal, disse Caetano, não sem razão. E, segundo me contam, disse Nélson Rodrigues, coberto de razão, que, se todo mundo soubesse da vida sexual de todo mundo, ninguém se dava com ninguém. Não sabemos com certeza o que os outros fazem. Podemos saber ou achar que sabemos muito, mas geralmente não sabemos nada. É até bem freqüente - e está aí a turma analisante/analisanda que não me deixa mentir - que nós mesmos não saibamos, ou não lembremos, o que fazemos ou fizemos.

  • O silêncio dos culpados

    O Globo (Rio de Janeiro), em 12/12/2004

    O VÍDEO FOI GRAVADO NA MANHÃ DO dia 26 de abril de 1986 e mostra uma vida normal em uma cidade normal. Um homem sentado tomando café. A mãe passeando com o bebê pela rua. As pessoas atarefadas, indo para o trabalho, uma ou duas pessoas esperando no ponto de ônibus. Um senhor lendo um jornal no banco de uma praça. Mas o vídeo está com problema: aparecem várias riscas horizontais, como se o botão de “tracking” precisasse ser mexido, de modo que eu e mais cinco pessoas que estão comigo, pudéssemos ver uma melhor imagem. Penso em pedir que façam isso, mas penso também que alguém deve ter notado, e em breve irão tomar alguma providência.

  • José Paulo

    Folha de São Paulo (São Paulo), em 11/12/2004

    Sem repercussão na mídia, morreu nesta semana o poeta e pintor José Paulo Moreira da Fonseca, um dos expoentes da geração de 45 na poesia e um dos pintores mais valorizados nas artes plásticas, com suas portas que foram abrigadas em grandes museus e nas coleções particulares mais sofisticadas.

  • Casa-da-mãe-joana

    Folha de São Paulo (São Paulo), em 10/12/2004

    O sistema partidário brasileiro só não está no fim porque nunca existiu. O Brasil jamais conviveu com a presença de partidos fortes, nacionais, com espaços ideológicos próprios e quadros criados através da militância. A hierarquia na política não é vertical, é horizontal. Vão tomando a frente aqueles que, pela capacidade de liderança, se vão impondo e, através do respeito e da capacidade, podem tomar decisões e ser obedecidos e seguidos.

  • A claridade última de José Paulo

    Jornal do Commercio (Rio de Janeiro), em 10/12/2004

    Na perfeição do silêncio entrado na madrugada, deparamos a face de José Paulo Moreira da Fonseca, já, de outra paz, as mãos transparentes e vigorosas postas em sossego, o poeta-artesão e o pintor do encaixe; do tom como da elisão do verso. Morria no Botafogo de toda a sua mocidade; da primeira turma da PUC, dos formados em Direito, saídos do Palacete Joppert, em São Clemente, dos jardins cuidadosos, pisados pela universidade que começava.O bar do Cardoso, da primeira esquina, reunia esta quase meninada, do começo do debate do existencialismo; da lufada católica do neotomismo, de Maritain e do nosso Dr. Alceu; dos caminhos da fé de Bernanos ou Gabriel Marcel. José Paulo, de todos nós, tinha a casa mais próxima, à dos pais, Dr. Joaquim e D. Dulce.

  • O médico e os monstros

    Folha de São Paulo (São Paulo), em 09/12/2004

    O médico Drauzio Varella, que se tornou um dos maiores escritores do nosso tempo, após publicar livros e artigos sobre a saúde e sobre os doentes, ele próprio caiu doente, se não me engano com uma das formas de hepatite.

  • A fome zero

    Diário do Comércio (São Paulo), em 09/12/2004

    Temos teoria firmada, a fome só será vencida pelo desenvolvimento, sobretudo no esquecido Nordeste, dos açudes privilegiados, das secas que enriquecem malandros e outras formas de desviar o dinheiro destinado a obras de importância inadiável, mas adiadas há um século. A fome zero, do grito de arranque, sem dúvida de curto vôo, do presidente Lula da Silva, quando tomou posse, o mundo inteiro repetiu seu grito, todos os jornais o elogiaram e, finalmente, não temos mais ouvido falar da fome.