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Artigos

  • Não é nada disso que vocês estão pensando

    Outro dia, faz pouco, eu estava lendo um artigo do Jabor em que ele disse uma coisa para a qual eu já vinha procurando um jeito de dizer fazia muito, e não achava. Ele disse mais ou menos que vivia tendo de explicar a certos caras que não veio ao mundo com a missão de desancar Lula e que podia até elogiar, como elogiou (grandes coisas, eu também elogiei muito, no longínquo tempo em que Lula falava e eu acreditava). Pronto, pego o gancho e furto a comunicação. Faço minhas as palavras do nobre colega: eu tampouco nasci com a missão de falar mal de Lula e do governo. Falo porque às vezes é a única coisa sobre a qual falar (e só posso falar do meu ponto de vista) e porque às vezes acho que é minha obrigação de cidadão que, pelos acasos da vida, assina uma coluna em jornal grande. Posso até estar iludido pelas manifestações que recebo de leitores, mas muita gente me diz que escrevi exatamente o que ela gostaria de dizer e não achava como.

  • Migalha de poder

    No Rio, costumo dar uma caminhada matinal pelos jardins do Palácio do Catete, um lugar belíssimo e histórico - no Palácio moraram vários presidentes, inclusive Getúlio Vargas. Os jardins são cercados por uma alta grade. Só se pode entrar por um dos dois portões, e foi o que eu fiz, há alguns dias. O guarda que estava lá não me deixou passar: só depois das 8h, ele disse. Olhei o relógio: passavam cinco minutos das 8h, e foi o que eu disse a ele. Nesse momento, apareceu um homem que também queria entrar e que disse a mesma coisa: estava na hora. Mas o guarda não cederia tão facilmente. Disse que precisaria avisar seu superior. Ao que o homem que estava a meu lado reclamou: mas, afinal, o que regulava a entrada era o horário ou o tal superior? Não houve jeito. Só entramos depois que o guardião do paraíso falou com o superior (Deus?).

  • Política, virtude e arte do bem comum

    "O estilo é o homem", sentenciou Louis Buffon, em 1753, no chamado século das luzes. Mas, ainda que seja difícil fixar o território do intelectual e do político, quem leu Formas de vida, de Spranger, ali encontrou essa distinção fundamental, conforme observa Josué Montelo: enquanto ao intelectual compete a interpretação da sociedade, cabe ao político sua direção.

  • A vitória da inflação

    Tenho escrito sobre a inflação e o que ela causa sobre às aplicações financeiras. Volto hoje, como de costume, a falar sobre esse monstro chamado inflação e o seu triunfo, abalando a remuneração de todas as aplicações financeiras no mês de junho. Não precisaria eu apoiar-me em um único mês do calendário para julgar o que faz essa tentação, a inflação, que numa penada põe abaixo todas as aplicações financeiras.

  • Árvores e Deuses

    A luta pela preservação de nossas matas e de nossas flores vem tendo em Dorée Camargo Corrêa uma defensora infatigável e inteligente. Fundou ela há alguns anos a ABRADE (Associação Brasileira de Defesa Ecológica), responsável por uma verdadeira pregação em prol do chão em que vivemos, com suas árvores, seus lagos e seus rios. Como parte dessa campanha, lança ela todos os anos um volume com textos de brasileiros que apóiam seu trabalho.

  • Machado e a bossa nova

    RIO DE JANEIRO - A tradição de comemorar aniversários redondos tem lá suas motivações e até mesmo sua utilidade. Em termos midiáticos, contudo, descamba para a redundância que torna insuportável a repetição dos mesmos comentários e a busca alucinada por novas interpretações. Somando tudo, o excesso termina chateando os consumidores.

  • Machado e o preconceito

    Deve-se destacar em Machado de Assis não apenas os aspectos mais conhecidos das suas obras, especialmente os nove romances, em que abordou conflitos psicológicos antes mesmo da existência formal dos estudos da alma, mas preocupações com questões como o uso exagerado de línguas estrangeiras, o que permanece válido até hoje. No final do século 19, era comum na sociedade fluminense o emprego de palavras francesas e italianas, o que incomodava o Bruxo, conforme demonstrou em diversas crônicas.

  • Saudade mata?

    Saudade mata? Mata. Mata a alegria da vida. Mas não mata completamente pois não existe completa alegria. É tudo relativo. O que sobra da morte pela saudade é o fio de vida de quem se orgulha de quem se sente a falta.

