Não é por aí
O Globo (Rio de Janeiro), em 31/07/2005
Tenho tido a impressão de que, no meio de toda a confusão em andamento no país, há uma tendência a cultivar-se uma certa compaixão pela situação do presidente da República. Ele é visto e descrito como isolado, abandonado e traído e cheguei a ler diversas vezes que nem mesmo quer falar com correligionários e colaboradores históricos, tais como o dr. Genoino e o dr. Dirceu. Não sei se é verdade e o sentimento de compaixão pelo semelhante é dos mais nobres que a natureza humana pode abrigar. Mas, no caso, não compartilho desse sentimento, até mesmo porque o presidente até agora não deu ousadia aos súditos de explicar sua posição no imbróglio, nem parece estar disposto a dar. Quem quiser que especule sobre se ele sabia de todo ou de parte do esquema de corrupção que continua a ser exposto. O jeito com que ele aparece em público é o de quem não está nem aí e tem pouco ou nada a ver com os escândalos que envolvem seu partido e acontecem durante sua gestão.