
A criatividade num boteco do Leblon
Tu soube da ceguinha hoje, antes de você chegar? Foi espetacular.
Tu soube da ceguinha hoje, antes de você chegar? Foi espetacular.
Nos meus tempos de seminário, sempre que chegava a Páscoa, eu ficava impressionado com um hino composto por São Tomás de Aquino que era cantado, se não me engano, no Sábado de Aleluia. O chamado "Doutor Angélico" pode ser discutido como filósofo ou teólogo, mas como poeta, embora usando o latim corrompido da Idade Média, pode ser considerado como um dos mais perfeitos e um dos primeiros a usar a rima com a mesma precisão de Dante e Petrarca.
Não há dúvida que, na compreensão do que seja "defesa do meio ambiente" e do papel que nele cabe ao ser humano, houve notável progresso nos debates havidos sobre o tema, a começar por não mais se "encarar o homem como um ser vivo qualquer". Já agora se reconhece que "o homem é o principal sujeito do direito fundamental ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, mas não o único" (3/3 e 30/3).
"Mudou o Natal ou mudei eu?", já indagava o velho Machado, pergunta que se transformou quase em lugar-comum, de tanto ser invocada. Valho-me dela para recordar a Semana Santa. Nos meus tempos de infância ela era realmente de trevas. Da minha aldeia - e ninguém mais do que Faulkner e Górki, em visões diferentes, reteve na criação literária a carga de todo o seu significado -, a lembrança que tenho desses dias enevoados pelo tempo é da cor do roxo que cobria as imagens e do preto que vestia as mulheres.
Para T. S. Eliot abril era um mês cruel. Para o Stedile, em 2004 teremos um abril vermelho. O Brasil foi descoberto, segundo a marchinha de Lamartine Babo, num dia 21 de abril, três meses depois do Carnaval. Al Jolson cantou "April Showers". Dá para desconfiar que cada um tem o abril que merece e eu tenho o meu. Não sei em que ano - e desconfio que este abril ficou melhor assim, intacto no tempo, como aquele quarto do poeta no beco da Lapa.
Ninguém dúvida que uma reforma agrária é das tarefas mais difíceis que um governo encontra e não a cumpre completamente. Foi assim no passado, é no presente e será no futuro. Para começar, a dificuldade maior é o que apresenta o presidente Lula, que não sabe como sair dessa armadilha. Os líderes do Movimento dos Sem Terra, MST, são experimentados, têm coragem, são guevaristas, portanto revolucionários, capazes de incendiar o país para colocar algumas milhares de famílias nas terras que, de resto, já estão sendo vendidas para compradores de tendência revolucionária.
Algumas cabeças privilegiadas reuniram-se na Fecomércio-RJ para discutir o futuro do nosso Estado. Havia no ar uma perspectiva pessimista que se foi esvaindo à medida que o debate avançou. O Rio de Janeiro deixou de correr o risco de perder o segundo lugar na economia brasileira, com R$ 15 bilhões a mais do que o Estado de Minas Gerais. Sinal de bons tempos estimados, com um pormenor fundamental: o fenômeno não é simplesmente devido às ações da Petrobras, mas engloba uma série de outros feitos, de que é prova evidente a redução do desemprego.
Ainda bem que está acabando a onda de testemunhos e confissões sobre o movimento militar de 64. Um dos problemas da mídia, em geral, é não saber (ou não poder) dosar o tamanho e o grau desses aniversários redondos de fatos ou pessoas históricas.
Atualmente, o jornal Folha Dirigida é uma referência para professores e todos aqueles envolvidos ou interessados em educação. O maior responsável por isso é Adolfo Martins.
Reza a venerável sabedoria popular que, quando o destino nos traz um limão, devemos, em vez de reclamar, fazer uma doce limonada. Venho pensando nisso há tempos e creio que já estamos produzindo diversas limonadas, mas sem planejamento e coordenação adequados. É natural: certas coisas ficam tão patentemente à vista que não as notamos. Apegamo-nos, como está mais ou menos na moda dizer, a velhos paradigmas. Mas é necessário mudar, é preciso que removamos os véus antigos que nos toldam a vista, ou não chegaremos nem perto da prosperidade sempre almejada e perenemente adiada. Abandonemos pudores descabidos, que só fazem atrapalhar. O mundo de hoje, regido pelo mercado, impõe a revisão de valores anacrônicos, irrelevantes e aliados do atraso a que parecemos condenados.
O meu antigo moinho, na pequena aldeia dos Pirineus, tem uma fileira de árvores que o separa da fazenda ao lado. Outro dia, o vizinho apareceu: devia ter aproximadamente 70 anos. Volta e meia eu o via trabalhando com sua mulher na lavoura, e pensava que já era hora de descansarem.
A história, além de mestra, passou a ser, hoje, uma vitrine onde se pode acompanhá-la em tempo real. A primeira sensação que tive de ver a história, estar dentro do redemoinho do acontecer, foi com minhas visitas à União Soviética em 1988 e à Rússia em 2000. O território era o mesmo, as pessoas também, os anos bem próximos, mas tudo mudara e estava mudando. Dez anos antes a moeda era o rublo com a efígie de Lênin, em 2000 era a águia bicéfala, símbolo dos Romanov, malditos e assassinados, agora redivivos. A bandeira da foice e do martelo cedera lugar à bandeira tricolor do império e Nicolau 2º, canonizado pela igreja ortodoxa, é, agora, venerado nos altares. Lênin encontrei em um sósia, tirando fotografias com turistas por US$ 5.
Era imponente o tio Zé. Trabalhava a semana inteira, médico de clínica geral, dava três expedientes por dia. Pela manhã, o Hospital Miguel Couto, até o meio-dia. À tarde, o consultório particular em Botafogo, na rua Conde de Irajá, uma clientela miúda, mais para pobre do que para remediada. À noite, plantão numa Casa de Saúde da classe média, na Tijuca.
Um dos nossos orgulhos infantis é de nunca termos tido furacões, tornados, marés desencadeadas com ondas gigantescas, e, mais do que tudo isso, não temos vulcões, ao menos não foi descoberto até hoje um vulcão extinto. É uma felicidade, dirão os otimistas, é de regozijar, dirão outros, menos otimistas, porem realistas. O certo é que o Brasil tem sido poupado, a não ser com o El Niño, que fez devastações em nosso território, atingindo, evidentemente, a economia do país.
Qualquer relação entre Machado de Assis e a taxa de juros Selic pode parecer estranha, mas não é. Machadólogos, historiadores e economistas que me perdoem, mas pretendo demonstrar que o primeiro presidente da Academia Brasileira de Letras também pode ser chamado para dar sua opinião no debate sobre as taxas de juros hoje praticadas no Brasil.