  • A vitória da inflação

    Tenho escrito sobre a inflação e o que ela causa sobre às aplicações financeiras. Volto hoje, como de costume, a falar sobre esse monstro chamado inflação e o seu triunfo, abalando a remuneração de todas as aplicações financeiras no mês de junho. Não precisaria eu apoiar-me em um único mês do calendário para julgar o que faz essa tentação, a inflação, que numa penada põe abaixo todas as aplicações financeiras.

  • Democracia e direitos humanos

    As recentes manifestações dos ministros Tarso Genro e Paulo Vannuchi quanto à ação do aparelho policial no quadro de crescente violência brasileira reforçam um dos aspectos dominantes do avanço da democracia profunda no Brasil. Ou seja, o respeito aos direitos humanos, vindo de par com a maior interdependência e autonomia dos poderes da União. O ponto crucial deriva da convocação das Forças Armadas para garantir a ordem social interna numa inevitável zona gris, frente ao papel das polícias. No seu amplo descortino, o ministro da Defesa, Nelson Jobim, por outro lado, reconhece o quanto o deslinde final dependerá de uma reforma da Carta.

  • A grande caverna

    RIO DE JANEIRO - Que foi um espetáculo, foi. A prisão de um banqueiro, de um megainvestidor, de um ex-prefeito da maior cidade do Brasil, além de quase duas dezenas de peixes menores, não constitui uma surpresa em si, mas a confirmação dos cupins que devoram a estrutura de nossa vida pública: a corrupção.

  • Ruth Cardoso

    Tudo isso que Ruth realçou tem a ver com o enraizamento das práticas que dão vida e substância à democracia

  • A fome no mundo

    O Banco Mundial anunciou que mais de 100 milhões de pessoas passam fome em todo o mundo. Ao todo, a fome atinge 854 milhões de pessoas no mundo. Essa estatística foi dada a público pelos tecnocratas de Washington, alarmando ainda mais o mundo, já suficientemente apavorado com sucessivas crises, que estão abalando a civilização e criando problemas para os quais faltam técnicos e soluções viáveis para encará-los em tempo hábil.

  • A Quarta ou a Quinta

    A COMEÇAR pelos fenícios, as potências mundiais sempre foram potências navais. Com o fim da Idade Média, Portugal, Espanha, Holanda, França e Inglaterra dominaram os mares. Portugal foi ultrapassado no final do século 16 pela Holanda, que chegou com seus navios leves e velozes. Os ingleses, com a novidade das fragatas com duas fileiras de canhões, levaram de roldão portugueses, espanhóis e holandeses, e nasceu o formidável Império Britânico. Hoje, 90% do comércio mundial circula pelos mares. Os Estados Unidos distribuíram suas frotas em todos os pontos estratégicos dos oceanos. A Segunda e a Terceira Frotas são responsáveis pela defesa dos interesses americanos nos oceanos Atlântico e Pacífico, respectivamente. A Quinta Frota, que cobre o golfo Pérsico, o mar Vermelho e o mar Arábico, acompanha as tensões do Oriente Médio e já chegou a contar com nada menos do que cinco porta-aviões americanos, em 2003. A Sexta Frota é baseada no Mediterrâneo, e a Sétima, no Japão. A Primeira Frota foi desativada em 1973. E agora os EUA querem reativar a Quarta Frota, que ficará responsável pelo Atlântico Sul. A China, que sempre foi uma potência terrestre, tornou-se hoje uma potência naval. Uma de suas tarefas é proteger suas rotas de comércio, especialmente as do petróleo e de seu fluxo gigantesco de exportação. Patrulha permanentemente os 800 quilômetros do estreito de Malaca, hoje infestado de piratas modernos. O aspecto econômico-comercial certamente também pesou na decisão americana de reativar a Quarta Frota no Atlântico Sul, com a perspectiva de que a região se torne um dos grandes centros produtores de petróleo, devido às recentes descobertas de jazidas. Em 1986, o meu governo propôs à ONU a criação de uma Zona de Paz e Cooperação do Atlântico Sul. Esta proposta, aprovada pela Assembléia Geral das Nações Unidas em 27 de outubro daquele ano, por meio da Resolução n.º 41/11, torna o Atlântico Sul uma zona de paz, livre de armas nucleares. Esta resolução do Brasil teve 124 votos a favor e um único voto contra, o dos Estados Unidos. Nossa preocupação continua válida. Sou um pacifista e hoje, como ontem, sei que ninguém impedirá navios americanos de navegar em todos os mares internacionais, mas não posso concordar que transitem por aqui com armas nucleares. E todos eles as têm. Essa deve, objetivamente, ser a posição do Brasil: ver cumprida a resolução aprovada pela ONU em 1986. Necessitamos desta clara garantia. No mais, eles não precisam de Quarta. Já têm a Quinta, a Sexta e até o Sábado de Aleluia.