Portuguese English French German Italian Russian Spanish
Início > Artigos > Artigos

Artigos

 
  • Justiça, pacto social e cláusula pétrea

    A decisão do Supremo Tribunal, de 18 de agosto, sobre a contribuição dos inativos para a Previdência explicita de maneira exemplar o que seja a prática da democracia profunda pela cultura petista hoje no poder. Lance a lance, cada voto respondeu à interrogação cidadã, de até onde o imperativo de mudança se compadece com a garantia dos direitos adquiridos, e sua consagração no atual Estado de Direito no país. Ou melhor: em que termos a exigência da Justiça pode ir além do pacto social solene da Carta e, nele, das suas cláusulas pétreas, que não comportam sequer emendas constitucionais?

  • O escritor Constâncio Alves

    Quando me elegi para a Academia cuidei em ir ali, ver sala por sala, tentar ouvir vozes, sentir os odores, tudo que é necessário a um conhecimento a se completar. Chegando à Casa, corri os olhos pelo painel dos acadêmicos. Estava lá a imagem de Constâncio Alves (1862-1933), um dos primeiros ocupantes da Cadeira 26.

  • Vôte, arreda, urucubaca!

    Lula começa a sair da onda de desencanto dos 500 dias. Marta emparelha com Serra no tira-teima que parece que serviu como decisivo para o plebiscito antecipado do governo, e agora chega o número chave para vencer-se as areias movediças da estabilidade econômico-financeira assentada na jugular do mítico superávit primário. Teríamos saído da dita inserção passiva na globalização nesses atuais 2 bilhões de saldo nas transações correntes, o maior resultado já ocorrido desde 47, quando começam os dados do IBGE. O sucesso estrondoso do setor de exportações nos empresta um saldo comercial de 24% este ano, quando o comércio mundial cresceu 2,5%. E não é bolha, como insinuou o ex-ministro Sayad, mas resultado para ficar, num impulso ao resto do país que aumenta as vendas internas.

  • Depois de Brizola e do populismo

    As entradas em campanha dos partidos para a eleição municipal só fizeram referendar a sensação clara da prática desaparição do populismo, tal como encarnado por Leonel Brizola frente às próximas urnas. Fica a marca enorme do herói, da personalidade de que não se poderá apartar toda luta pela redemocratização do País já marcada, nos seus pródomos, pela dificuldade de acesso de Jango à Presidência, quando da renúncia de Jânio. Todas as manifestações do choque nacional com a morte quase instantânea deste nosso vulto tutelar põem em causa a expressão objetiva, ponderável de sua herança. É como se Brizola tivesse sobrevivido ao que representasse a força de sua pregação e de seu poder de mobilizar uma esquerda brasileira. Isolou-se no correr do Governo Lula na primeira ruptura contundente com o Planalto, repetida no recado amargo e irredutível de seu artigo semanal, no canto de página de nossos periódicos.

  • O Iraque refém de Saddam

    Chegou atrasada à hora do julgamento a fotografia-chave de Saddam na entrada do tribunal: a do ex-presidente aguardando a retirada das correntes passadas pelas pernas, pela cintura estrangulada, e a travar-lhe os braços. Tratava-se, de saída, de opróbrio muito para além do castigo normal da imposição tão só das algemas - e abertas - durante toda a presença do acusado frente ao juiz. O lance esclarece mais do que toda a montanha de afirmações, ou dilúvio dos sites ou da ruminação de rua, o quanto se abre todo um novo estágio de afirmação do Iraque, após o começo da destranca do ferrolho americano. A volta à cena do ex-ditador é também da iniciativa para a discussão pública do pré e pós-invasão. O personagem-mor, pela sua estrita sobrevivência, agora agressiva, subverte os jogos feitos de um futuro exaustivamente determinado pelos Estados Unidos. O crescimento da guerrilha contra as forças americanas reforça-se no processo monstro, pela contradita à visão dos vencedores que passa agora pela decisão das novas autoridades, sem cortes, à mídia mundial.

  • O PTB e o clientelismo esclarecido

    Estes meados de 2004 vêm revelando características inéditas de extrema instabilidade, na definição dos cálculos políticos a longo prazo, a partir do próximo pleito municipal. Aí estão, de saída, estas variações do Ibope de, em menos de mês, um pulo de 10% de vantagem de Serra sobre Maluf e Marta, esta última já a perder do contendor clássico na Paulicéia. São subidas e descidas a ganhar já um efeito perverso no saber-se até onde a quebra da prefeita impacta o presidente. Ou de se a demora na arrancada do espetáculo, prometido pelo Governo, começa a derrubar as presunções tranqüilas de um ano atrás, quanto a um octonato petista. É possível que a dúvida crescente quanto ao pacto dos futuros alcaides com o homem do Planalto atrase-se ainda face ao espanto desses altos e baixos em São Paulo, vistos por tantos como o termômetro definitivo do sucesso de Lula.

