
Antinotícia
Todos os dias, mal acordo, abro a porta da copa e recebo os jornais que acabaram de chegar. Estou sonolento, ruminando os sonhos bons ou maus que tive, vontade de nada fazer, de mandar tudo àquela necessária parte que todos conhecemos.
Todos os dias, mal acordo, abro a porta da copa e recebo os jornais que acabaram de chegar. Estou sonolento, ruminando os sonhos bons ou maus que tive, vontade de nada fazer, de mandar tudo àquela necessária parte que todos conhecemos.
O Prêmio Machado de Assis, da Academia Brasileira de Letras, dado este ano ao nosso melhor crítico, Wilson Martins, chama a atenção para um lado, que é dos mais trabalhosos, da literatura, responsável pelo aferimento do que fazemos, ou pensamos fazer, quando mergulhamos na palavra. A bibliografia do premiado revela uma dialética de pensamento que nos mostra, e à nossa literatura, como donos de um caminho singular, próprio, seja em que gênero for. Em homenagem ao maior prêmio do País concedido a Wilson Martins, desejo tratar hoje de um mestre da crítica, George Lukacs, que, no século passado, abriu caminhos e ditou rumos.
Não sei nem quero saber quem inventou a mania de comemorar os centenários. Mas já que eles existem, devemos comemorá-los com boa vontade, eles podem nos ensinar coisas inúteis, como por exemplo, numa certa tratoria de Nápoles, foi feita a primeira pizza marguerita.
Vivemos sob o império do Tempo, que talvez devesse estar sempre escrito com T maiúsculo. Não só escrito, mas também dito, pondo-se uma ênfase na pronúncia da palavra, de tal modo que se entenda logo que falamos de coisa muito séria. A palavra grega "chronos" ficou na memória dos povos e serviu de base a discursos e conceitos.
Como se andássemos no escuro, tateando, descobriu-se agora que o Brasil tem 30 mil menores infratores. São adolescentes que cumprem medidas socioeducativas em nossos diversos Estados, com as seguintes características, segundo dados oficiais do Ministério da Justiça: 7 664 estão internados em regime fechado (como no Instituto Padre Severino, na Ilha do Governador); 2 555 em regime provisório; 1 393 em semiliberdade e 19 099 em liberdade assistida, que ninguém sabe direito do que se trata, pois é fácil observar que eles voltam às ruas para os mesmos delitos, já que não há cuidados especiais do Estado com as causas que motivaram esse comportamento.
Como diria Machado de Assis, "no meu tempo já havia velhos, mas poucos". Os evangelhos usaram outra forma. Mais antigos do que Machado, eles não falam "no meu tempo", mas "naquele tempo". Naquele tempo, disse Jesus, naquele tempo um homem vinha de Samaria, naquele tempo, o rei Heródes mandou degolar as criancinhas.
Quando eu era rapazinho, creio que, em um ou dois filmes cuja ação se passava em Roma antiga e que durante um certo tempo eram muito comuns, vi algumas cenas em que dois patrícios romanos, com ar preocupado, falavam-se:
Acho que todos os brasileiros estamos sentindo uma espécie de complexo de Herodes; co-responsáveis nesse morticínio espantoso de recém-nascidos do qual diariamente jornais, radio e TV dão notícia.
Nos áureos tempos do cinema-novo, havia perplexidade entre as cultas gentes ligadas ao setor. Os mestres da câmara na mão e uma idéia na cabeça olimpicamente não entendiam como suas obras não alcançavam o grande público, que continuava preferindo filmes dos Trapalhões e Mazzaroppi.
Quarenta anos depois da morte de William Faulkner, anuncia-se no Brasil a publicação de um de seus primeiros escritos: uma série de 17 contos, de 1925, só recuperados em 1957, quanto Faulkner já conquistara o Prêmio Nobel de Literatura (atribuído em 1949 e recebido em 1950). Foram esses contos traduzidos agora no Brasil, com edição marcada para breve. Título original: "New Orleans Sketches", tradutor: Leonardo Fróes, edição da Jusé Olympio Editora.
Uma das coisas que me distraem, durante as campanhas eleitorais, é tomar conhecimento pelos jornais e TVs das comidas, petiscos e acepipes vários que os candidatos são obrigados a ingerir, metade por cortesia, metade por cálculo.
Sou leitora contumaz da seção de cartas de leitores dirigidas aos jornais. E tenho visto com freqüenta cartas de pessoas que voltam a defender a pena de morte. Isso me assusta, embora compreenda a revolta de muitos contra o atual estado de coisas: violência e morte em grau jamais alcançado entre nós.
Quem residiu no interior, conhece perfeitamente o diapasão cotidiano das conversas nas esquinas, nos bares e nos clubes, à noite. São sempre sobre política, sobre candidaturas, sobre este ou aquele candidato, se merece ou não o voto e, também, para ficar dentro da regra, falar mal da vida alheia, ainda que não seja nada ofensivo. Enfim, o interior do País, e os bairros populares, onde muitos se conhecem, as conversas não são diferentes.
Não é mais possível que se entenda e avalie a realidade da escravidão africana no mundo e no Brasil sem o extraordinário levantamento feito por Alberto da Costa e Silva no seu livro de mais de mil páginas, "A manilha e o libambo: a África e a escravidão, de 1500 a 1700". Antes havia ele estudado, em "A enxada e a lança", a mesma África no período que foi até a chegada dos portugueses ao continente negro.
Mal saído de uma gripe que colocou em risco minha condição de imortal da ABL, peguei um entupimento da trompa de Eustáquio que me causou vexames. Eu pensava que esta tal trompa desse tal Eustáquio fosse alguma coisa ligada ao aparelho genital feminino, daí minha surpresa quando o otorrino me garantiu que eu tinha uma, aliás duas, uma em cada ouvido.