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Artigos

  • Por fora das notícias

    O GLOBO (Rio de Janeiro - RJ) em, em 11/08/2002

    Participei, na qualidade de fedelho recém-saído da adolescência, patrulheiro, intolerante e panfletário destemperado, do tempo em que a palavra “alienado” era das mais usadas para quem quer que falasse em outra coisa que não o imperialismo norte-americano, a existência ou não de uma burguesia nacional e a caracterização da realidade política rural como feudalismo, além de uns poucos assuntos correlacionados. Era difícil endereçar insulto intelectual mais desdenhoso ou mesmo contundente, a ponto de haver gente que saía no tapa depois de ser chamada de alienada. Como a maior parte da turma, no fundo, só pensava de verdade em mulher, alguém acabava não agüentando e falando em mulher mesmo, mas tinha que ser cuidadoso.

  • Alfazema, velhice e mocidade

    Estado de São Paulo (São Paulo - SP) em, em 10/08/2002

    Todo mundo sabe: já não se namora mais como antigamente. Se a palavra é a mesma, o sentido é outro. Dantes era todo aquele ritual cortês - primeiro os olhares que se encontravam de longe, começando intermitente e furtivo, ia depois ficando mais fixo (na minha longínqua infância esses olhares se chamavam "tirar linha", - lembrai-vos anciãs contemporâneas?) Do olhar se passava ao sorriso, em manobras que poderiam levar horas e até dias consecutivos. Depois era tentar um encontro: passar perto, olhar sem falar, pois a moça quase nunca andava só. Após um infinito de tempo, chegava-se então à abordagem. Por exemplo, o rapaz subia ao estribo do bonde, pedia licença para sentar no banco em que ela vinha. Licença dada, ele enxugava a testa e fazia a declaração. Aceito o dito de amor, começa propriamente o namoro.

  • Política em declínio

    Diário do Comércio (São Paulo - SP) em, em 09/08/2002

    Quem estuda a História do Brasil - ou quem a estudava, em outros tempos, quando era obrigatório o estudo - vê-se diante de um fato notório, o declínio da República, a mediocridade apavorante das instituições e dos homens e mulheres que devem gerir a herança dos antepassados, que no dia 15 de novembro de 1889 prometeram mundos e fundos para o povo brasileiro, ou para os magotes de povo que, sem nada compreenderem, apoiavam gritos esparsos de viva a República.

  • Crise no ar

    Jornal do Commercio (Rio de Janeiro - RJ) em, em 08/08/2002

    Usuário do transporte aéreo, já tive medo dos aviões, mas em tempos idos. Viajando todas as semanas num deles, o hábito e o cansaço venceram o medo.

  • Heidegger e a linguagem

    Tribuna da Imprensa (Rio de Janeiro - RJ) em, em 07/08/2002

    A presença de Martin Heidegger na filosofia do século passado obrigou o homem de nossa época a alterar posições e repensar diretrizes. Se o existencialismo de Kierkegaard possuía um caráter de angustia intensamente exprimida (e talvez por isso mesmo fosse mais intensamente existencialista), faltava-lhe um método para que suas idéias se enfeixassem num sistema ao agrado das correntes filosóficas normais.

  • O big four

    Jornal do Commercio (Rio de Janeiro - RJ) em, em 05/08/2002

    Não estranhem o título em inglês. Na Barra da Tijuca tudo está escrito em inglês e na TV já aparecem programas como Big Brother, Classic, People & arts etc.

  • Por falar em retórica

    O GLOBO (Rio de Janeiro - RJ) em, em 05/08/2002

    O conceito de retórica, citado em artigo de Luiz Paulo Horta nesta página, tem sido desfigurado, ainda mesmo entre pessoas de escolaridade confiável. Neste vocábulo, há quem veja algo de pejorativo ou de inferiorizante.

  • O fim da impunidade

    O GLOBO (Rio de Janeiro - RJ) em, em 04/08/2002

    Aposto que vocês ainda não sabem do triste caso de Bingo. Procurei comentá-lo com vários amigos e ninguém tinha ouvido falar de nada sobre o assunto, para mim palpitante e talvez um marco em nossa realidade. Como eu já disse aqui, às vezes parece que sou o único a ler certas coisas, a ponto de recear ser tido como mentiroso. E, de fato, de vez em quando eu conto uma mentirinha, mas é caso raro, perfeitamente compreensível para um ficcionista e nunca suficientemente sério para justificar essa fama. Mas o caso não é inventado, é um drama da vida real e estou com o recorte na mão, para mostrar a quem duvidar da história comovente de Bingo, que, apesar de seus aspectos talvez melancólicos e certamente controvertidos, acaba por abrir caminho para vários progressos, em que o país, mais uma vez, poderá servir de exemplo para o mundo e alento para os brasileiros já descrentes das instituições, como acho que está a maior parte de nós.

