
Mar aberto
Folha de São Paulo (São Paulo), em 20/03/2005Cena de um filme de Jacques Tati com a qual me identifico: num balneário de classe média, um executivo gordo e careca está boiando no mar, de óculos escuros para se proteger da luminosidade meridional.
Bush e os dois ocidentes
Jornal do Commercio (Rio de Janeiro), em 18/03/2005As declarações do começo da semana de Berlusconi a Bush foram peremptórias. A Itália sai, de vez, da ocupação do Iraque, em conseqüência do morticínio pelas tropas americanas do policial-chefe Calpari que cobriu com seu corpo as balas disparadas contra o carro que conduzia Sgrena ao aeroporto. O reconhecimento é claro, de parte do primeiro-ministro. Não podemos mais afrontar a opinião pública que deu honras de herói nacional frente ao Tabernáculo da Pátria, em Roma, ao protetor da refém italiana. É como se na percussão direta de um repúdio de fundo da dita "Velha Europa" se partisse o último elo, ainda, do liame do continente com a cruzada irrompida pelo 11 de setembro.
E o 15 que não é de Rachel?
Folha de São Paulo (São Paulo), em 18/03/2005Rachel de Queiroz marcou a literatura brasileira quando, com "O Quinze", entrou com todo vigor no grupo daqueles que Oswald de Andrade chamou de "os búfalos do Nordeste" -que invadiram a Semana de Arte Moderna com a temática da seca.
A face da festa
Folha de São Paulo (São Paulo), em 18/03/2005Tem vinte e três anos. Às vezes, parece ter menos. É magrinha, mas muito bem-feita de corpo. Mora longe, sei que dá duro para chegar ao trabalho, imagino que, quando volta para casa, às vezes tarde, indo em silêncio, no meio da noite, volta para um mundo que não é dela, nunca foi dela, nada parece mais dela, afinal, qual é a dela? Não me sinto confortável quando penso nisso: qual é a dela? A primeira constatação é simples: a dela é viver, ter direito à vida, à alegria e, a longo prazo, a um futuro.
Besteirol de escritor
Diário do Comércio (São Paulo), em 18/03/2005Vem dos Estados Unidos muito do que nos interessa na área da tecnologia e muito em baboseiras, que, infelizmente, são repetidas como se fossem verdades comprovadas.
FHC, Delfim e Lula
Folha de São Paulo (São Paulo), em 17/03/2005Semana passada, comentei a troca de críticas entre Lula e FHC, que não chega a ser ainda briga nem um rompimento formal. Sugeri que se desse um pau a cada um e que eles decidissem as divergências numa arena pública e com narração isenta do Galvão Bueno.
Moloch
Diário do Comércio (São Paulo), em 17/03/2005Está nas locadoras um filme com esse título de mitologia para designar Hitler e seus companheiros e pessoal burocrático da sua residência na montanha. Como sabem todos que se informam sobre os problemas do país e do mundo, uma estranha simpatia está aproximando o gângster da Segunda Grande Guerra da juventude européia. É um fenômeno que deve dar o que pensar aos dirigentes de países não só da Europa, como de outros continentes, inclusive o Brasil.
Os prêmios e a valorização do escritor
Jornal do Brasil (Rio de Janeiro), em 16/03/2005Um dos mais ameaçadores adjetivos que, de vez em quando, rondam a vida de um escritor é ''simbólico'', sobretudo quando antecedido das palavras ''cachê'', ''pro-labore'' e similares. Para as intervenções de outros profissionais na esfera da arte, costuma-se estipular um pagamento, maior ou menor, sem que seja necessário recorrer ao anteparo do famigerado adjetivo. Porém, a ''remuneração'' do escritor que participa de um evento (em que ele mesmo, não raro, é a principal atração) às vezes reduz-se a uma cama de hotel, a um café da manhã, a uns trocados para o deslocamento - e estamos conversados. Mal lido e não pago, o autor brasileiro encontra poucos estímulos para a difusão e o conseqüente reconhecimento de sua obra, a partir da própria desconsideração e do viés amadorístico com que seu ofício é tratado.
Lula e os leões
Folha de São Paulo (São Paulo), em 16/03/2005Não tenho certeza, mas acho que entre as leituras de Lula ao longo da vida, está o "Tartarin de Tarascon", de Alphonse Daudet, uma das obras-primas que até hoje me encanta quando estou triste, triste de não ter jeito.
A volta de Marta
Diário do Comércio (São Paulo), em 16/03/2005Até há muito pouco tempo, o que se falava sobre a sucessão estadual era especulação, uma prática corrente nas colunas políticas da mídia impressa.
Precisa-se de um milagre na educação
O Globo (Rio de Janeiro), em 15/03/2005O MEC, ao longo da história, sofreu todo tipo de influência. Quando era moda apresentar soluções de direita ou de esquerda, divertimo-nos bastante com idéias até generosas, mas que não entraram no domínio objetivo da prática.
Permanência de Jorge
Tribuna da Imprensa (Rio de Janeiro), em 15/03/2005Tenho para mim que três narrativas mais ou menos curtas serão, daqui a alguns séculos, consideradas típicas do clímax que a ficção em prosa alcançou, como sucessora do poema-que-conta-história, no período que veio de Tolstoi aos dias de agora. São "A morte de Ivan Ilyitch", do próprio Tolstoi, o "Velho e o mar", de Ernest Hemingway, e "A morte e a morte de Quincas Berro D'água", de Jorge Amado.
O demônio de Garanhuns
Folha de São Paulo (São Paulo), em 15/03/2005Não sei não, mas o presidente da República que mais mudou ministério foi JK. Dizia ele que não tinha compromisso com o erro: quando sentia que um ministro ou auxiliar não estavam dando conta da tarefa que lhe atribuíra (ele tinha 30 metas a cumprir), o mundo podia vir abaixo, mas ele substituía o ministro que não estivesse sintonizado com o seu ritmo de trabalho e as suas prioridades.
Sucessões familiares
Diário do Comércio (São Paulo), em 15/03/2005Está se tornando regra no Brasil a contratação, pelas empresas, de administradores profissionais. São, em geral, administradores de empresas egressos da Fundação Getúlio Vargas ou de diferentes escolas, pois há muitas, recebendo, todos os anos, numerosos candidatos a futuros bons empregos.