
O pátio da língua
Jorge Luis Borges flagrou o paradoxo de que os escritores mais representativos de cada país tinham poucas características do seu povo. E alude na Inglaterra a Shakespeare, por sinal espalhafatoso, mais italiano ou judeu no temperamento do que inglês. E o tolerante Goethe, com sua frieza, imensa racionalidade, no que tange ao conceito de pátria, anti-passional, nada tinha de alemão. E Victor Hugo com seu jogo metafórico e as avalanches de hipérboles nada possui do cartesianismo francês. Muito menos o satírico e sapiente Cervantes , contemporâneo da Inquisição , pouco guarda da Espanha. E para ampliar essa galeria, o nosso Machado de Assis, com sua contenção de estilo, sua mordaz ironia, filho de Sterne, parece ter mais nascido em alma na Inglaterra que no tropicalismo brasileiro.