  • Variações sobre a poesia

    Estado de São Paulo (São Paulo - SP) em, em 03/08/2002

    Pelo fato de ter quatro livros de versos, perguntaram-me se me considero poeta, a pergunta mais embaraçante que até agora me foi feita.

  • Uma espécie em extinção

    O Estado de São Paulo (São Paulo - SP) em, em 03/08/2002

    A moça, estudante de letras, me perguntou o que eu achava da avassaladora invasão de neologismos no nosso idioma. Bem, acho que da nova linguagem que acompanhou e acompanha a era dos computadores, é muito difícil escapar. Ninguém vai ficar inventando traduções para coisas que não fomos nós que inventamos e a maioridade nós mal sabemos do que se trata. Deletar, por exemplo, não tem um sentido muito mais amplo do que simplesmente apagar? Mas não quero me arvorar nessa discussão de filólogos, mormente que não me entendo com computador. Aliás, fora esses, que vêm no bojo das novas tecnologias, neologismos, principalmente os de gíria, têm quase sempre nascimento humilde. As pessoas mais cultas, ou escutam as palavras difíceis na sua própria casa ou as consultam nos dicionários. O ignorante comum tem seu próprio dicionário na cabeça, restrito, é verdade, muito faltoso na conjugação dos verbos, mas dono de um toque pessoal iniludível.

  • Antinotícia

    Jornal do Commercio (Rio de Janeiro - RJ) em, em 25/07/2002

    Todos os dias, mal acordo, abro a porta da copa e recebo os jornais que acabaram de chegar. Estou sonolento, ruminando os sonhos bons ou maus que tive, vontade de nada fazer, de mandar tudo àquela necessária parte que todos conhecemos.

  • Lukacs e o romance

    Tribuna da Imprensa (Rio de Janeiro - RJ) em, em 24/07/2002

    O Prêmio Machado de Assis, da Academia Brasileira de Letras, dado este ano ao nosso melhor crítico, Wilson Martins, chama a atenção para um lado, que é dos mais trabalhosos, da literatura, responsável pelo aferimento do que fazemos, ou pensamos fazer, quando mergulhamos na palavra. A bibliografia do premiado revela uma dialética de pensamento que nos mostra, e à nossa literatura, como donos de um caminho singular, próprio, seja em que gênero for. Em homenagem ao maior prêmio do País concedido a Wilson Martins, desejo tratar hoje de um mestre da crítica, George Lukacs, que, no século passado, abriu caminhos e ditou rumos.

  • Centenários

    Jornal do Commercio (Rio de Janeiro - RJ) em, em 18/07/2002

    Não sei nem quero saber quem inventou a mania de comemorar os centenários. Mas já que eles existem, devemos comemorá-los com boa vontade, eles podem nos ensinar coisas inúteis, como por exemplo, numa certa tratoria de Nápoles, foi feita a primeira pizza marguerita.

  • Genolino e a crônica

    Tribuna da imprensa (Rio de Janeiro - RJ) em, em 17/07/2002

    Vivemos sob o império do Tempo, que talvez devesse estar sempre escrito com T maiúsculo. Não só escrito, mas também dito, pondo-se uma ênfase na pronúncia da palavra, de tal modo que se entenda logo que falamos de coisa muito séria. A palavra grega "chronos" ficou na memória dos povos e serviu de base a discursos e conceitos.

  • Educação e violência

    Jornal do Commercio (Rio de Janeiro - RJ) em, em 15/07/2002

    Como se andássemos no escuro, tateando, descobriu-se agora que o Brasil tem 30 mil menores infratores. São adolescentes que cumprem medidas socioeducativas em nossos diversos Estados, com as seguintes características, segundo dados oficiais do Ministério da Justiça: 7 664 estão internados em regime fechado (como no Instituto Padre Severino, na Ilha do Governador); 2 555 em regime provisório; 1 393 em semiliberdade e 19 099 em liberdade assistida, que ninguém sabe direito do que se trata, pois é fácil observar que eles voltam às ruas para os mesmos delitos, já que não há cuidados especiais do Estado com as causas que motivaram esse comportamento.