  • Réquiem para um Senado rebelde

    Na reconfirmação dos 260 reais para o salário mínimo, a vitória do Governo acaba com as incertezas de uma possível rebelião do Congresso neste meados de 2004. Cercava-a a primeira queda séria da popularidade, baixada aos 56% depois da plataforma majestosa, dos quase 70% de aprovação continuada. Estes primeiros temores de queda, de qualquer forma, teriam como termômetro de fundo a perspectiva de reeleição de Marta Suplicy na Prefeitura, por excelência, dona do futuro do Governo diferente.

  • A espera e o fio de bigode

    A última reunião ministerial - que trocou a solenidade do Planalto pelo aconchego do Torto - quis trazer ao país o recado das mangas arregaçadas e do todo vapor, assentada a casa e antes da prova dos nove que representam as próximas eleições municipais. O presidente veio à melhor das rotinas, com um barco a velocidade segura, controlando as rotas financeiras, cobrando o desemperro dos gastos, saindo do jejum da transição e a mostrar que o PT não era o governo da forra da utopia e do facilitário social. Os créditos ganhos lá fora e o reconhecimento do presidente como a maior liderança hoje do velho mundo periférico atritam-se agora com o debate salvacionista, ou da tosquia da taxa de juros, desatenta aos impasses da globalização, e do continuarmos ainda um país de conjuntura mais do que de assunção decisiva de um projeto de mudança.

  • No funeral de Reagan, o epitáfio de Bush

    Chirac e Schroeder deixaram ostensivamente Washington antes do funeral-monumento de Reagan. De Gaulle, que compareceu às exéquias de Kennedy, de fausto análogo na capital do império, teria feito, sem dúvida, o mesmo. Impossível imaginar-se espetáculo mais apurado em todos os drinques de celebração da hegemonia, que a dessa herança ostensiva assumida por Bush, do imaginário que abriu o caminho às Star Wars , ao mercado absoluto e ao desenfreio da primeira e segunda guerras do Iraque - tal pai, tal filho, no Salão Oval.

  • A população de São Paulo

    Num estudo publicado no Digesto Econômico faz alguns anos - cito-o de memória, portanto não menciono o nome para não errar -o autor previa para o ano 2000, que já ficou para trás, a população de 200 milhões para o Brasil.

  • Aquele homem

    Saltei do carro e comecei a caminhar pela calçada. Um desconhecido vinha em sentido contrário, quando deu comigo fez cara de espanto, quase de estupor. Fosse outra a situação, eu lhe ofereceria um copo d'água, para lhe amenizar o susto. Dizem que um gole faz bem.Poderia também tomar satisfações, afinal, ainda que seja um fantasma, considero-me um fantasma inofensivo. Percebendo que eu também ficara espantado com a reação dele, explicou-se: "Você existe mesmo!"

  • Administrar ainda a esperança

    O aumento, afinal, do nosso PIB nesses dois trimestres suados, tem o impacto do apontar, afinal, para a saída do nosso imobilismo nesta última década. E o espetáculo adiado de Lula, é exatamente este do número difícil e sofrido, mas que pode finalmente retirar-nos do túnel da inércia, e dar-nos o arrimo entre contra-vapores continuados de expansão. O passo à frente patina no pantanal da globalização e do vai e vem, afinal, de uma economia onde não existe ainda projeto, mas só conjuntura. O impacto de 53% da dívida externa sobre o PNB nos obriga a este ganho do dia-a-dia, miragem amanhã, não fosse a estiva de cada hora do tandem Palocci-Meirelles.

