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Artigos

 
  • O menu do anfitrião

    Tive um companheiro de trabalho nesta nobilíssima casa de quem guardo saudade. Faleceu há alguns anos mas dele sempre me lembro. Poeta, latinista e helenista, fez-me o favor de reverdecer meu latim e meu grego. Um dia, ao chegar ao trabalho, encontrei sobre a mesa uma quadrinha de versos e um soneto. Reproduzo aqui a quadra, pois o soneto tem uma chave de ouro que não se profere em salão. Esta é quadra: A democracia em Mombassa, merece aplauso e registro. Quando o governo fracassa o povo come os ministros.

  • O agachamento do Japão

    Alguns séculos antes dos best-sellers de hoje, um livro português inaugurou o atual sistema de apreciação de um escrito pelo tamanho de sua venda. Parte-se do princípio de que, sendo o mais vendido, seja determinado livro também o melhor. Então já havia Gutemberg aperfeiçoado a técnica de impressão que viria colocar o objeto chamado livro nas mãos de qualquer pessoa. As quase oitocentas páginas de "Peregrinação", de Fernão Mendes Pinto, saíam com atraso, pois seu autor morrera 31 anos antes do aparecimento do livro em 1614.

  • O roto e o esfarrapado

    Poderíamos perdoar tudo a FHC, esquecer, mas não perdoar seu governo mais do que suspeito, recheado de escândalos, a criminosa impunidade que bancou e incentivou, chegando a nomear para o STF um advogado que abafou, não com argumentos jurídicos, mas com outro tipo de argumento, todas as CPIs que a nação então exigia.

  • O mundo digital

    Presumo que as mudanças a serem operadas vão exigir elevada participação de capital e as empresas deverão se adaptar ao novo modelo. Não há dúvida de que nós defendemos a livre iniciativa na televisão digital, mas já estão surgindo vozes na Europa que defendem a estatização. O argumento usado pelos estatolátras, comprovadamente ineficientes, é que só o Estado tem capacidade financeira para açambarcar a televisão digital.

  • O guarda-chuva e a botânica

    A educação, que geralmente é confundida com ensino, sobretudo aqui no Brasil, nunca foi lá essas coisas entre nós, sendo que o ensino consegue ser pior ainda. Reúne-se 30, 40 alunos numa sala combalida, quase sórdida; durante três, três horas e meia, um professor mal remunerado ensina a correta colocação dos pronomes oblíquos, o nome dos rios da margem esquerda do Amazonas e a data da proclamação da República. Manda os alunos fazerem o dever de casa. Grande parte deles nem tem casa para fazer o dever.

  • Comércio fechado a tiros

    A rua 25 de Março não tem similar em nenhuma capital do mundo, nem mesmo a Garment Street de Nova York pode lhe ser comparada. Nem de longe. Na 25 de Março operosas coletividades de sírios, libaneses, egípcios, turcos e outras etnias realizaram a façanha extraordinária de fazer funcionar o maior souck ou shopping center, ou grande armazém, onde milhões de pessoas periodicamente se abastecem de tecidos de várias qualidades e vários preços. Pois esse universo comercial grandioso foi abalado recentemente por dois episódios violentos, um deles pela explosão de bomba de manufatura doméstica e o outro pelos tiros que levaram à morte um camelô, um transeunte e feriram um policial.

  • PT: o processo que não ocorrerá

    A direção do PT declarou que o partido irá processar o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso por considerar injuriosas, caluniosas e difamatórias suas recentes afirmações a respeito da ''ética do roubo'' daquele partido. Esse propósito ainda não foi realizado, na ocasião em que escrevo este artigo e, provavelmente, nunca será efetivado. Com efeito, nada será mais insensato, por parte do PT, do que mover a ameaçada ação e, por outro lado, nada seria mais salutar, para o país, de que essa ação fosse efetivamente ajuizada. Disto deverão se dar conta os advogados do PT, o que me leva à suposição precedentemente enunciada.

  • Refinadas bijuterias

    Dois livros -"Olavo Bilac" e "Um Século de Poesia" (antologia poética de Augusto Frederico Schmidt) - nos dão conta de que, muitas vezes, é preferível revisitar as jóias do passado do que garimpar as medíocres bijuterias que nos oferece a modernidade tardia.

  • O mito do sísifo

    Impossível não ser marcada por um livro, lido aos 20 anos, que começa assim: "O único problema filosófico realmente sério é o do suicídio. Decidir se a vida vale ou não vale a pena de ser vivida".

  • A missão do mestre

    Procuramos identificar o aluno ideal. Sempre fica faltando alguma característica. Com o professor é a mesma coisa. Podemos, na modernidade, chegar ao mestre quase ideal, sobretudo a partir da realidade de que a escola mudou. E mudará sempre.

  • Lavando as mãos

    Não se deve brincar com coisas sérias - é um conselho que vem rolando desde o início dos séculos. Motivo mais do que suficiente para não levá-lo a sério, por mais séria que a coisa seja. Essa mania de abandonar crianças, muitas vezes indo além do simples abandono, mas ao crime de morte, está provocando indignação e, ao mesmo tempo, uma louvável solidariedade, com vários casais habilitando-se a ficar com os enjeitados.

  • As esponjas de vespasiano

    De tempos em tempos, gosto de citar Vespasiano, o imperador romano que se tornou notável, entre outras coisas típicas dos poderosos do mundo, porque taxou as latrinas de Roma. Seu filho achou que ele exagerava, foi reclamar e ouviu a famosa resposta: dinheiro não fede -"pecúnia no olet".

  • Maomé, a liberdade e a blasfêmia

    De repente, e não mais que de repente - e da Dinamarca - sai-se para a mais inesperada das pioras no conflito Ocidente-Islão. Não bastasse a derrubada das Torres, a invasão do Iraque, chega agora o Hamas, por irrepreensível maioria democrática, ao comando da Autoridade Palestina e à jura pela derrubada de Israel. Não mais que de repente, irrompe a dita blasfêmia contra o Profeta, após a nitidez com que Bush, no discurso sobre o Estado da União manteve os pressupostos da "civilização do medo", diante do ano novo prometido por Bin Laden. O saudita oferece, por uma vez, um Tratado de Tordesilhas à Casa Branca. Troca a saída da Cabul e do Iraque por uma tranqüilidade a perder de vista para um Ocidente reentrado nas suas fronteiras.