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Tolerância zero

 

Detido numa blitz não passou no teste do bafômetro. Retiveram o carro. Mas pelo menos continua casado


Príncipe converte carro para rodar à base de vinho. O príncipe Charles reduziu suas emissões de carbono em 18% com relação ao ano passado e atribui parte da redução à conversão de seus carros para rodarem com óleo de cozinha e biocombustível à base de vinho. De acordo com o relatório dos gastos do príncipe, divulgado na segunda-feira, ele converteu seus Jaguar, Audi e Range Rover para usarem óleo de cozinha como combustível, enquanto seu modelo antigo do Aston Martin funciona à base de etanol de vinho. "Charles viaja apenas 200 ou 300 milhas por ano com o Aston Martin, mas ele queria que o carro não prejudicasse o meio ambiente. Por acaso, nosso fornecedor de bioetanol faz o combustível com o excedente do vinho inglês", afirmou o secretário particular do príncipe, Michael Peat, ao jornal britânico "Daily Mail". Folha Online


SEGUNDO SUAS PRÓPRIAS PALAVRAS , ele tinha duas paixões na vida, o vinho e a esposa, Janine. Essa ordem não era ocasional, ao menos do ponto de vista de Janine. Porque ele não era só apaixonado por vinho, era fanático por vinho.


Apesar de, como empresário, ter bons rendimentos, conseguia gastar tudo o que ganhava com sua paixão enológica. Tinha uma biblioteca inteira de livros sobre o tema e tinha uma enorme adega cheia de garrafas, de barris, de barriletes dos vinhos mais diversos, importados de toda a parte do mundo. Nessa biblioteca, e sobretudo na adega, passava a maior parte do tempo estudando as características dos vinhos e degustando-os, freqüentemente acompanhado de amigos, tão fanáticos por vinho como ele. Quanto à esposa...


Bem, tinham trinta anos de casamento, e ele continuava a amá-la como no primeiro dia em que a vira. Isso, pelo menos, era o que garantia. Mas não era o que Janine sentia.


Para ela, o marido era um ausente; e como a filha, casada, morava em outra cidade, a sensação de solidão era inevitável. Problema que atribuía à mania dele por vinho. Sua indignação foi num crescendo até que por fim ela lhe deu um ultimato: ou o vinho ou ela. Típico caso de tolerância zero.


Para ele foi um duro golpe. Mas não vacilou: Janine era a mulher de sua vida, não a trocaria por nada. Resolveu, pois, desfazer-se da biblioteca e da adega. Os livros, ele os doou a um conhecido especialista. Mas o que fazer com o vinho?


Foi aí que leu sobre o príncipe Charles e seu Aston Martin movido a vinho. E aquilo lhe deu uma idéia. Faria a mesma coisa com seu carro. Isto não apenas mataria seus amigos de inveja, como também representaria um final glorioso para a adega.


Ah, sim, e seria uma forma de prestigiar o etanol tão defendido pelo presidente. Arranjou, pois, um mecânico competente que, sem muitas dificuldades, conseguiu adaptar o motor de seu carro para usar vinho. Quando o veículo ficou pronto, decidiu fazer um périplo pela casa dos amigos, para que eles ao menos sentissem o cheiro daqueles notáveis vinhos no veículo. Encheu o tanque com o conteúdo de várias garrafas -mas então a tentação o venceu. De cada garrafa tomava um gole, o derradeiro gole.


Detido numa blitz não passou no teste do bafômetro. Foi multado, retiveram o carro. Mas pelo menos continua casado. O que, na falta de vinho, sempre é um consolo.


Folha de S. Paulo (SP) 7/7/2008