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Artigos

 
  • O Dr. Alceu, a abadessa e a posteridade

    Faleceu em 1º de julho a madre abadessa Maria Teresa, da Ordem de São Bento, filha de Alceu Amoroso Lima. Não temos, talvez, na nossa história contemporânea, diálogo cultural entre duas gerações que nos tenha permitido o dia a dia único, por mais de meio século, do primeiro dos católicos brasileiros. A interlocução com a abadessa, na multiplicidade das anotações recíprocas, garante-nos, hoje, a reconstrução do pensamento de Tristão, na conversa diária com Lia, a sua Tuca. Dá-nos, na sua vastidão, a perplexidade e a coragem, ao mesmo tempo, com que se interroga sob os seus deveres da militância da fé, em todo esse longuíssimo périplo.Desde a conversão, por Dom Leme, na sequência da correspondência com Jackson de Figueiredo, em 1928, até se ter transformado no primeiro dos combatentes, pela imprensa, contra o governo militar.

  • Crime hediondo

    A boa notícia para o ex-ministro Luiz Gushiken, que foi retirado pelo procurador-geral da República, Roberto Gurgel, do rol dos acusados pelo mensalão, é uma má notícia para José Dirceu, outro ex-ministro de Lula, confirmado como "chefe da quadrilha" montada a partir do Palácio do Planalto para comprar apoio político no Congresso.

  • Processo pervertido

    As recorrentes crises políticas que temos vivido, com escândalos e denúncias de corrupção em vários escalões do governo, antes de ser uma condenação definitiva do sistema de coalizão partidária que adotamos, é a demonstração de que houve uma "depravação do processo", na análise do cientista político Sérgio Abranches. Em um estudo de 1988, ele cunhou a definição de "presidencialismo de coalizão" para nosso sistema de governo.

  • Deve ser tudo para nosso bem

    As notícias voam por todos os lados e, como é natural, em torno delas adejam boatos, interpretações e ações, estas às vezes bastante inesperadas, ou pelo menos surpreendentes. Obtive entrevista exclusiva com Zecamunista, na qual surgiram diversas revelações que talvez não tenham chegado a vocês. Zeca só sai da ilha para suas turnês de alto carteado, mas é muito bem informado e tem acesso a fontes reservadíssimas. Achei-o no bar de Espanha, encerrando uma pequena alocução sobre o tema "vergonha na cara".

  • O hífen nas formas reduzidas

    Um colega, leitor desta coluna, nos enviou a seguinte pergunta: "Em conformidade com a lição expressa na Base XV do novo Acordo, pela qual se usará o hífen nos casos em que o primeiro elemento do composto (um substantivo ou adjetivo) pode apresentar-se sob forma reduzida como 'és-sueste' [por 'este-sueste']; 'bel-prazer' [por 'belo-prazer'], o mesmo princípio não se estenderia às formas não hifenadas registradas no Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa (Volp) 'fotorreportagem' ['foto' por 'fotografia'], 'autoestrada' ['auto'por'automóvel'], 'cineteatro' ['cine' por 'cinema']?" Se vale a comparação, por que estas últimas não se grafarão com hífen?

  • Um futuro sem esquerdas

    Não nos damos conta, possivelmente, dos efeitos inéditos das atuais perplexidades dos avanços democráticos sobre as velhas certezas de que um regime de liberdades aprimora a normalidade social e a busca de consensos coletivos. E é em tal quadro que se pode associar, sempre, também, democracia e mudança, como exigência do bem-estar coletivo. Não é outra a perspectiva sempre de uma esquerda, na sua ruptura com o status quo, e na luta contra os conservatismos, interessados no já conquistado e na manutenção de seus privilégios. O que mostram os nossos dias é a falta de alternativa de futuro num pensar-se, de fato, a mudança e a esquerda que a encarna.

  • Vogais e questões de pronúncia

    Estudiosa e competente professora do nosso idioma, antiga aluna de Joaquim Mattoso Câmara, que marcou lugar definitivo como o primeiro e magistral linguista de língua portuguesa, estranhou que classificássemos como ditongos, e não como hiatos, os encontros vocalicos das palavras 'dieta', 'miolos', 'miudeza', 'suéter', 'sueco', 'dual'.