  • Elite apressada, povo paciente

    Os amuos que ora respondem pela queda da aceitação do Governo continuam a responder pelo tempo social das elites, que não largam a ribalta do evento brasileiro. O espetáculo a que convida Lula não tem como destinatários as platéias e os telões nobres da população, afeitos de sempre às luzes mediáticas. Quem elegeu o petista não está, ainda, no procênio da nossa vida política, para dizer da sua acolhida e apoio ou, sobretudo, tolerância, com o que ainda não aconteceu, ou inscrito numa agenda que pode escapar até à visibilidade dos primeiros resultados. A nova platéia trazida à recepção da conduta política nacional não temporizará indefinidamente com seu acontecimento gradual, exigindo novas mediações simbólicas - só à mercê de Lula - para contrapor-se à explosão súbita de um desagrado. E estas, possivelmente, numa rede de propagações que possam, de uma só vez, reverter o apoio de base por um repudio súbito e catastrófico pela percepção, de vez e sumária, de uma não virada de página. Na verdade o Governo se organizou em maiorias inéditas no Congresso, e as administra pagando o imediatamente pactuado. Mas estas transações não vão ao tecido da vida social, cuja única intermediação é a do PT, no seu controle, pelos sindicatos, pelas Ongs ou pela miríade de associações em que se levantou o país da marginalidade. Continua a mobilização básica e histórica que chegou ao efetivo exercício do direito de votar. É significativo que Lula, ao primeiro aniversário do Governo tenha sensivelmente mudado a retórica do espetáculo e do milagre e figurado ao país a cenarística dura para caucionar a promessa saída do palanque. No quadro deste passivo inicial para a demarragem do Governo, e que Lula exibiu ao país, somam-se respectivamente o emperro agravado da máquina burocrática, onde se agregam os freios clássicos e a inexperiência muitas vezes da nova equipe; a demora da operacionalização regulamentar dos setores públicos; os obstáculos emergentes, na concatenação entre as entidades governamentais e a sociedade civil, a que a cultura petista se volta maciçamente no incentivo às ongs e entidades comunitárias. Podem-se assim repetir os casos de travame, por exemplo, do programa de Microcrédito, pela falta ainda de uma regulamentação pelo Banco Central, ensejando a que ao fim de 2003 essa iniciativa, ligada à determinação do presidente, e de maior impacto na dita política de descentralização só tenha permitido o desembolso de seis milhões, dos quatrocentos milhões disponíveis, para esses mutuários de baixa renda. Da mesma forma, as reduções ainda sobrevindas às dotações iniciais, como o do Ministério das Cidades, sofreram a quebra sobre a quebra dos recursos mínimos assegurados, reduzindo de 509 milhões para 414 milhões, e, na prática, logrando a aplicação de 339 milhões no Programa Nacional de Urbanização das Favelas. Por outro lado, o programa de incentivo aos agricultores do Nordeste para produção durante a seca, previa a meta oficial de 500 mil famílias mas, na prática, viu-se reduzido a 300 mil Identicamente começa a indenização pela perda da safra, abrangendo 35.118 plantadores. A urgência do projeto básico amargou, ainda, a falta de estruturas locais para dar a necessária irradiação ao crédito, somando-se à rigidez do aparelho bancário a fim de atender a dupla operação, indenizatória e de compra da safra. Ganhou ritmo ascendente a construção de cisternas na área rural. Mas ainda a depender da facilitação dos repasses pelo Ministério da Segurança Alimentar que, afinal, só chegou a 38% do prometido com a instalação de 8.390 unidades sobre as 22.040 inicialmente previstas. As vezes já se azeita por inteiro o novo aparelho de atendimento à frente de impaciências pela melhoria social que urge, de maneira tão nítida, o Ministério das Cidades ao lado do de Desenvolvimento Social. Atentar-se-á, por exemplo, a que o problema da regularização fundiária nas favelas permitiu na dita operação “papel passado” terminam o ano de 2003 com gastos executados de 1,291 milhão, importando 92,2% dos montantes estipulados. Já com um coeficiente de 70% do que anunciou, o Ministério da Agricultura entregou ao Programa de Agricultura Familiar 1,5 bilhão para 500 mil contratos, 121 milhões para investimento, além de 1,379 bilhão para 488 mil contratos de custeio. Toda a análise do começo do mandato de Lula pode se fartar da boa justificação, para a demora de resultados, enquanto o realismo político foi a resposta mais honesta, senão adequada, à avalanche da vitória, e à dimensão do Brasil que votou pelo PT, em geral, independentemente dos profundidades diversas da opção por um país diferente. Mas qual é hoje a margem de transição profunda com a espera? Existe um vulcão de inconformismo, ainda silencioso? Reforça-se a sideração pessoal pelo presidente? E até quando? De toda a forma esta interlocução profunda é só sua. Seus números de popularidade resistem a qualquer apropriação pelo Brasil de salão. E o mínimo que sai do papel agora no programa de base reforça em exponencial estas crenças. O pano de fundo esperou demais para saber que lhe chega, nunca tardo, porque de vez.

  • Ganhar e governar

    O vigor da popularidade de Lula atravessa momento em que um começo de resultados se torna essencial para a renovação da esperança. Na verdade, trata-se da mostra, mais que de um plantel de êxitos, do toque de confiança personalíssima que lhe assegura essa vitória única da fé no presidente, pelo mínimo que lhe exige o povo, a continuar o enlevo.