  • Estão querendo enganar quem?

    Li em algum jornal que a Fifa, essa organização da qual volta e meia se evola um odorzinho de mutreta, que lida com cachoeiras de dinheiro, cujas decisões são às vezes vistas como fruto de processos viciados e que, enfim, não é nenhuma casa pia, ameaçou fazer a Copa de 14 na Espanha, se as obras aqui não forem apressadas – ou até mesmo iniciadas, como dizem que é o caso de muitas. Por artes do caprichoso destino, isso pode interessar à Espanha, que tem estrutura e está pendurada. Pode interessar a toda a Europa, aliás, devido ao reflexo dos problemas espanhóis na economia do euro. E talvez o Brasil nem conseguisse ir aos jogos, porque os espanhóis poderiam aparelhar os aeroportos para otimizar sua já tradicional deportação de brasileiros.

  • O pátio da língua

    Jorge Luis Borges flagrou o paradoxo de que os escritores mais representativos de cada país tinham poucas características do seu povo. E alude na Inglaterra a Shakespeare, por sinal espalhafatoso, mais italiano ou judeu no temperamento do que inglês. E o tolerante Goethe, com sua frieza, imensa racionalidade, no que tange ao conceito de pátria, anti-passional, nada tinha de alemão. E Victor Hugo com seu jogo metafórico e as avalanches de hipérboles nada possui do cartesianismo francês. Muito menos o satírico e sapiente Cervantes , contemporâneo da Inquisição , pouco guarda da Espanha. E para ampliar essa galeria, o nosso Machado de Assis, com sua contenção de estilo, sua mordaz ironia, filho de Sterne, parece ter mais nascido em alma na Inglaterra que no tropicalismo brasileiro.   

  • O Poema Vésper de Eminescu

    Ouvi na Romênia um adágio que dizia “a casa que morei em criança hoje me habita”. E de pronto lembrei-me do poema de Jorge Cooper, que dizia melhor “a casa em que morei quando menino hoje em dia mora em mim”. E me pareceu de tal modo acertado que o reportei num velho livro de lembranças.

  • Desafios ao Brasil

    O meu amigo Luiz Gonzaga Bertelli, presidente executivo do CIEE/SP, chama a atenção para a qualidade do livro “Desenvolvimento e perspectivas novas para o Brasil”, da Cortez  Editora, escrito pelo professor Márcio Pochmann, da Unicamp, que é presidente do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA).

  • Primavera árabe e reversão democrática

    A multidão da Praça da Catalunha, em Barcelona, e da Praça Real, em Madrid, nos dois últimos meses, manifestou uma revolta profunda com os procedimentos democráticos tradicionais para o avanço das liberdades do bem-estar do nosso tempo. Põe em causa, e imediatamente, o fracasso das mediações políticas vividas pelo Ocidente desde a Revolução Francesa e Americana. Retoma-se o questionamento de si, as maiorias congressais exprimem um conformismo dominante, e, por aí, as visões da mudança exigem a presença contínua das minorias na decisão política. Tal, sobretudo, quando a opinião pública ou a comunicação social expõem-se aos controles midiáticos ou, sobretudo, ao tribalismo da internet e das novas sociedades fechadas, no intercâmbio desses grupos e de sua visão da realidade. Antes de se esvaziar, a Praça da Catalunha constituiu-se em grupos e subgrupos, divididos não só entre as prioridades de um que fazer, mas sob a própria dúvida da chegada a qualquer consenso. Ou, mais ainda, à visão ampla das contradições em que irrompe a nova década.  

  • A corrupção democrática

    Recém-chegado de uma turnê de carteado em que tomou o dinheiro todo de uns magnatas de Nazaré das Farinhas, Zecamunista não estava sendo esperado no bar de Espanha naquela hora. Mas, novamente consagrado pela glória do pano verde e de excelente humor, resolveu aparecer, para mandar baixar umas cervejas por sua conta e se inteirar das novidades. Qual era o tema em pauta?